Steve Viars
Noites atrás, enquanto um casal deixava o meu escritório, lembrei-me de quão grande privilégio é servir como conselheiro bíblico. Aquele casal viera de sua cidade até Lafayette porque desejava receber ajuda para lidar com um problema específico que pesava já há vários anos.
Eles haviam se encontrado comigo várias semanas e, ao sair, eles me agradeceram por eu ter investido tempo no relacionamento com eles e em sua vida familiar. Foi um agradecimento sincero, muito mais do que aquele “muito obrigado” casual que costumamos dizer ao passar pelo caixa do supermercado. Por sua vez, eu os agradeci por confiarem em mim o suficiente para abrir o mais profundo de seu coração e de seu casamento para que pudéssemos ir juntos à Cruz.
Mais tarde naquele mesmo dia, enquanto eu caminhava em direção ao meu carro, pensei em como o aconselhamento é um privilégio especial que temos. De que outra forma seria possível estabelecer amizades tão genuínas e que tão rapidamente passam de um bate-papo para os assuntos mais íntimos da alma?
As palavras de Paulo aos tessalonicenses vieram-me à mente.
Tornamo-nos bondosos entre vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos. Sentindo, assim, tanta afeição por vocês, decidimos dar-lhes não somente o evangelho de Deus, mas também a nossa própria vida, porque vocês se tornaram muito amados por nós. Irmãos, certamente vocês se lembram do nosso trabalho esgotante e da nossa fadiga; trabalhamos noite e dia para não sermos pesados a ninguém, enquanto lhes pregávamos o evangelho de Deus. (1Ts 2.7-9).
Estou certo de que nem sempre sou tão bondoso o quanto eu deveria ser no aconselhamento, seja no meu escritório, seja em qualquer outro lugar. Há algo singularmente humilhante quando as pessoas vêm pedir ajuda em momentos de sofrimento, e minha oração é que eu e todos nós conselheiros bíblicos procuremos ser bondosos com aqueles que estão sofrendo. Com esse casal, especificamente, achei útil usar o novo livro do pastor Mark Vroegop, Dark Clouds, Deep Mercy. Seu estudo sobre o lamento na Bíblia mostrou-se muito útil para o marido e a esposa. Ele nos permitiu enfrentar honestamente diante do Senhor a dor e a incerteza da provação, em vez de simplesmente correr em busca de respostas e soluções sem antes dedicar tempo para chorar juntos. Penso que o fato de termos criado uma atmosfera na qual era aceitável chorar diante de Deus foi parte do que levou à expressão de agradecimento daquele casal ao término de nossos encontros.
Em suas palavras aos tessalonicenses, Paulo também explicou o poder de combinar o evangelho com sua própria vida ao relacionar-se com seus irmãos e irmãs em Cristo enquanto estivera no meio deles. Descobri que os aconselhados que enfrentam sofrimentos são ajudados ao conhecer algo sobre minha família e nossas lutas, dores e fracassos. Quando esses fatos são compartilhados de maneira saturada do Evangelho, algo singular acontece no desenvolvimento do relacionamento. Não se trata mais de um conselheiro e um ou dois aconselhados, mas de companheiros de jornada que buscam juntos a Cristo. Uma amizade genuína e duradoura começa a se formar. Que privilégio incrível o Senhor nos dá!
Paulo também pôde dizer que o trabalho que ele fazia, ao lado de seu ministério, permitia que ele servisse aos tessalonicenses sem ser um peso financeiro para eles. Sei que esse não é o caso de todos os que aconselham biblicamente, mas muitos entre nós são mantidos pela igreja local e outros ainda são voluntários que trabalham secularmente ou estão aposentados. Isso nos dá a liberdade de aconselhar biblicamente sem nenhum custo para nossos aconselhados. Prefiro esta abordagem e, em meu caso, sou profundamente grato à minha igreja por como ela supre as necessidades da minha família. Creio que isso aumenta o envolvimento com nossos aconselhados, pois eles sabem que estamos ali simplesmente porque os amamos e desejamos sinceramente ministrar a graça de Deus em sua vida.
Enquanto eu caminhava para o carro, também não pude deixar de notar a decoração de Natal em todo o edifício. A possibilidade de desenvolver com os aconselhados uma amizade saturada do Evangelho só é real por causa do maravilhoso dom do Filho de Deus. Foi Ele quem nos redimiu e depois nos confiou essa missão tão maravilhosa para que a cumpramos.
Graças a Deus por seu dom indescritível! 2Co 9.15
Original: The Divine Privilege of Counseling
Publicado em Counseling with Confidence and Compassion – Faith Biblical Counseling