Era só uma brincadeira

Deborah Knapik

– Vou te trocar pelo “fulano de tal”, ele é um amigo mais legal que você.
– Não precisa mostrar pra todo mundo que você é burro, guarda isso pra você.
– Até parece que você é tão bom assim.

Você e eu podemos ter ouvido frases como essas, ou talvez, já dissemos essas coisas. São as conhecidas “brincadeirinhas” ou as chamadas palavras ditas “da boca pra fora”.

Eu poderia lhe contar o quanto esse tipo de comentário já foi destrutivo em minha vida. O quanto me irei, chorei e me decepcionei. Por mais que a pessoa dissesse que aquilo não passava de uma brincadeira, minha sensibilidade me dizia que havia algo errado com essa forma de conversa. Em uma era na qual as pessoas falam muito sobre bullying, as mentirinhas aparentemente inocentes são assimiladas como “bobeirinhas”, ou algo que podemos facilmente relevar, e isso vale tanto para quem as fala, quanto para quem as recebe. É aquela famosa regra: “Não é nada, é só uma brincadeira. Não  leve a sério…”. Entretanto, eu percebia o quanto minha tendência era acreditar em tais mentiras. Eu queria saber o motivo que levara a pessoa a brincar comigo daquela forma, porque as estatísticas confirmavam que quem fazia isso geralmente era alguém próximo a mim. O nível de intimidade, aparentemente, tornava plausíveis as “mentirinhas de brincadeira”.

Entender o motivo por trás de tais afirmações que vinham disfarçadas de brincadeira, por mais que elas fossem mesmo apenas uma brincadeira, tornava minha mente cativa de tais mentiras. Eu começava a crer que tal pessoa não me amava de verdade, ou que eu estava feia. Como se não fosse o bastante, eu revidava, pensando que a pessoa também poderia se ferir tanto quanto eu.

Pois é, não posso lhe dizer que eu mesma nunca falei verdades disfarçadas de brincadeira! Pelo contrário, já usei dessas oportunidades para falar o que eu realmente pensava, mas evitando que parecesse ofensivo. Afinal, era apenas uma brincadeirinha. Confesso que essa é uma dificuldade com que às vezes ainda luto como cristã. O que eu não entendia até então é que isso é um pecado.

Em seu livro “Pecados Intocáveis”, Jerry Bridges disse o seguinte: “Qualquer conversa que humilhe alguém – seja a pessoa de quem ou com quem estamos falando – é um pecado da língua”.[1] Isso inclui uma série de outros pecados da língua, mas vamos nos manter nesse.

Em Provérbios, encontramos exatamente a situação de que estamos falando: “O louco que atira com uma arma mortal causa tanto estrago quanto quem mente para um amigo e depois diz: Eu só estava brincando” (Pv 26.18,19).

As formas que o pecado usa para tomar conta do nosso coração são as mais diversas. Entretanto, vemos que as consequências são praticamente as mesmas. Qualquer forma de pecado em nossa vida gera destruição, seja para nós mesmos, seja para outros. Para resumo de conversa, a nossa língua possui um poder que muitas vezes esquecemos. Ela pode semear amor, paz e encorajamento, ou trazer ódio, brigas e tristeza. Pense comigo, Deus criou o universo com a sua voz quando disse “Haja Luz”, e houve luz. Dali em diante, o Criador do universo mostrou-nos que não é um Deus de falsidade, de meias palavras, de brincadeiras.  E nós, como lidamos com as palavras que saem de nossa boca?

Pensamos, às vezes, que as fórmulas da vida se resumem ao que aprendemos em física, química, matemática. Temos, porém, uma “fórmula” de ouro para o processo de mudança na vida cristã: DRR. Ela vem deste versículo bíblico:

Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos,  serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. (Ef 4.22-24 – ênfase adicionada)

Despir-se implica tirar as vestes sujas, quantas vezes forem necessárias. Sermos renovados em nosso entendimento é deixar que a Palavra de Deus nos mostre que algo está realmente errado na nossa maneira de pensar, e que uma mudança se faz necessária. Por fim, iremos nos revestir-se do novo homem criado para ser parecido com o Senhor, alguém que anda em conformidade com o Criador, que não faz passar por brincadeiras aquilo que diz, que pesa aquilo que fala por entender o quanto uma palavra que pareça simples brincadeira pode destruir uma vida. A primeira advertência que nos foi dada após a “fórmula DRR” foi exatamente para falarmos sempre a verdade (Ef 4.25) e, logo adiante, para falarmos apenas aquilo é útil para edificar o próximo e transmitir graça (Ef 4.29).

As brincadeirinhas podem parecer inofensivas, mas elas trazem sombras no coração tanto de quem as profere quanto de quem as ouve. Portanto, faço das palavras do salmista o desejo de meu coração: “Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador” (Sl 19.14).

Por mais que uma brincadeirinha pareça tentadora, que “o seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um” (Cl 4.6).

Peça a ajuda de Deus para se divertir com seus amigos sem correr o risco de trazer dissabor às pessoas com as quais você convive. Saiba também perdoar quando as pessoas pecarem contra você com suas palavras, entregue a situação a Deus e desista de retribuir com qualquer tipo de vingança. Vença as palavras dura e a mentira com a Palavra da Verdade.

Que glorifiquemos sempre a Deus com nosso modo de falar!

[1] BRIGDES, Jerry. Pecados Intocáveis. Vida Nova, São Paulo, 2014,p. 153.


Deborah Knapik escreveu este artigo quando aluna do Curso de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida.


Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.