Steve Hoppe
Você abre a porta do seu escritório, dá uma olhada na sala de espera, e vê o aconselhado marcado para as três horas da tarde sentado ao lado da mãe. Ele é um garoto de 16 anos de idade, com jeans rasgados, tênis sujos e a cabeça raspada. Você se aproxima e estabelece contato visual com a mãe dele. Ela se levanta para cumprimentá-lo com um sorriso entusiasmado. O menino se levanta relutante, acena com a cabeça para você e o acompanha em direção ao seu escritório com uma expressão de apatia irreverente estampada no rosto. E o aconselhamento começa!
O assunto? Pornografia.
O garoto foi pego com imagens pornográficas em seu celular, e os pais querem que você o faça abandonar isso. O que fazer? Como aconselhar esse garoto?
Você deve começar por conhecer seu aconselhado. Ele é um adolescente, não é um homem casado de meia-idade nem um adulto solteiro em seus 24 anos de idade. Que diferença isso faz?
De que maneira os adolescentes são singulares?
Ao aconselhar um adolescente viciado em pornografia, você deve estar ciente de alguns possíveis pontos que jogam contra você e podem impedir o progresso no aconselhamento.
•• É provável que ele não quisesse estar ali. Pense nisso… quando você estava no segundo ano do ensino médio, você gostaria de falar sobre um problema de pornografia com um estranho, sabendo que sua mãe está à espera na sala ao lado? O mais provável é que o garoto preferisse estar em qualquer outro lugar, menos em seu escritório nesse momento.
•• A diferença de idade. Você se lembra de como era desconfortável ouvir seus pais falarem sobre sexo? O aconselhamento pode ser ainda mais desconfortável para o adolescente. Ele não apenas tem que ouvir você — uma extensão de seus pais—falar sobre sexo, mas ele tem que falar sobre sexo. Não apenas sobre sexo, mas também sobre masturbação. Creia em mim, a única pessoa com quem ele iria querer falar sobre sexo e masturbação é um amigo com a mesma idade dele, não você.
•• A falta de consequências concretas imediatas. Se um homem casado for viciado em pornografia, é provável que seu vício esteja destruindo o casamento e a família. Se um jovem adulto solteiro for viciado em pornografia, é provável que seu vício o esteja impedindo de ter um relacionamento de namoro saudável e uma futura esposa. No entanto, se um adolescente for viciado em pornografia, o mais provável é que a única consequência concreta imediata seja o constrangimento de ser pego por seus pais. Esta não é uma razão forte o suficiente para fazê-lo parar.
Ainda que você tenha esses pontos em seu desfavor, também existem oportunidades únicas para o conselheiro que trabalha com um adolescente.
•• Modelagem. O adolescente que está em seu escritório é um jovem. Seu cérebro e seu coração ainda estão em estágios iniciais de formação espiritual, social e sexual. Ele é maleável. O seu interior será moldado por uma das duas coisas — o mundo ou a Palavra de Deus. Você tem a oportunidade de moldá-lo pela Palavra de Deus.
•• Efeito dominó. Os adolescentes interagem diariamente na escola com dezenas de outros adolescentes. Simplificando, o círculo de influência desse garoto é enorme. Conduzi-lo para a liberdade da pornográfica pode ser o catalisador para que muitos outros adolescentes também sejam libertos.
•• A falta de consequências concretas imediatas. Sim, sei que eu já coloquei isso na lista dos aspectos que jogam contra você. No entanto, a falta de consequências imediatas perceptíveis também pode permitir que você concentre seu tempo em como atingir o coração do adolescente, ao invés de lidar com os incêndios circunstanciais que o vício em pornografia costuma causar na vida dos adultos. Em outras palavras, não há uma esposa chorando ao lado dele. Também não há alguém pedindo que ele renuncie a um cargo de liderança na igreja. Tudo o que você tem é um adolescente, um coração a ser tratado, e muito trabalho a fazer para alcançá-lo.
O que não dará certo?
Inicialmente, vamos já descartar e substituir algumas técnicas improdutivas no aconselhamento de um adolescente viciado em pornografia.
•• Sim, haverá um silêncio constrangedor na sala — ele é um garoto adolescente. Ao invés de preencher esse silencio constrangedor com um sermão, faça perguntas. Disponha-se a conhecê-lo. Transforme as perguntas em conversa. Seja divertido. Seja criativo. Faça de tudo, mas por favor não pregue um sermão.
•• É provável que o adolescente veja o aconselhamento como uma punição por ele ter sido pego na pornografia. É quase certo que ele esteja esperando que você lhe diga o quão desprezível ele é. Você tem, então, uma oportunidade não só de falar, mas de exemplificar a graça de Cristo para um garoto que talvez nunca antes vivenciou tal graça.
•• Embora existam obviamente exceções, a maioria dos adolescentes não está preparada para analisar sistematicamente as incompreensíveis complexidades de seu coração e sua mente, nem está disposta a permitir que um estranho faça isso. Se você quer se aprofundar nas raízes físicas, emocionais, sociais, mentais e espirituais do vício em pornografia — o que eu recomendo fortemente que você faça — é preciso que você seja pouco ortodoxo e muito criativo e discreto ao fazê-lo.
O que dará certo?
Não existe uma fórmula para aconselhar um adolescente viciado em pornografia. No entanto, deixo aqui algumas dicas.
•• Não, você não é o melhor amigo desse garoto. No entanto, você precisa se tornar, no mínimo, um amigo para que ele confie em você. Conheça o garoto em outros aspectos que não apenas seu vício em pornografia. Pergunte sobre seus amigos, a família, a escola, seus interesses e atividades. Deixe que ele faça perguntas sobre você. Seja modelo de transparência com suas respostas. Faça com que ele se sinta confortável e aceito. Só assim você terá a chance de alcançá-lo.
•• Embora as restrições externas nunca impeçam completamente um adolescente de acessar conteúdo pornográfico, é importante protegê-lo de tentações desnecessárias. Trabalhe com seus pais para colocar algumas barreiras como tirar o uso livre do smartphone e ter certeza de que seu computador seja usado em um espaço público da casa. Se possível, sugira que coloquem um programa de controle de acesso em todos os seus dispositivos eletrônicos. Seja incisivo em estabelecer as cercas. Ele irá odiá-las, mas elas são para a proteção dele.
•• Leve o adolescente a sentir temor diante da realidade da pornografia. Espere, será que o medo não é uma má motivação para buscar a santidade? Nem sempre. É bom gerar no adolescente um temor saudável com relação à pornografia. Por quê? A pornografia é assustadora! Ela destrói vidas. Ela corrompe o cérebro e o coração. Ela destrói casamentos. Ela faz com que as futuras esposas chorem. O adolescente deve temer isso.
•• Evidentemente, a única coisa capaz de mudar o coração desse garoto é um rico relacionamento com Jesus Cristo. Fale sobre Jesus muito mais do que você fala sobre a pornografia. Ore com o garoto e confie que o Espírito Santo usará suas orações para quebrantar aquele coração em direção a Cristo. Trabalhe para substituir sua afeição pela pornografia por uma profunda afeição por Jesus.
•• Dê a ele algo maior para esperar se ele escolher viver longe da pornografia. Dê a visão de uma noite de núpcias imaculada e inigualável. Pinte uma bela imagem do sexo de acordo com o plano de Deus, no contexto de seu futuro casamento. Por fim, aponte para a vida eterna, além da existência aqui na terra, quando o sexo será desnecessário por causa da alegria que ele provará no céu.
Observações finais
Aconselhar um adolescente viciado em pornografia é uma tarefa difícil. Não há maneira definida para fazê-lo. A taxa de sucesso nem sempre é alta. No entanto, isso não diminui a importância da tarefa. Você estará moldando a trajetória de vida desse adolescente no que diz respeito ao sexo, de agora até a idade adulta. Você estará ministrando não só a ele, mas também a seus amigos e à futura esposa. Você estará pavimentando o caminho para uma vida de liberdade na área sexual. Por fim, você estará conduzindo esse adolescente a Jesus, o Único que pode torná-lo verdadeiramente livre.
Você está disposto a cumprir obedientemente a tarefa?
Original: Counseling Teens Hooked on Porn
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition
Tradução: Carla Silva
Revisão: Conexão Conselho Bíblico
Conexão Conselho Biblico 