Bianca Teixeira Isaak
“Quero investir minha vida em algo que sobreviva a ela.”
Essa é uma frase que trago comigo há alguns anos. Quem a escreveu realmente viveu essas palavras: Jim Elliot! Ele foi um missionário norte-americano na tribo Auca, e morreu aos 28 anos de idade na tentativa de compartilhar o evangelho com os nativos do Equador. Você pode pensar: “Mas ele nem sequer teve muitos anos de vida, morreu aos 28!”. Entretanto, a Bíblia nos mostra que mais importante do que quantos anos viveremos é a forma de vivê-los, onde depositaremos nossos esforços e, principalmente, em que iremos investir nossa vida.
Muitos dizem que vivemos na era do egoísmo, egocentrismo, umbiguismo… tantos “ismos” que na verdade não são características só da nossa década, mas estiveram presentes em toda a história da humanidade. Por diversas vezes o homem quis investir sua vida em realização própria, conquista de riquezas, poder e tantas outras coisas atraentes aos olhos. Não é o homem do século 21 que quer investir sua vida em si mesmo, é o ser humano, pecador, cego em seus desejos, sem Jesus. No entanto, existe ainda uma realidade mais triste: aquele que conhece Jesus e mesmo assim continua a viver dessa forma, numa busca incessante e sem verdadeira satisfação, pois aquilo que busca não é o que seu coração realmente precisa para obter satisfação.
Eu disse a mim mesmo: Venha. Experimente a alegria. Descubra as coisas boas da vida! Mas isso também se revelou inútil. Concluí que o rir é loucura, e a alegria de nada vale. Decidi entregar-me ao vinho e à extravagância, mantendo, porém, a mente orientada pela sabedoria. Eu queria saber o que vale a pena, debaixo do céu, nos poucos dias da vida humana. Lancei-me a grandes projetos: construí casas e plantei vinhas para mim. Fiz jardins e pomares e neles plantei todo tipo de árvore frutífera. Construí também reservatórios para irrigar os meus bosques verdejantes. Comprei escravos e escravas e tive escravos que nasceram em minha casa. Além disso, tive também mais bois e ovelhas do que todos os que viveram antes de mim em Jerusalém. Ajuntei para mim prata e ouro, tesouros de reis e de províncias. Servi-me de cantores e cantoras, e também de um harém, as delícias dos homens. Tornei-me mais famoso e poderoso do que todos os que viveram em Jerusalém antes de mim, conservando comigo a minha sabedoria. Não me neguei nada que os meus olhos desejaram; não me recusei a dar prazer algum ao meu coração. Na verdade, eu me alegrei em todo o meu trabalho; essa foi a recompensa de todo o meu esforço. Contudo, quando avaliei tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento; não há nenhum proveito no que se faz debaixo do sol. (Ec 2.1-11)
Não são poucos os exemplos de homens que buscaram tais coisas. Napoleão quis ter domínio sobre toda a Europa e acabou exilado numa ilha até sua morte; Hittler quis imperar sobre a Alemanha e foi o iniciador de alguns dos momentos mais tristes da história contemporânea. Tantos outros homens, apesar de tentativas seguidas, não investiram sua vida em algo que sobrevivesse a eles no real sentido que Jim Elliot expressou com sua frase. O próprio Salomão, autor do texto acima, apesar de ter pedido a Deus sabedoria, escolheu se dedicar a “grandes feito” e se rendeu à busca por prazeres, chegando ao fim dos seus dias sem satisfação. Jim Elliot, que viveu muito menos tempo que outros, entendeu que investir sua vida em algo que sobreviva a ela não é ser lembrado ou marcar a história, mas plantar na eternidade. Como podemos ler em Eclesiastes 3.11a, esse é um anseio do nosso coração: “Ele [Deus] fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade”. Investir sua vida em algo que sobreviva a sua existência aqui na terra é usar cada recurso, oportunidade e talento que Deus lhe deu para trazer glória ao Seu nome e frutificar, trazendo pessoas a Jesus.
Já vimos o exemplo de Jim Elliot, que investiu sua vida na propagação do evangelho, e isso é admirável. Vimos também o exemplo de tantos homens na história que buscaram com todas as forças investir sua vida em glória própria, e vimos que tudo foi passageiro. “Mas e eu?” – você deve estar se perguntando. “O que isso tem a ver comigo? Não faço o que eles fizeram, e só quero saber em que investir minha vida!”.
A primeira coisa que você tem que saber é que não precisa ser como Jim Elliot, abandonar sua faculdade, emprego ou família e ir anunciar o evangelho a um povo indígena para poder investir sua vida em algo que sobreviva a ela. Você também não precisa revolucionar a história com uma grande descoberta ou fazer algo notável como dar a volta ao mundo. Todas essas coisas são bem legais, claro, mas ainda não é algo realmente válido como investimento de vida.
O que o homem ganha com todo o seu trabalho em que tanto se esforça debaixo do sol? Gerações vêm e gerações vão, mas a terra permanece para sempre. O sol se levanta e o sol se põe e depressa volta ao lugar de onde se levanta. O vento sopra para o sul e vira para o norte; dá voltas e voltas, seguindo sempre o seu curso. Todos os rios vão para o mar, contudo, o mar nunca se enche; ainda que sempre corram para lá, para lá voltam a correr. Todas as coisas trazem canseira. O homem não é capaz de descrevê-las; os olhos nunca se saciam de ver, nem os ouvidos de ouvir. O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol. (Ec 1.3-9)
Pensando nisso, vamos explorar alguns pontos que você precisa considerar para que viva cada dia investindo em algo que sobreviverá a todos eles.
Sua vida não tem um fim em si mesma
A finalidade da sua vida não é sua satisfação e realização pessoal. A fé cristã não é como outras ideologias criadas para satisfazer nosso anseio pelas respostas que nos agradam ou para nos motivar e nos permitir viver à nossa maneira. Fomos criados por Deus e salvos da consequência dos nossos pecados, que é a morte eterna, por um motivo: ser conformes à imagem de Jesus (Rm 8.29). O propósito de tudo na nossa vida começa e termina em Cristo, nada existe à parte dele e você não investirá sua vida em algo que sobreviva a ela se não estiver totalmente submetido Àquele que dá sentido a todas as coisas!
Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos sejam soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste (Cl 1.15-17). E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou (2Co 2.15).
Cada dia deve ser valorizado
Sim, isso mesmo, cada dia! Nossa vida é construída com dias. Não nascemos e logo chegamos aos 80 anos. Não. Há um intervalo, mais precisamente 29.200 dias, e cada um dos dias deve ser valorizado e muito bem administrado porque é diariamente que fazemos nossos investimentos. É diariamente que economizamos para uma grande compra, é diariamente que nos aproximamos e nos tornamos amigos de alguém, é diariamente que amadurecemos e é diariamente também que construímos uma vida que sobreviva a ela. Aos poucos e com atitudes aparentemente pequenas, mas muito preciosas, plantamos o que será colhido na eternidade. Não atente apenas às “grandes decisões”, mas decida honrar a Deus e obedecer à Sua Palavra nas pequenas escolhas que você tem que fazer durante cada dia: “Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando vocês mesmos” (Tg 1.22). São as pequenas escolhas diárias que mostram onde está seu coração.
Jesus é o maior exemplo
Jesus viveu de forma perfeita e é o exemplo divino de vida cheia de significado, que sobrevive. O maior ensino que Jesus deu àqueles que estavam com Ele foi sua vida. Ele orava, servia, era humilde e compassivo, amava. Jesus não é simplesmente um homem memorável na história. Sua vida transforma a de todos os que creem em Seu nome, muda o destino eterno, a motivação de vida, a mentalidade. Jesus investiu Seus dias aqui na terra em algo que sobreviveu a eles. Quando imitamos Jesus, nossa vida vale a pena. Isso é o que Deus espera de nós: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Portanto, “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus” (Fp 2.5).
Você precisa ter sempre presente a sua identidade
Não importa a faculdade que você quer fazer ou que já fez, o emprego que quer ter ou que já tem, o país em que mora ou irá morar. O que fará você investir sua vida em algo que sobreviva a ela é entender quem Deus é e quem é você. É também entender o real motivo de Ele conceder cada um dos seus dias. Não importa qual a atividade que você exerce, ela não o define. Você não é um estudante cristão, um profissional cristão ou até mesmo um missionário cristão. Você é antes de tudo um cristão, isto é, um pequeno Cristo, um seguidor de Jesus, que pode ser usado para testemunhar dEle na faculdade, no local onde trabalha, no ministério que exerce ou em qualquer outro lugar.
Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim. (Gl 2.20)
Que à luz de tudo isso, nós decidamos investir nossa vida no que realmente sobrevive a ela, lembrando que nossa existência não tem fim em si mesma, mas que com nossas decisões e atitudes no dia a dia imitamos Jesus e mostramos que sermos Seus seguidores é o que realmente nos define. Devemos lembrar que sozinhos não somos capazes de fazer tudo isso. Nós o fazemos somente por meio do Espírito de Deus, que habita em todo aquele que crê em Jesus como seu suficiente Salvador. Que capacitados por Ele possamos um dia, assim como Paulo, dizer essas palavras:
Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda. (2Tm 4.7, 8).
Bianca Teixeira Isaak é formada em odontologia pela Universidade de São Paulo. Ela escreveu este artigo quando aluna do Curso de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida.
Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.