As outras 167 horas: uma cartilha sobre as tarefas de casa no aconselhamento bíblico

Robert Jones

Embora não seja algo exclusivo da nossa abordagem de aconselhamento, os conselheiros bíblicos costumam valorizar a prática de pedir que os aconselhados façam tarefas de casa – ou seja, atividades para fazer entre os encontros – com o propósito de ajudá-los a crescer em Cristo durante as 167 horas que antecedem o encontro da semana seguinte. A tarefa é parte essencial da nossa metodologia de aconselhamento. Vamos considerar aqui cinco perguntas corriqueiras sobre o uso das tarefas no aconselhamento.

Pergunta 1: Por que devemos dar tarefas?
Em primeiro lugar, as atividades que visam o crescimento direcionam nossos aconselhados para as Escrituras, e para recursos baseados nas Escrituras, de modo que eles possam ver a Deus e a si mesmos biblicamente e, consequentemente, possam responder com mudança agradável a Deus. As pessoas crescem quando descobrem por si mesmas as verdades transformadoras da Palavra de Deus.

Além disso, as atividades que visam o crescimento estendem o foco do encontro para o cotidiano da pessoa. Um encontro de uma hora não é suficiente; a tarefa de casa reforça e aplica o conteúdo do nosso encontro. Um paciente que vai ao médico pode se sentir encorajado por receber a prescrição de um medicamento, mas ele não ficará mais saudável do que estava antes de ir ao consultório até que comece a tomar o remédio.

A tarefa de casa pode ter também o propósito de preparar nosso aconselhado para onde planejamos caminhar no encontro seguinte. Por exemplo, se estivermos pensando em tratar no encontro seguinte a questão dos conflitos interpessoais, podemos pedir à pessoa que memorize Tiago 4. 1, 2, e medite nesse texto em preparo para o encontro.

Por último, as atividades que visam o crescimento colocam a responsabilidade pela mudança no aconselhado, e não em nós. Quando fazemos da tarefa de casa uma parte vital do nosso processo de aconselhamento, não apenas um complemento opcional, minimizamos a possibilidade de que o aconselhado desenvolva conosco um relacionamento de dependência. O médico pode prescrever, mas não pode tomar a medicação pelo seu paciente.

Pergunta 2: Que tipo de tarefa devemos dar?
Como conselheiros, devemos determinar quais tarefas específicas podem ser de maior benefício para determinado aconselhado em determinado momento. Considere este menu de categorias entre as quais escolher:

•• Versículos bíblicos para ler, memorizar e/ou estudar. Obviamente, os conselheiros bíblicos sempre incluem elementos desta categoria.

•• Leitura e indicação de livros com boa base bíblica, capítulos de livros ou livretos e outros recursos do gênero, sempre levando em conta a capacidade de leitura do aconselhado, e incluindo anotações e aplicações específicas.

•• Recursos em formato de áudio ou vídeo, baseados na Bíblia (por exemplo, sermões e música), para ver e ouvir.

•• Oração, seja como uma tarefa específica (por exemplo, um diário de oração) ou em conjunto com as atividades propostas acima. Não devemos nos contentar com uma versão “biblicizada” da terapia cognitivo-comportamental, que meramente chame os aconselhados a pensar e agir biblicamente, mas negligencie a necessidade vital da comunhão viva com Cristo e da obra transformadora de Seu Espírito.

•• Participação nos cultos da igreja local, grupos de estudo bíblico e grupos pequenos.

•• Definição de passos concretos para dar — por exemplo, visite seu pai, ligue para seu amigo, entre em contato com seu médico, venda determinada coisa ou coloque seu o alarme para despertar.

•• Convite para que um amigo do aconselhado, do mesmo sexo, ou um casal cristão maduro na fé, junte-se a ele nos encontros para lhe dar apoio, e proporcionar prestação de contas e encorajamento em oração.

Para cada tarefa, devemos especificar o que o aconselhado deve fazer para que aconteça uma aplicação concreta à sua vida. Por exemplo, “Escreva e fale com Deus sobre três pontos destacados no capítulo três deste livro” ou “Fale com seu pastor durante a semana sobre o que é preciso você fazer para participar de um grupo pequeno”.

Pergunta 3: Como devemos apresentar a tarefa?
Considere três etapas simples, que têm lugar perto do final do nosso encontro:

1) Pergunte: “Posso lhe dar algo para você fazer durante a semana e que, a meu ver, irá ajudá-lo?”

2) Passe a tarefa: “Vou lhe pedir, em primeiro lugar, para ler …” Enquanto você descreve a tarefa, escreva aquilo que está pedindo. Se for necessário, dê uma cópia da sua anotação para o aconselhado ou envie pela internet.

3) Assegure-se de que o aconselhado compreendeu a tarefa e concorde com fazê-la: “O que você acha dessa tarefa? Ela faz sentido para você? Ela parece viável?”.

Pergunta 4: Quando devemos conversar sobre a tarefa de casa no encontro seguinte?  
No início do encontro seguinte, ou logo após o início, costumo perguntar: “Você teve a oportunidade de fazer a tarefa de casa? Podemos conversar sobre isso?”. Perguntar brevemente sobre cada item completado, e sobre seu benefício para o aconselhado, sublinha a importância da tarefa de casa, mesmo quando for preciso nos concentrar seletivamente apenas em alguns itens específicos mais pertinentes ao encontro do dia. 

Pergunta 5: Como devemos agir se o aconselhado não fizer a tarefa?
O aconselhamento nem sempre progride conforme gostaríamos. Como devemos lidar com os aconselhados que deixam de fazer a tarefa de casa sem que haja uma razão legítima para isso?

Na primeira ocorrência, costumo perguntar gentilmente o que aconteceu e relembrar a importância de fazer a tarefa, visto que Deus a usa como instrumento de ajuda entre os encontros. Verifico novamente o quanto o aconselhado compreendeu a tarefa e se ele está comprometido com fazê-la, e o encorajo a fazer para o encontro seguinte.

Na segunda ocorrência, volto a relembrar a importância da tarefa e os demais considerações. Em seguida, costumo perguntar: “Como esta é a segunda vez que você não consegue fazer sua tarefa, você pode me ajudar a entender qual foi sua intenção e o que aconteceu com a tarefa de casa?”. Quero discernir se o aconselhado planejou, de fato, fazê-la e como seu plano falhou. Posso voltar a usar a analogia da consulta médica e me colocar no papel do médico que prescreve uma medicação, mas o paciente não a toma e volta a expor os mesmos sintomas na consulta seguinte.

Na terceira ocorrência, volto a relembrar a importância da tarefa e a investigar por que o aconselhado não a fez. Desta vez, porém, eu o lembro de que a tarefa de casa é parte essencial do processo de aconselhamento e digo: “Você pode ir para a sala ao lado e fazer a tarefa agora, durante o tempo em que teríamos nosso encontro. Outra possibilidade é terminarmos agora nosso encontro, e você pode ir para casa e fazer a tarefa durante a semana; quando ela estiver concluída, você pode me avisar para agendarmos nosso próximo encontro”. Em outras palavras, a tarefa de casa é, de fato, parte essencial do processo de aconselhamento.

Conclusão
Em minha experiência ministerial, poucos fatores predizem o crescimento do aconselhado e uma conclusão satisfatória do caso melhor do que a realização das tarefas de casa. E isso, por sua vez, requer que elaboremos com cuidado as tarefas que damos.

Pergunta para reflexão
Como você poderia aumentar a eficácia do uso da tarefa de casa nos aconselhamentos que você faz?
Converse com outros conselheiros bíblicos que você conhece, pois eles podem contribuir com novas ideias.


Original: The other 167 hours: a primer on assigning homework
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition