Deborah Knapik
– Eu faço parte da história dele.
– Nós crescemos praticamente juntos.
Ele sempre conta histórias. Do seu trabalho, de sua família, da faculdade.
Ela sempre conta como foi seu dia. Seus medos, os momentos em família, a chefe que a culpou de algo que não fez, ou o trabalho da faculdade que foi entregue para a banca avaliadora e a deixou preocupada.
Eles falam sobre a igreja, sobre as pessoas que perguntaram novamente sobre a data do casamento. Falam sobre as crianças que deram trabalho na escola dominical, e conversam sobre a possibilidade de assumirem o ministério de jovens. Falam sobre o casamento, sobre as contas a pagar, quem irão convidar, a cor do vestido, a contratação do buffet. Conversam sobre o nome dos filhos, a escola em que irão estudar, e como querem os educar de maneira diferente do que foram criados. Eles mal falam de Deus.
Durante, antes e depois, acontecem as carícias, o andar de mãos dadas, o elogio das roupas e da maquiagem, ou da limpeza do carro. Saem para jantar, para descontrair no cinema, para ir a um estádio, ou até mesmo ficam sentados no sofá da sala encarando um ao outro sem entrar em assuntos mais profundos. Isso pode gerar conforto, mas em algum momento uma das partes deseja algo diferente da rotina, e as brigas começam a acontecer.
Eles mal falam com Deus. Até oraram antes de começar o relacionamento, mas a vida tornou-se tão corrida que o “Deus te abençoe” no final de cada telefonema é automático. Ele têm um encontro semanal com o pastor para cumprir o currículo da igreja. Fazem isso por obrigação, não por sentirem necessidade. Então, a “vida com Deus” só aparece nessas ocasiões.
Para onde vai seu tempo juntos?
Essas linhas que você acaba de ler são o retrato de um caso fictício, mas é bem provável que dos relacionamento entre jovens crentes as reproduzam na realidade. Elas mostram a total falta de um relacionamento vivo com Deus. Os casais dizem que são cúmplices, melhores amigos. Falam que não escondem nada um do outro, mas quando estão diante da oportunidade de falar um com outro sobre Deus e orar juntos, eles fogem.
Quanto tempo você investe no crescimento real daquela pessoa que talvez em pouco tempo será seu cônjuge? E quantos momentos preciosos de aproximação com Deus vocês têm desperdiçado como casal? Será que é mais importante estar juntos e curtir as carícias e conversas do momento do que falar sobre o caminhar da vida cristã? Pensar sobre isso é necessário.
Orar juntos é extremamente importante, ler a Bíblia juntos, compartilhar e contar um para o outro como anda a vida devocional e quão grande é a admiração por Deus. Quanto Deus tem agido em sua vida, e como a história de vocês pode continuar crescendo verdadeiramente rumo ao plano perfeito dEle? No catecismo de Westminster, uma de suas perguntas mais conhecidas é: “Qual é o fim principal do homem?”. A resposta é: “O fim principal de todo o homem é glorificá-lo ao gozá-lo para sempre”. Ou seja, se em nossa vida reclamar da rotina esgotante é mais relevante do que compartilhar sobre Deus, para que estamos vivendo?
Em Mateus 6.33, Jesus citou a importância de uma vida que busca o Reino de Deus acima de todas as demais coisas. Em Eclesiastes 4.9-12, Salomão comentou sobre a importância de ter um companheiro nessa jornada. Entretanto, não é alguém que está confiante em si próprio com relação aos próprios desejos e necessidades, mas sim, alguém tão doador ao ponto de preocupar-se com a pessoa amada. Quando lemos no final do versículo 12, que menciona o cordão de três dobras, pensamos ainda sobre as duas pessoas que estão caminhando lado a lado, mas abraçado ao sentido de Eclesiastes, pensamos que a primeira pessoa desse relacionamento é Deus, para depois visualizarmos os companheiros.
Voltando ao propósito de vida do homem, vemos que, no caso da pessoa que de fato vive de acordo com princípios divinos, ele fica visível por meio de seus atos. Suas palavras, o uso de seu tempo, seus planos, tudo reflete a glória de Deus (1Co 10.31). Sendo assim, um relacionamento formado debaixo dos padrões cristãos, deveria atrair as pessoas para verem a glória de Deus, pois são duas pessoas que desejam se unir e futuramente formar uma só carne, glorificando e cultuando a Deus com sua própria vida.
Creio que o namoro deva visar o casamento. Creio que o tempo passado juntos não deva focar na satisfação pessoal ou em um mero compartilhar da rotina diária, mas em um compartilhar de ambos focados em crescer juntos na vida cristã para construir seu relacionamento futuro, alegrando-se com o cumprimento de cada pequeno passo rumo ao propósito maior que Deus colocou em seu coração.
Alicerces para o futuro
Em Josué 24.14, 15, o líder do povo de Israel desafia a todos a decidirem a quem serviriam. Eles deveriam escolher entre os falsos deuses e Deus altíssimo. Josué e sua família assumiram o compromisso de servir somente ao Senhor, confiando que Deus era soberanamente melhor do que qualquer outro benefício humano imediato supostamente proporcionado por falsos deuses. Esta deve ser a decisão de todo jovem casal. Apesar de parecer muito cedo para pensarem em detalhes da família durante o namoro, as estruturas de uma vida inteira serão construídas se houver o estabelecimento de alicerces sólidos quanto a quem servirão.
Como estabelecer esses alicerces? A vida devocional dos ambos, separadamente, deve ser consistente para resultar na vida devocional do casal. Enquanto juntos, fazer planos pode ser parte frequente de suas conversas, mas orar acerca desses planos é indispensável bem como momentos de devocional, de gratidão a Deus em reconhecimento real das alegrias que Ele já operou na história dos dois é sempre parte essencial da conversa. Assim ambos crescerão um para o outro e juntos para Deus.
No futuro, vocês colherão os frutos de terem crescido juntos e terem buscado o Único que é capaz de fundamentar e sustentar todas as suas esperanças e medos. Juntos terão construído um cordão de três dobras que não se pode quebrar. Que somente a Deus seja a glória nesse relacionamento!
Deborah Knapik escreveu este artigo quando aluna do Curso de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida.
Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.