Julyana Neris
Você já teve medo de ser um fracassado? Teve algum dia medo das pessoas olharem para você sem ter nada a admirar ou elogiar? Ou talvez encontrarem bons motivos para afirmar que você não deu certo na vida?
Para alguns de nós, o fracasso pode ser a reprovação numa matéria, não conseguir um bom emprego ou ficar solteiro para sempre. Outros já se sentem fracassados quando veem que os planos que fizeram para sua vida não deram certo. Quanto a mim, penso que o maior fracasso que eu poderia cometer seria olhar para trás e não poder dizer: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4.7)
Infelizmente, viver de forma diligente na vida cristã não está na lista de prioridades de muitos cristãos e, quando se trata dos jovens, a questão tende a piorar. Nossa juventude, muitas vezes, deixa-se levar pela filosofia do “carpe diem” — aproveite o dia, curta o momento — e se esquece de que a vida cristã consiste em viver para Cristo e não para nós mesmos. Além disso, a ideia que temos de fracasso muitas vezes está mais ligada ao que pode nos atingir do que àquilo que pode atingir ao Senhor, a realização pessoal do que à aprovação de Deus.
Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os dias difíceis e se aproximem os anos em que você dirá: “Não tenho satisfação neles” (Ec 12.1).
Viver o cristianismo verdadeiro não é algo fácil. Cristo nunca nos prometeu uma vida fácil. O que Ele nos ensinou é que devemos ser diferentes do mundo (Ef 4.17-32) e que Ele estará conosco quando as coisas estiverem difíceis (Is 41.13). É realmente desafiador ser um jovem cristão autêntico quando o cenário ao redor não é nada animador. Tenho amigos que simplesmente abandonaram a fé, outros que frequentam a igreja, mas têm seus valores completamente moldados por amizades não-cristãs ou pela universidade que frequentam, outros ainda que estão desanimados e feridos, com dificuldade para permanecer firmes. A pergunta que fica é: quem sou eu e quem quero ser?
Para poder completar bem a corrida, o combate precisa começar agora, e não quando eu me formar, quando arranjar um emprego, estiver financeiramente estável, casar-me ou já estiver bem mais velha. O erro que muitas pessoas cometem é o de acharem que, por serem jovens, estão isentas da disciplina e do juízo de Deus, e têm todo o tempo do mundo para se acertarem com Ele. A consequência disso tudo é que muitas das pessoas que optam por esse caminho correm um alto risco de levar uma vida de que irão se arrepender ou de nunca realmente se voltarem para Deus. O que você desejará ver quando olhar para o seu passado? Uma vida vivida para Deus ou para satisfazer os seus desejos? E mais, o que você vê quando olha para o que já viveu?
Diante disso, não posso deixar de olhar para mim mesma e avaliar como está o meu relacionamento com Deus e como minhas atitudes refletem isso. Percebo que para nós, jovens brasileiros do século 21, é muito fácil dar pequenas desculpas para continuar a levar uma vida de superficialidade com Deus. Tais desculpas vão desde “estou com pouco tempo” até “estou na era da graça”, mas na realidade estamos mesmo é nos afastando gradativamente de Deus sem ao menos perceber. Deus é muito claro ao nos indicar que um relacionamento superficial e morno com Ele é o mesmo que não ter relacionamento algum (Ap 3.16), e deixar de ter um relacionamento íntimo e verdadeiro com Ele é o pior de todos os fracassos.
Lembre-se comigo de alguns personagens bíblicos como os sacerdotes da época de Zorobabel, que iniciaram a reconstrução do templo de Jerusalém em uma época em que eram escravos e sofriam oposição, mas obedeceram ao Senhor “apesar do receio que tinham dos povos ao redor” (Ed 3.3), ou como Esdras, que decidiu “dedicar-se a Lei do Senhor e praticá-la, e a ensinar os seus decretos e mandamentos” (Es 7.10). Você pode se lembrar até mesmo de personagens mais conhecidos como Paulo, que aprendeu “o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” (Fp 4.12). Quando olho para eles e olho para mim, penso: sou uma completa fracassada!
A grande verdade é esta: eu realmente sou uma fracassada! Eu gostaria de dizer que tenho coragem de proclamar o evangelho de Cristo na minha faculdade; que não me sinto tentada a ter amizades que parecem ser tão divertidas, mas que carregam princípios tão contrários à Palavra de Deus; que consigo ser uma pessoa tranquila e nada ansiosa, que confia completamente no Senhor; que consigo viver diariamente dentro da vontade de Deus, meditando constantemente na sua Palavra. Tudo isso, porém, seria uma grande mentira. Diante disso, então, quem sou eu? Uma grande pecadora!
Preciso lutar diariamente contra pecados que sei que desejo cometer, e que querem me controlar. Certos dias a luta é mais fácil de ser travada, mas outros dias a batalha é realmente muito difícil e as palavras de Paulo ecoam constantemente em meus ouvidos:
Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a Lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo (Rm 7.15-19).
Diante disso, lembro-me de que a Bíblia também fala de Davi, Jonas, Tomé e Pedro, gente que em algum momento já foi “fracassada” e pecadora como você e eu. O ponto de virada é que eles foram transformados de fracassados em pecadores arrependidos, e isso fez toda a diferença. Diante disso, volto à pergunta que me fiz: quem quero ser?
Meu desejo é ser uma pecadora arrependida todos os dias da minha vida, pois somente assim posso chegar ao final com a certeza de ter “combatido o bom combate”. E mais, posso batalhar tranquila, sabendo que esse combate já foi vencido pelo sangue de Cristo! Ao olhar para minhas tentações, hoje sei que viver para Deus é muito melhor do que ceder a elas e é isso que me faz permanecer firme. Sei que Deus não me vê mais como uma fracassada, mas como uma pecadora arrependida que se tornou filha dele. Ao viver essa verdade todos os dias, sei que ao final vou poder dizer: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4.7).
O evangelho é uma grande chamada ao arrependimento. O arrependimento consiste em confessarmos os nossos erros diariamente, reconhecendo que somos falhos e que somente Cristo é capaz de nos perdoar (1 Jo 1.9), por ter se oferecido como sacrifício quando éramos nós quem merecíamos a morte eterna (Rm 6.23).
O arrependimento verdadeiro produz mudança. Quando apresentamos nossas súplicas ao Senhor, ele nos auxilia nesse processo de crescimento que é chamado de santificação. Isso não quer dizer que necessariamente não seremos mais tentados a fazer o que fazíamos antes, mas que ao olharmos para Cristo, para o seu sacrifício e sua mensagem de salvação, isso falará mais alto do que nossos antigos desejos carnais.
A salvação que Cristo nos deu implica vivermos o evangelho de forma constante. Ela deu início a uma vida inteira de transformação em que a mensagem da cruz permeia todas as áreas da nossa vida.
Se você, assim como eu, pensa ser um fracasso por constantemente ceder a algum pecado, lembre-se de que confessar e abandonar é a melhor saída. Lembre-se de que nesse processo é Cristo quem luta conosco. É por isso que precisamos depender dele, buscá-lo e nos debruçar sobre sua Palavra que nos lembra onde nosso foco deve estar. E se você percebe que pode estar fracassando na vida cristã, lembre-se de que sempre existe a oportunidade de voltar atrás, arrepender-se e tornar a viver de forma a agradar ao Senhor!
Julyana Neris foi aluna do Curso de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida, e é formada em jornalismo.
Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.