Lamentações de um jovem

Julyana Neris

Às vezes, temos a impressão de que nada ao nosso redor parece fazer sentido. As crises estão cada dia mais perto de nós, a morte de pessoas queridas é fato, nossos amigos não nos entendem, presenciamos brigas na nossa família. Alguns dias parece que tudo, tudo mesmo, está dando errado. Você já teve dias assim? Já passou por situações em que imaginou que não conseguiria suportar?

Nossa vida não é feita apenas de momentos felizes e alegres. Por vezes, a dor e o sofrimento são lembretes constantes de que o paraíso está longe de ser aqui. Parece que o “tempo de chorar e prantear” nunca irá dar lugar ao “tempo de rir e dançar” (Ec 3). Chegamos a imaginar que nosso lamento nunca terá fim.

Então, jovem, quais têm sido as suas lamentações? São seus pais que brigam constantemente? O bullying que tem sofrido na escola? É a falta de um namorado? Ou até mesmo a não aprovação em um vestibular? É uma briga não resolvida? Uma enfermidade que insiste em não curar?

São tantas as situações difíceis que mesmo os crentes no Senhor Jesus estão sujeitos a enfrentar. Nesses momentos, é difícil enxergar o Deus amoroso, que cuida e intercede por nós, o Deus que não se alegra com o nosso sofrimento, mas que, ao passarmos por ele, o utiliza para nos moldar e nos transformar à sua imagem. É difícil de acreditar que é possível “considerar motivo de grande alegria o fato de passarmos por diversas provações”, que deveríamos saber que a prova da nossa fé produz perseverança e que “a perseverança deve ter ação completa, a fim de que sejamos maduros e íntegros, sem nos faltar coisa alguma” (Tg 1.2-4).

Jeremias, o profeta chorão, mostrou-nos que mesmo nas situações difíceis é possível presenciar o Deus misericordioso que se importa com a nossa dor.

Jeremias viveu momentos difíceis. Ele escreveu o livro de Lamentações* após sua cidade ter sido destruída e sitiada. Com poucos sobreviventes, canibalismo e desordem era o que se encontrava na cidade em que habitava o povo de Deus. Muito provavelmente, o profeta perdeu seus familiares e todos os seus pertences. Além da dor da perda, ele ainda teve que lidar com a dor da solidão. Ainda assim, escreveu: “[Deus] tirou-me a paz; esqueci-me o que é prosperidade […] minha alma desfalece dentro de mim. Todavia lembro-me também do que pode me dar esperança: Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se a cada manhã; grande é a sua fidelidade!” (Lm 3.17 e 20-23).

Jeremias nos ensinou que não estamos isentos de momentos de tristeza e frustração, mas ele também nos lembrou, mais uma vez, de que quando nossa alegria está em Cristo (Fp 4.4), “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5). As situações difíceis podem ser usadas para nos aperfeiçoar, como nos ensina a história de José, ou para nos disciplinar, como no caso dos israelitas nos tempos de Jeremias. Às vezes, não entendemos os propósitos de Deus. Independente disso, devemos sempre ter em mente que Ele conhece e sente a nossa dor. Mais do que ninguém, Ele entende o que é sofrer, pois sofreu injustamente por um povo que Ele insistiu em amar.

Esse texto nos faz lembrar que só o fato de estarmos vivos demonstra a misericórdia do Senhor. Quando nosso destino real era o inferno e Cristo nos resgatou da morte eterna, o principal foi realizado. Deus já demonstrou seu imenso amor ao nos dar Aquele que pode nos dar vida eterna. Isso já é motivo suficiente para nos alegrarmos em meio ao sofrimento, pois não importa o que aconteça, sabemos que Ele já nos resgatou e que viveremos para sempre ao seu lado. Além disso, a lembrança daquilo que Ele já fez por nós é mais um motivo para cultivarmos a esperança do futuro na eternidade. Assim, nos momentos de dificuldade, por que não tentar se lembrar de todas as coisas boas que o Senhor já fez nas nossas vidas?

“Embora ele traga tristeza, mostrará compaixão, tão grande é o seu amor infalível.”  Lamentações 3.32

Julyana Neris foi aluna do Curso de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida, e é formada em jornalismo.


Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.