Cuidando de pessoas que são diferentes de você

Joe Keller

As pessoas são diferentes umas das outras. Muito diferentes. Vá a um shopping center e não demorará muito para você descobrir isso. Em nossa sociedade, a diferença do que acontecia no passado, parece-me às vezes que as coisas que nos unem são agora em número menor do que aquelas que nos dividem. A igreja está inserida nessa sociedade fragmentada, mas com um forte chamado e compromisso com respeito à unidade. Essa unidade é muito mais profunda do que torcer para o mesmo time esportivo, morar no mesmo bairro ou até mesmo pertencer à mesma família. Essa incrível unidade na diversidade, da qual o povo de Deus pode desfrutar, é resultado da obra transformadora do evangelho.

O evangelho redime nossa capacidade de amar os outros e não simplesmente a nós mesmos (2Co 5.14-21; 1Jo 4.7-12). Esse coração amoroso, reconciliado com Deus pela obra do evangelho, reflete nossa obediência amorosa a Ele e é capaz de conceder esse amor aos outros (Mt 22.37-40), incluindo as pessoas que são diferentes de nós. O chamado para uma vida de união na diversidade é a marca do povo de Deus, mas certamente inclui desafios num mundo caído. O caminho para cuidar de pessoas que são diferentes de nós não é fácil de percorrer. Iremos, então, considerar juntos alguns dos principais marcos para nos dar coragem e confiança à medida que buscamos alegria no cuidar de pessoas diferentes, mas às quais estamos unidas.

Reconhecer
(Cl 3.12; Ef 2.11-22; Fp 2.1-5)
Reconhecer que algumas pessoas das quais cuidamos são diferentes de nós não constitui um desafio. Na maioria dos casos, essa diferença torna-se óbvia na primeira interação. Movermo-nos em direção a pessoas diferentes de nós começa com o reconhecimento de que somos mais parecidos do que diferentes. No mais íntimo de cada pessoa, há uma necessidade fundamental da graça transformadora de Deus. Esse ponto em comum de dependência nos capacita claramente para o cuidado bíblico daqueles que fazem parte do povo de Deus.

Isso não subestima a realidade das diferenças que poderiam nos distanciar e dividir enquanto pessoas, mas reconhece que essas diferenças são secundárias e não são o que define primordialmente quem somos. Reconhecer que somos seres humanos redimidos reformula fundamentalmente nossa maneira  de entender nossas diferenças. Somos iguais, mas maravilhosamente e notavelmente diferentes.

Compreender
(Pv 18.13; 20.5; Tg 1.19)
O caminho para cuidar dos outros é o da compreensão. Pressuposições são o caminho para mal-entendidos e mágoas. Existe uma vulnerabilidade em conhecer e ser conhecido por outro, e isso tem a tendência de se tornar mais evidente com pessoas diferentes de nós. Entretanto, nossa união com Cristo nos dá a capacidade de viver além de nós mesmos e de ir em busca dos outros com amor. Essa postura proporciona o tempo e espaço necessários para que outros compartilhem perspectivas e insights sobre sua vida e seu contexto de vida. Esses insights podem ser incrivelmente desconhecidos e pouco familiares para nós, mas enquanto você os ouve, fique atento ao porquê de eles serem importantes para a pessoa.

Nossa tendência é construir um entendimento dos outros com base em nossos pressupostos. Quando cuidamos de pessoas diferentes de nós, é importante procurar ouvir e entender não apenas os fatos que elas nos contam, mas também a razão de tais fatos serem importantes para elas. As frustrações no processo de cuidado acontecem quando duas pessoas acreditam estar falando sobre a mesma coisa, mas não conseguem reconhecer que uma não está entendendo a outra e a razão de isso acontecer. A dinâmica do cuidado bíblico inclui explorar amorosamente os aspectos com os quais não estamos familiarizados, mantendo o compromisso de buscar entender o que estamos procurando conhecer.

Edificar 
(Hb 10.24, 25; Cl 3.16, 17; Ef 4.15, 16)
O mesmo evangelho que unifica também é o evangelho que edifica. O objetivo comum que une nosso coração como crentes é o chamado para nos tornarmos cada vez mais parecidos com Jesus Cristo. As expressões desse compromisso podem ter diferentes formas na vida daqueles que procuramos cuidar e em sua maneira de olhar para vida, mas o chamado é o mesmo. Culturas, personalidades e etapas da vida têm expressões e desafios únicos que variam para cada indivíduo. Na verdade, até as pessoas que afirmam ser parecidas podem, às vezes, responder às mesmas circunstâncias de maneiras completamente diferentes.

Felizmente, temos a confiança de que a suficiência das Escrituras nos permite navegar com precisão rumo ao desenvolvimento de um coração temente a Deus, mesmo em meio a todas as implicações das diferenças que existem entre nós. Afirmar que as expressões pessoais suplantam as convicções bíblicas é tão desconcertante quanto afirmar que a fidelidade bíblica pode ser expressa de uma única maneira específica. A edificação verdadeira supera todas as barreiras na jornada do cuidado uns dos outros, e segue seu rumo no caminho que leva a conhecer e ver Jesus Cristo.

Celebrar 
(1Co 12.12-26; Sl 57.9-11; Sl 117; Ap 5.9; 7.9)
Existe uma alegria maravilhosa que sentimos ao apreciar as expressões da diversidade dentro de um contexto de unidade. O evangelho que permite sermos um, mesmo com a diversidade, oferece uma oportunidade para celebrar o quão ampla e profunda pode ser essa unidade. Isso não significa uma assimilação. Na verdade, mesmo as expressões de boa educação para comunicar que estamos unidos podem levar facilmente a mal-entendidos quando são motivadas por obrigação e não por celebração. Se queremos saber cuidar bem das pessoas que são diferentes de nós, precisamos em primeiro lugar procurar como celebrar a união proporcionada pelo evangelho, identificando e apreciando a criatividade, a maneira de ver, as conquistas , o esforço e o pranto, as estratégias, as expressões de amor, a música e os traços de personalidade daqueles que são diferentes de nós. A variedade dá sabor à vida, e celebrar a diversidade no contexto da unidade proporcionada pelo evangelho é uma das alegrias mais ricas da vida cristã.

As evidências da obra transformadora do evangelho em nossa própria vida são visíveis quando cuidamos amorosamente de alguém diferente de nós mesmos, e isso é de uma beleza singular na sociedade atual. Estou certo de que depois de provar esse tipo de experiência, nós a  defenderemos pelo restante de nossa vida.

Perguntas para reflexão

  1. Quais são algumas maneiras práticas de identificar a visão de mundo de alguém diferente de você?
  2. O que o incentiva a investir tempo para entender alguém que é diferente de você? Como você pode buscar ativamente isso em sua vida cotidiana?
  3. O processo de edificação mútua muda quando alguém é diferente de você? Se sim, como?
  4. Quais são algumas maneiras práticas, centradas no evangelho, para celebrar aqueles que são diferentes de você?


    Joe Keller atua como diretor em Grace Brethren Schools in Simi Valley California, e leciona no departamento de aconselhamento bíblico da The Master’s University. Ele completou seu mestrado em divindade no The Master’s Seminary e o doutorado em ministério no Westminster Theological Seminary.


    Original: Caring for people who are different than you
    Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
    Tradução e adaptação: Conexão Conselho Bíblico