Beverly Moore
Costumo aconselhar mulheres e tenho identificado alguns temas que são mais frequentes entre as lutas que minhas aconselhadas enfrentam. Embora as mulheres lutem bastante com medo, ansiedade, ira, depressão e sofrimento, muitas delas lutam com o desejo de estar no controle de pessoas e situações.
De onde veio esse desejo?
O desejo de estar no controle é tão antigo quanto Gênesis 3. Em Gênesis 2, Deus uniu Adão e Eva, e “o homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam vergonha” (Gn 2.25). Eles não sentiam nenhuma vergonha nem medo de julgamento, não havia conflitos, mas, sim, unidade e harmonia. No entanto, no versículo seguinte, lemos sobre uma serpente, que chegou e começou a fazer perguntas provocativas para Eva na tentativa de transtornar seu mundo. A primeira pergunta foi: “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’?” (Gn 3.1). Satanás questionou se haviam sido aquelas as exatas palavras de Deus e, com isso, as motivações de Deus. Essas perguntas marcaram o início da queda de Eva, e é assim que o inimigo ainda costuma nos tentar.
A serpente apresentou, em seguida, a primeira mentira, a mesma que costuma dirigir também a nós: “Certamente não morrerão!” (Gn 3.4). Em outras palavras, Satanás nos diz que não há consequências para a desobediência.
As palavras que vieram logo a seguir devem nos colocar em alerta: “Deus sabe que…” (Gn 3.5). Com essas três palavras, Satanás colocou Deus em descrédito, acusando-o de reter o bem de Seus filhos e tentando Eva a questionar a bondade e o caráter de Deus. Satanás estava dizendo a Eva que Deus a estava enganando e que ela não ficaria plenamente satisfeita até ser como Deus, conhecedora do bem e do mal. Ela não deveria confiar em Deus para definir o bem e o mal para ela, mas precisaria ser capaz de fazer isso por si mesma. Só assim ela poderia estar no controle!
Por que queremos controlar?
Nada mudou desde então. Em nosso orgulho ansiamos ainda hoje por estar no controle, e compramos a mentira de Satanás de que podemos por nós mesmas definir o bem e o mal. Em Gênesis 3.16, Deus disse a Eva: “Seu desejo será para o seu marido, e ele a dominará”. Parte do resultado da maldição do pecado é essa luta, ainda em curso, na qual as esposas querem estar no controle.
De modo geral, pensamos que estar no controle tornará a vida muito melhor. Queremos decidir o que é melhor para nós. Queremos definir o que é bom e o que é ruim, e queremos que a vida gire em torno de nós mesmas e de nossos desejos. Afinal, veja quão difícil nossa vida muitas vezes é com as pessoas que temos ao redor e as circunstâncias que enfrentamos – cônjuges, filhos, sogros, chefes e colegas de trabalho que não cooperam conosco, trabalhos que não nos satisfazem, contas sem fim para pagar, problemas de saúde e muito mais detalhes que complicam nossa vida e nos roubam a alegria que acreditamos que teríamos se pudéssemos dar as cartas.
Qual é o problema?
Nós nos deixamos enganar, não só pelo inimigo, mas também pelo nosso próprio coração (Jr 17.9). Acreditamos que ter controle nos daria a paz, a segurança, o poder, o conforto, o alívio ou o respeito que o nosso coração deseja. Acreditamos que aquilo que desejamos é o melhor para nós.
No entanto, não sabemos o que de fato é melhor para nós porque não somos o Criador. Em Sua sabedoria, soberania e amor, Deus pondera o que é melhor para nós nos relacionamentos e nas circunstâncias que Ele permite em nossa vida, mesmo que algumas delas possam ser realmente difíceis. Deus faz isso por uma razão específica: conformar os Seus filhos à semelhança do Senhor Jesus Cristo enquanto Ele nos prepara para passarmos a eternidade com Ele (Rm 8.28, 29).
Morrer para o desejo de estar no controle não é fácil nem é uma decisão “única e definitiva”. É uma decisão constante de reconhecer que não somos Deus, não temos o controle e, na verdade, não seria bom para nós estar no controle, pois não possuímos a infinita sabedoria de Deus.
Confiar em Deus pode parecer arriscado porque Ele nem sempre nos dá pistas sobre o que está para acontecer nem revela as razões pelas quais Ele permitiu certas dificuldades em nossa vida. Ao contrário de Eva, porém, precisamos acreditar em Deus e obedecer a Ele, mesmo quando a vida é difícil e não avistamos um alívio.
Como ajudar as aconselhadas
Para ajudar minhas aconselhadas, costumo explicar que estar no controle é uma ilusão. Não temos o controle em nossas mãos nem estaremos no controle. O desejo de estar no controle é loucura. O único controle que podemos ter é o autocontrole, e mesmo assim ele é fruto do Espírito Santo atuando em nós (Gl 5.22, 23).
Em segundo lugar, costumo explicar que confiar em Deus em meios às nossas circunstâncias e nos relacionamentos é algo crucial. Deus é sábio, Deus se importa e Ele tem um plano. Ele se dispôs a entrar em nosso mundo e sofrer como nós sofremos (Hb 2.14-18), tendo como propósito expresso torna-se nosso Sumo Sacerdote misericordioso e gracioso a quem devemos recorrer em momentos de necessidade (Hb 4.16). O plano de Deus talvez não se pareça com o nosso plano, mas podemos ter certeza de que o plano de Deus é o melhor para glorificá-lO e cumprir os Seus bons propósitos para nós.
Por último, agradar a Deus é o alvo da nossa vida (2Co 5.9). Quero que minhas aconselhadas aprendam a ver a vida pela perspectiva de Deus. As circunstâncias difíceis devem ser vistas como oportunidades que Ele nos dá para testemunhar do Seu caráter diante de um mundo pagão (Mt 6.31-34). Quero que elas tenham certeza de que Deus providenciou tudo aquilo de que elas precisam para glorificá-lO e honrá-lO em quaisquer circunstâncias que se encontrem (2Pe 1.3, 4).
Concluindo, minhas aconselhadas devem manter o foco na eternidade:
Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, 17pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. 18Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno. (2Co 4.16-18).
Deus nos chama para viver com o coração totalmente comprometido com Ele e Seu reino, não com nosso reino.
Para pensar
Você luta para estar no controle?
Em quais áreas essa luta se manifesta em sua vida?
Em quais aspectos a sua maneira de pensar precisa ser transformada pela Palavra de Deus?
Original: The illusion of control
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition