Edward Welch. Hábitos escravizadores

Os hábitos fazem parte do nosso dia a dia. Os bons hábitos nos ajudam, enquanto que os maus hábitos — por exemplo, responder antes de ouvir bem o que a outra pessoa está dizendo — prejudicam-nos nas diversas áreas da vida. Mas o que dizer dos hábitos escravizadores? Eles são mais comumente identificados na nossa cultura como vícios ou, atualmente, pela palavra adicção

No entanto, a pergunta que muitos fazem é: Será que a Bíblia realmente fala sobre essa questão? Afinal, as palavras vício e adicção não são encontradas na Bíblia, e na época em que ela foi escrita não se tinha o conhecimento científico atual. Como, então, a Bíblia pode dizer algo que vale a pena considerar sobre a natureza e o tratamento do vício ou adicção? Edward Welch não só acredita que a Bíblia aborda a questão, mas acredita que ela é a melhor ferramenta para nos ajudar a entender e lidar com o problema, embora isso possa parecer radical para alguns.

Corretamente entendida, a Bíblia deve sempre parecer radical, deixando-nos perplexos e um pouco desestabilizados. Na verdade, uma perspectiva cristocêntrica acerca do vício deveria ser totalmente revolucionária. Vivemos em uma cultura em que a teoria e a linguagem sobre o vício são controladas, atualmente, por categorias seculares. Termos como doença, tratamento, e mesmo vício nos levam à ideia de que estes problemas têm sua causa final no corpo ao invés de na alma – uma visão comumente aceita e que é completamente oposta ao ensinamento bíblico. p. 16

O prefácio da edição brasileira da obra de Edward Welch aponta para os dilemas atuais e resume, em poucas palavras, o que podemos esperar da leitura do livro:

Vício é urna palavra “marota”, pois, a julgar pelo que temos ouvido e lido, nos remete mais à herança genética, histórico de família, ambiente, fisiologia, do que ao relacionamento do homem com Deus. […] Neste livro, o Dr. Edward Welch trata da questão do vício por uma perspectiva bíblica que é ao mesmo tempo profunda e equilibrada. Ele nos redireciona de um entendimento puramente horizontal da experiência com o vício, isto é, do homem para com aquilo que o domina, para urna perspectiva vertical, do homem para com Deus. Desta maneira, o vício ganha novos contornos, novos entendimentos e novas maneiras de tratá-lo. Ele tira os nossos olhos de vícios corno sendo apenas aquilo que nos domina quimicamente e lança novos olhares sobre apalavra definindo-a como “desejos intensos” sejam eles quais forem, por chocolate, exercícios físicos, compras, ira, TV, mentira, sucesso, etc. O resultado é que vício, na abordagem do autor, é em sua essência idolatria e, portanto, relaciona diretamente o homem a Deus. Nesse sentido, urna vez que vicio está inseparavelmente ligado ao relacionamento do homem com Deus, a solução para o seu problema passa pela cruz de Cristo, pela Palavra de Deus, por submissão, entrega pessoal ao Senhor e renúncia. p. 13, 14

O conteúdo do livro está dividido em duas partes. Na Parte 1, Ed Welch ajuda o leitor a ver os vícios através das lentes de uma cosmovisão cristã. Ele identifica o vício como um transtorno de adoração, relacionado a um desejo idólatra de adorar a si mesmo em vez de adorar ao único Deus verdadeiro.

As Escrituras nos permitem ampliar a definição de idolatria de forma que inclua qualquer coisa na qual depositamos nossa afeição a ponto de nos entregamos com um apego excessivo e pecaminoso. Portanto, os ídolos que podemos ver – tal como uma garrafa – representam apenas parte do problema. A idolatria abarca qualquer coisa que adoramos: a cobiça por prazer, respeito, amor, poder, controle, isenção de dor. Além disso, o problema não está fora de nós, localizado numa loja de bebidas alcoólicas ou na internet; o problema encontra-se dentro de nós. […] O problema não é a substância idólatra; é a falsa adoração do coração. […] O propósito de toda idolatria é manipular o ídolo para nosso benefício. Isso significa que não desejamos ser governados pelos ídolos. Pelo contrário, queremos usá-los. […]  Não queremos ser controlados por álcool, drogas, sexo, jogos, comida ou qualquer outra coisa. Não, antes queremos que essas substâncias ou atividades nos deem o que nós queremos: boas sensações, uma autoimagem mais elevada, sentimento de poder ou qualquer coisa que nosso coração deseje ardentemente. Entretanto, os ídolos não cooperam. Ao invés de dominarmos nossos ídolos, nós nos tornamos seus escravos. p. 73, 74

O autor evita explicações e soluções simplistas, mas aponta para o pecado por trás da dinâmica do vício, e nos mostra que temos muito a aprender com a linguagem e os desenvolvimentos temáticos das Escrituras, que são aplicáveis ao aconselhamento na questão do vício: a linguagem do adultério, da insensatez, do ataque de uma besta e também da doença são todas lentes úteis através das quais se pode olhar para essa luta.

Na Parte2, Ed Welch fornece um roteiro prático para a liberdade duradoura. Ele explora vários passos que podem ser dados rumo à mudança em cada estágio da luta. O livro é escrito tanto com o viciado quanto com o conselheiro em mente, sendo algumas partes mais relevantes para um público ou outro. O relacionamento com Deus governa a abordagem de Ed Welch e ele convida o adicto, bem como os conselheiros, familiares e amigos, a falar a verdade a respeito de Deus, de si mesmo e da situação.

O livro traz muitos textos bíblicos relevantes e úteis especificamente para a luta do viciado, e também ilustrações que vêm do próprio ministério de aconselhamento do autor. No final de cada capítulo, ele inclui um resumo para o conselheiro e para aqueles que lutam com o vício, e traz a profundidade teológica para a prática. Ele chama essa seção de “Teologia Prática” e procura nos ajudar a aplicar de maneira objetiva as lições que o capítulo explora.

Edward Welch dá conselhos sábios e insight bíblico sobre como confrontar com a verdade e ministrar a graça de Deus aos aconselhados. Isso leva tempo, esforço e paciência consideráveis. Embora ele se dirija não só ao conselheiro, mas também à pessoa que está vivendo uma luta contra o vício, e tanto o conteúdo quanto a linguagem sejam acessíveis, não são todos que se estão prontos para uma leitura de cerca de 350 páginas.

Hábitos Escravizadores não fala apenas aos conselheiros e adictos de substâncias ou práticas normalmente identificadas como “problemáticas” – drogas, álcool, pornografia e outras mais. Ele é um livro sobre santificação progressiva no temor do Senhor, no qual brilha com a esperança do evangelho de Cristo. Hábitos Escravizadores é também para quem luta com aquele pedaço de carne ou de pizza a mais, com as horas extras no trabalho ou diante da tela – ele é para todos nós! Começar a leitura pensando em seu coração e seus hábitos é a forma mais proveitosa de lê-lo.

Conforme explica a editora:

Esta é a 2ª edição do livro (Originalmente publicado com o título: Vícios – Um banquete no túmulo). Ao traduzir literalmente a palavra utilizada pelo autor pela nossa palavra vício percebemos que muitos se distanciaram da leitura por interpretarem vício pelo viés do entendimento secular. Concluíram, então, que o livro nada teria a acrescentar ao que já se conhece a respeito. […] A fim de que não fique nenhuma dúvida acerca do sentido que o Dr. Edward Welch pretendeu dar ao termo vício, optamos por, nesta edição, intercambiar os termos vício e viciado com hábito escravizador e escravizado respectivamente.

Sumário
Agradecimentos
Prefácio à Edição Brasileira
Prefácio
Parte 1 – Pensando Teologicamente
1- Teologia Prática
2- Pecado, Doença ou Ambos?
3- Novas Maneiras de Ver
4- O Processo de Queda Gradual no Vício
Parte 2: Temas Teológicos Essenciais
5- Falar a Verdade em Amor
6- Respeitar, Ouvir e Convidar
7- Conhecer o Senhor
8- Temer ao Senhor
9- Abandonar a Mentira
10- Dizer “Não
11- Permanecer Firme
12- Ser Parte do Corpo
Conclusão: Onde Estiverem Dois ou três Reunidos

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Ficha Técnica

Autor: Edward Welch
Título: Hábitos Escravizadores: encontrando esperança no poder do Evangelho
Título original: Addictions – A Banquet in the Grave: finding hope in the power of the Gospel
EditoraNutra
Páginas: 351
Data de publicação: 2015 – 2ª edição em português
(anteriormente publicado como Vícios – Um banquete no túmulo)

Edward Welch atua tanto na Christian Counseling and Educational Foundation (CCEF) como no Westminster Theological Seminary. Na CCEF é conselheiro e membro do corpo docente, e no seminário de Westminster é professor adjunto de teologia prática. Além de livros, escreveu inúmeros artigos na área do aconselhamento. Depois de obter seu M. Div pelo Biblical Theological Seminary, Hatfield, PA, recebeu, em 1981, pela University of Utah, um Ph.D com ênfase em Neuropsicologia.