Kevin Carson
A pergunta: Como pretender que eu perdoe se ainda me lembro da ofensa? É possível perdoar, posto que não há como eu esquecer o que essa pessoa fez?
A resposta: É possível perdoar, mesmo que você se lembre da ofensa. Na verdade, esse é exatamente o momento em que você deve perdoar.
Gosto de ouvir essa pergunta. Não por ela ser fácil de responder nem pelo fato de que ela me revela a verdadeira luta que a pessoa está enfrentando, mas porque se trata de uma luta comum. Esse é o raciocínio que há por trás dessa pergunta: “Eu sei que devo perdoar tal pessoa. No entanto, se ela pensa que posso simplesmente perdoar e esquecer, isso é impossível. Não há como perdoar e esquecer. Não há como esquecer o que ela me fez. Se o padrão é perdoar e esquecer, então não posso perdoar. É impossível esquecer e torna-se impossível também perdoar”.
O padrão do perdão
Os versículos que dão a regra áurea em questão de perdão são Efésios 4.32 e Colossenses 3.13.
“Pelo contrário, sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando uns aos outros, como também Deus, em Cristo, perdoou vocês” (Efésios 4.32).
“Suportem-se uns aos outros e perdoem-se mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outra pessoa. Assim como o Senhor perdoou vocês, perdoem também uns aos outros” (Colossenses 3.13).
O padrão para o perdão é o perdão de Deus. Como seguidores de Cristo, nós perdoamos como fomos perdoados. Devemos perguntar: Como Deus perdoa o nosso pecado? Deus espera até que Ele tenha esquecido o nosso pecado para que Ele nos conceda, então, o Seu perdão?
Deus perdoa por causa de Jesus
Deus não nos perdoa porque nós merecemos o perdão ou nós o obtivemos em troca de alguma coisa que tenhamos feito. Seu perdão também não depende de nunca mais falharmos no futuro. De fato, Ele perdoa, mesmo sabendo que pecaremos novamente — isso faz parte da maravilha e importância da graça. Deus perdoa porque Ele aceita o pagamento dos pecados feito por Jesus em nosso lugar. Não importa o quão abomináveis possam ser os nossos pecados, o sangue de Cristo é maior.
Pedro explicou assim: “Pois também Cristo padeceu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir vocês a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito (1Pedro 3.18). Tal perdão, evidentemente, é apenas pela graça. Paulo escreveu: “Nele temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Efésios 1.7). Mais adiante, na mesma carta, Paulo continuou: “Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados. E vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós, como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus” (Efésio 5.1, 2).
Por que podemos receber perdão por meio de Cristo? Porque Deus ficou satisfeito com a morte sacrificial de Jesus Cristo para pagar pelos nossos pecados. Deus aceitou o sacrifício de Cristo como uma oferta de aroma agradável a Ele. Em outras palavras, a morte de Cristo satisfez a justa ira de Deus. Jesus Cristo se tornou o sacrifício definitivo, consumado uma vez por todas pelos nossos pecados quando Ele morreu na cruz (Hebreus 9.28).
Cristo escolheu morrer para pagar pelos nossos pecados e prover perdão (Hebreus 12.2). Paulo nos exortou a perdoar, pois Cristo nos perdoou. Quando perdoamos uns aos outros como Cristo nos perdoou, isso também agrada a Deus.
Deus escolhe esquecer
Em Sua onisciência, Deus sabe de tudo. Ele conhecia todos os nossos pecados antes que qualquer deles fosse cometido (Salmo 139.16). Ele se lembra do todos os pecados que cometemos, porque Ele não tem como “não” saber.
No entanto, a Bíblia ensina que Deus escolhe esquecer. Considere os versículos a seguir.
“Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Jeremias 31.34).
“Sou eu, eu mesmo, aquele que apaga suas transgressões, por amor de mim, e que não se lembra mais de seus pecados” (Isaías 43.25).
“Dos seus pecados e iniquidades não me lembrarei mais” (Hebreus 10.17).
Considerando essas passagens, fica claro que Deus escolhe não lembrar nossos pecados. Como é que isso funciona? Deus, que é conhecedor de tudo, escolhe não lembrar algumas coisas, isto é, nossos pecados. Essencialmente, Deus escolhe não insistir em nossos pecados perdoados, o que aqui é expresso como “lembrar”. Ele decide não se concentrar neles, não os usar contra nós nem manter um registro deles. Nossos pecados não estão fora de sua memória; em vez disso, Ele escolhe não os “lembrar”. Por quê? Porque Deus fez recair esses pecados em Cristo e fez recair sobre nós a retidão de Cristo (2Coríntios 5.21). Dessa forma, Deus nos perdoa — apesar de conhecer nossos pecados, Ele escolhe não os lembrar.
Estes dois versículos incríveis ajudam a descrever o que Deus faz com os nossos pecados quando somos perdoados.
“Quem é semelhante a ti, ó Deus, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do remanescente da tua herança? O SENHOR não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Ele voltará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar. ” (Miqueias 7.18, 19).
“Quanto o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta de nós as nossas transgressões” (Salmo 103.12).
Temos aqui duas ótimas ilustrações que, basicamente, ensinam a mesma coisa!
Deus lançou todos os nossos pecados nas profundezas do mar — uma referência aqui ao Mar Mediterrâneo. Eles estão nas profundezas e, por escolha de Deus, não podem ser encontrados novamente. Ele removeu nossas transgressões e as fez cair sobre Cristo. Elas estão tão distantes que, por mais longe que viajemos para o leste ou para o oeste, nunca nos encontraremos com elas. Eles estão longe assim de nós!
Amigos, essas palavras são de encorajamento para cada um de nós. Deus não se lembra dos nossos pecados! Que fantástico isso é para você e para mim! Além disso, existem implicações incríveis para o perdão que nós oferecemos aos outros.
Implicações
O perdão não é passivo; o perdão é ativo.
Quando escolhemos perdoar alguém, não fazemos uma escolha passiva, mas uma escolha ativa. O objetivo é escolher não lembrar. Quando somos tentados pelas nossas memórias, pelas consequências, pelas lutas, pelos medos ou dores persistentes do pecado passado, nós escolhemos focar nossa mente em Cristo e na graça que recebemos por meio dEle. Isso só é possível quando o Espírito Santo nos capacita pela graça a escolher perdoar de forma ativa.
O perdão não é uma emoção; o perdão é uma escolha com base na obra de Cristo.
O ofensor não merece nosso perdão assim como nós não merecemos o perdão de Cristo. Contudo, Cristo, por causa da alegria que o esperava, suportou a cruz e a vergonha para providenciar o perdão dos nossos pecados. Da mesma forma, nós escolhemos perdoar, por causa da alegria que nos espera, para honrar a Cristo em nossa forma de lidar com o pecado praticado contra nós. Não esperamos até que uma emoção nos conduza a perdoar, mas escolhemos perdoar como Cristo perdoou, apesar de nossas emoções.
Perdão não é esquecimento; o perdão é uma escolha de não lembrar.
Lembrar as ofensas promete-nos estresse, medo adicional, amargura inevitável, e acrescenta culpa. Por outro lado, quando escolhemos não nos lembrar, nós nos colocamos em uma posição segura, uma posição de dependência da misericórdia de Deus que nos dá a força para perseverar, o poder de viver na prática nossa promessa de perdoar e a capacidade de fazer aquilo que melhor O honra.
Resumo
Em nossos relacionamentos, tendo o exemplo do perdão que Deus nos deu em Cristo, podemos fazer a escolha de perdoar. Escolhemos esquecer essas ofensas, embora nós ainda tenhamos a capacidade de lembrá-las. Escolhemos não nos concentrar na ofensa, não nos debruçarmos sobre a mágoa e não viver no passado. Em vez disso, por causa do perdão que Deus providenciou na cruz, por meio de Jesus Cristo, escolhemos nos lembrar de Jesus, depender da graça que recebemos por meio dEle, e insistir em viver nossa vida de acordo com a promessa que fazemos de perdoar os outros. Nós não nos esquecemos do pecado. Tratamos o pecador como Deus nos trata por meio de Cristo. Em gratidão pelo que recebemos em Cristo, tratamos os outros de igual maneira.
Original: Forgiving and Forgetting: Are they the same?
Artigo publicado originalmente em Pastor Kevin’s Blog.
Tradução: Carla Silva
Revisão: Conexão Conselho Bíblico