Enquanto o príncipe não vem

Dilemas do coração feminino à espera do casamento

Aline Provenzano Cardim

[Este artigo foi escrito quando Aline ainda era solteira. Hoje ela é casada com Paulo Cardim.]

Mulher… Como é bom ser mulher. Sempre considerei um privilégio e amo a ideia de um dia poder ser esposa e mãe. Na verdade esse sempre foi o meu maior sonho: se não me controlar gasto horas e horas sonhando com um futuro relacionamento, imaginando como será meu marido, meus filhos, minha casa. Fico me perguntando se eu serei uma boa esposa, se saberei cumprir meu papel de auxiliadora idônea e como eu serei como mãe. Já ouvi diversas vezes e de diferentes pessoas: “Acho que você será uma mãezona!”. Tudo bem, eu admito: isso penetra em meus pensamentos e às vezes me leva a pensar que Deus está perdendo tempo em não me conceder uma família.

Por ser um sonho muito forte, na maioria das vezes não sei administrá-lo muito bem. Estou com 24 anos de idade, e não tenho um relacionamento há pelo menos três anos. Minhas amigas estão todas se casando, e sou convidada muitas vezes para ser madrinha ou fico responsável por organizar chás de cozinha. Casamento, casamento, casamento. Quando chegará a minha vez? Até quando Deus se negará a realizar o meu sonho? Por que parece que é tão fácil para outras moças encontrarem seu parceiro? Estou sendo muito exigente? Há algo de errado comigo? Será a minha aparência ou a personalidade? As pessoas já me enxergam como encalhada? Como posso me relacionar com os rapazes, sem avaliá-los como uma oportunidade de casamento? As pessoas dizem que devo guardar meu coração, mas como se faz isso?

PERCEBENDO MINHAS ATITUDES
Tempo atrás, Deus me deu o privilégio de fazer o Curso de Liderança e Discipulado (CLD) da Palavra da Vida. Tive oportunidade de ter aulas incríveis sobre as Escrituras, e uma delas foi a aula Vida Cristã para moças. Ao longo daquele ano, Deus mostrou muitas coisas erradas que eu fazia, coisas em que eu achava que não eram tão ruins. Em especial, na área de espera por um relacionamento, Deus tem se mostrado gracioso e muito misericordioso, revelando vários pecados em meu coração.

Ansiosa, eu?
Sim, sou ansiosa. Tudo bem, às vezes a minha ansiedade beira o desespero. Quero o que quero, e quero agora. “Cadê meu namorado Deus? Como ele é? Já que ele não vai cair do céu, vou dar uma ajuda ao Senhor. O que acha de Fulano? Ele é tão bonito, parece tão comprometido. Mas também tem o Ciclano, os planos dele parecem se encaixar mais com os meus.” Deus responde: “Filha, pare! Não ande ansiosa por coisa alguma, em hipótese alguma. Isso não a levará a nenhum lugar”.

Deus dá uma ordem clara a seus filhos em Filipenses 4.6: “Não fiquem preocupados com coisa alguma, mas, em tudo, sejam conhecidos diante de Deus os pedidos de vocês, pela oração e pela súplica, com ações de graças”. Deus não diz: “Não ande ansioso em relação a sua futura faculdade” nem “em relação a sua saúde”. Ele diz: “Não ande ansioso por coisa alguma”. Nada pode justificar a ansiedade no nosso coração. E não pára por aí, mas continua dizendo que em TUDO devemos apresentar nossos pedidos a Deus, pela oração e súplica, com ações de graças. Devemos orar sobre o assunto, com gratidão. Devemos orar e confiar que o agir de Deus será o melhor para nós. No versículo 7, Paulo apresenta o resultado de uma vida assim: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.”

No versículo 8, temos as características daquilo que deve ocupar o nosso pensamento. Deus vai direto ao ponto ao ordenar que pensemos no que é verdadeiro, ou seja, que é real. O Senhor não quer que cultivemos pensamentos que não são reais, que ainda não aconteceram e que nem sabemos se irão acontecer. O versículo é claro: se o que eu penso não é verdadeiro, não devo pensar nisso. E em Mateus 6.27, Jesus apresentou o motivo por trás dessa ordem: “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?”. Em outras palavras, ficar ansioso não resolve nada.

As minhas amigas estão casando…
Como é fácil me comparar com outras pessoas, e tirar os olhos do alvo de minha vida (Hb 12.1-3). Quando faço isso, eu estou, de maneira indireta, questionando o caráter santo e justo de Deus. Ele é Deus e eu não. Ele conhece todas as coisas e eu mal sei decidir com qual roupa vou para o culto domingo à noite. Ele penetra profundamente no meu coração, o mesmo por quem sou facilmente enganada e cuja doença é incurável (Jr 17.9).

Deus é Deus, e o seu tempo é perfeito. Ele nunca se atrasa (Ec 3.1). Nada foge do Seu controle e não há nada que Ele não possa fazer (Mt 19.26). A comparação com outras pessoas é uma armadilha terrível, que gera descontentamento e pode rapidamente se transformar em inveja. Passo a desejar que ninguém seja ou possua aquilo que eu mesma não tenho e não sou. Egoísta e mesquinho, esse é o retrato verdadeiro do meu coração.

Por que eu?
Por que eu Senhor? Por que eu sofro tanto? Por que nenhum rapaz se interessa por mim? Por que o Senhor não me ouve (Is 40.27)? O nome disso é autocomiseração: um sentimento que aparenta uma falsa humildade, mas que revela um coração desesperado em busca de reconhecimento.

Encontrando as raízes
Você é capaz de perceber que o que está por trás de todos esses pecados é uma vida autocentrada? Uma obsessão por aquilo que EU quero, na hora em que EU quero, do jeito que EU quero. Quando Deus responde “Não” ou “Espere”, parece que o nosso mundo cai.  O orgulho é pecado (Pv 21.4), e Deus odeia o orgulho (Pv 6.16, 17). Infelizmente, todos os seres humanos lutam dia a dia contra si mesmos, contra seu coração orgulhoso. O orgulho é grave pois rejeita a necessidade de Deus. “Olhos altivos” olham de cima para baixo para todos, inclusive para o Senhor, e não há espaço para Deus em uma vida cheia de si. Um coração que é dominado pelo orgulho é um coração idólatra.

Então, não posso querer me casar?
Em 1Coríntios 7.7, 8 Paulo afirmou que seria melhor que todos vivessem solteiros, pois os indivíduos casados têm sua atenção dividida entre as coisas do casamento e o serviço do Senhor. De acordo com Paulo, portanto, estar solteiro é um privilégio dado por Deus, que permite que a pessoa desenvolva cada vez mais um caráter parecido com Cristo, dependendo totalmente da soberania de Deus e assumindo um compromisso integral para com a obra do Senhor.  Entretanto, não há nada de errado em desejar se casar. Não há nada de errado sonhar com isso. Deus criou o casamento (Gn 2.20-24). Precisamos tomar cuidado, porém, com a motivação por trás desse desejo tão forte. Para que desejo tanto me casar? Somos exortados por Jesus a amar a Deus de todo o nosso coração, toda a nossa alma e todo o nosso entendimento (Mt 22.37) e só Ele deve ocupar o primeiro lugar em nosso coração.

Quando o primeiro casal criado por Deus desobedeceu Sua ordem e comeu o fruto da árvore proibida, o pecado entrou no mundo e tudo mudou. O pecado passou para todos os homens (Rm 5.12), e como conseqüência a morte (Rm 6.23). Entretanto, Cristo se fez homem (Fp 2.6-8) e derramou na cruz o Seu sangue para que os nossos pecados pudessem ser perdoados (1Pe 1.18, 19). Na cruz, Cristo pagou o preço, e essa salvação é oferecida de graça a todos os homens (Ef 2.8,9). Nós não merecíamos nada disso (Rm 5.8).

Diante disso, chega a ser vergonhoso exigir que Deus nos dê algo tão pequeno quando comparado à nossa tão grande salvação (Hb 2.1-3). Deus não prometeu que todas as mulheres se casariam e teriam filhos, mas prometeu livrar da sua ira eterna os que creem em Cristo (Jo 3.16; Rm 5.9).

Alerta constante, luta incessante
Apesar de aprender essas verdades, uma mudança do coração não é algo que se obtém do dia para a noite. A santificação em Cristo faz parte de um processo no qual substituímos hábitos ruins por aquilo que é aprovado por Deus (Ef 4.22-24) e que será completado no dia em que nos encontrarmos com Cristo (Fp 1.6). Infelizmente, os pensamentos que não agradam a Deus irão passar pelas nossa mente, mas a maneira como lidaremos com isso fará toda a diferença. A cada dia devemos analisar a motivação do nosso coração, e buscar perceber o que está por trás de nossos lamentos e murmurações.

Graças a Jesus nós já temos o perdão dos nossos pecados. Sonde o seu coração, e confesse suas verdadeiras tendências ao Senhor (1 Jo 1.9) para que Ele lhe purifique de toda a injustiça. Enquanto estiver solteira, aproveite as oportunidades que o Senhor lhe dará para servi-lo de todo coração. Não desanime: Deus é bom e estará sempre com você, capacitando-a a enfrentar todas as situações de sua vida. Basta procurá-lo e depender da Sua força e graça (2Co 12.9). E que Cristo habite em seu coração pela fé, para que você compreenda a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Jesus, e assim você se torne uma mulher tomada por toda a plenitude de Deus (Ef 3.17-19), independentemente de seu estado civil.


Aline Provenzano Cardim foi aluna do Curso de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida. É fisioterapeuta, formada pela Universidade Federal de São Carlos.


Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.