Caroline Newheiser
Você já se perguntou como um conselheiro deve se envolver na vida de um aconselhado? Possivelmente, você já chegou a pensar: “É bom ter um encontro por semana e ensinar verdades bíblicas, mas será que eu não deveria me envolver mais com o aconselhado?”. Você continua a se perguntar: “Seria intrometer-me demais pedir ao meu aconselhado que relate detalhes específicos de sua vida?”. Talvez você também se pergunte: “E se meu aconselhado resistir à prestação de contas? Devo forçá-lo a isso?”.
Um meio de amar uns aos outros
A Bíblia nos incentiva a implementar a prestação de contas como um meio de amar uns aos outros. Ela nos incentiva a dois tipos de prestação de contas.
Em primeiro lugar, a prestação de contas pode ter um tom positivo.
Em O Peregrino, escrito por John Bunyan, Cristão foi encorajado por seus companheiros chamados Fiel e Esperançoso enquanto viajavam em direção à Cidade Celestial. Como conselheiro, você pode ser um companheiro parecido com eles ao “consolar os desanimados” e “amparar os fracos” (1Ts 5.14). Hebreus 10.24 nos orienta para que “cuidemos também de nos animar uns aos outros no amor e na prática de boas obras”. A prestação é um aspecto de nossos encontros, conforme está implícito em Hebreus 10.25: “Não deixemos de nos reunir […] mas encorajemo-nos mutuamente” (NVT). Como poderíamos nos reunir uns com os outros sem praticar o encorajamento que encontramos na conversa e na comunhão? O encorajamento que um conselheiro bíblico oferece para o crescimento espiritual pode incluir conselhos e tarefas práticas.
Em segundo lugar, a prestação de contas pode atuar como uma proteção contra o pecado.
Hebreus 3.13 nos diz: “…animem uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama ‘hoje’, a fim de que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado”. A implicação aqui é que precisamos uns dos outros porque estamos vulneráveis a ser cada vez mais influenciados pelo pecado. Quando um aconselhado interrompe seu dia com um relatório de prestação de contas, é útil você lembrar a importância do seu papel naquela vida. Se você ainda está se questionando sobre a natureza da prestação de contas como algo invasivo, você pode pensar no que diz o versículo seguinte, Hebreus 3.14a: “temos nos tornado participantes de Cristo”. Nossa unidade com Cristo deve se refletir em nosso cuidado diário uns com os outros, e a prestação de contas é instrumento para isso.
A igreja na Galácia precisava praticar a prestação de contas. Alguns estavam lutando para viver o fruto do Espírito. Eles foram instruídos a andar no Espírito (Gl 5.25). Aqueles que estavam andando no Espírito deveriam ajudar aqueles que precisavam de restauração (Gl 6.1). Os irmãos deveriam levar as cargas uns dos outros e assim cumprir a lei de Cristo (Gl 6.2). Esse versículo me ajuda muitas vezes quando recebo uma mensagem que traz um pedido inesperado de ajuda ligado à prestação de contas.
Digo a mim mesma que é um privilégio acompanhar uma irmã em Cristo. Às vezes, ela precisa estar certa de que meu desejo de cumprir o segundo maior mandamento é o que me dispõe a investir e entrar em sua vida. Talvez ela não tenha nenhuma outra pessoa disposta ou capaz de ser parceira de prestação de contas.
O aconselhamento bíblico promove a prestação de contas
Os conselheiros bíblicos constroem o relacionamento de prestação de contas a cada encontro. Atribuir atividades práticas e acompanhar sua execução é o meio que usamos para entrar nos detalhes da vida de nossos aconselhados. Costumo dizer às minhas aconselhadas que atuo de forma semelhante a um médico que faz perguntas objetivas a fim de obter uma visão clara do quadro de saúde física. Às vezes, as respostas gerais não são suficientes.
Essa explicação costuma ajudar minhas aconselhadas que se perguntam por que nosso relacionamento tem se aprofundado mais do que suas demais amizades casuais. Esse relacionamento mais profundo pode ser uma experiência nova para elas, mas é o cumprimento do chamado do Senhor para amarmos uns aos outros.
Por exemplo, não quero apenas saber se minha aconselhada lê a Bíblia, mas também com que frequência ela lê e os detalhes do plano de leitura. Não quero apenas saber se ela vai à igreja, mas com que frequência vai e os detalhes de seu envolvimento na igreja. Não quero apenas saber se ela tem amigos cristãos, mas com que frequência ela se reúne com esses amigos e os detalhes de como seus amigos são uma influência positiva.
Os conselheiros atribuem atividades práticas específicas para as lutas contra o pecado de cada aconselhado. Um aconselhado pode confessar uma preocupação com os vídeos a que assiste ou os jogos de computador. Isso se torna um item a ser relatado a cada encontro. A atividade prática pode incluir uma captura de tela do tempo semanal gasto em seu smartphone. Um aconselhado que confessa acessos de ira frequentes pode manter um diário dos episódios de ira para ser compartilhado no encontro seguinte. Uma aconselhada que tem hábitos anoréxicos pode relatar especificamente sobre exercícios físicos e as refeições diárias. Um aconselhado que confessa frequentar lugares que são uma fonte de tentação pode concordar com o uso de um aplicativo que informa sua localização. Um programa que relata o acesso a sites pornográficos pode ser instalado para prestação de contas sobre o uso da internet. A prestação de contas específica pode ajudar seu aconselhado até que ele desenvolva hábitos que expressam a mudança em seu coração e honram a Deus.
Em resumo
O objetivo do aconselhamento é fazer discípulos para o louvor e glória do Senhor. Isso é alcançado relembrando sempre nossos aconselhados das verdades que eles conhecem. Como Pedro escreveu: “Por esta razão, sempre estarei pronto para fazer com que vocês se lembrem destas coisas, embora já as conheçam e tenham sido confirmados na verdade que receberam” (2Pe 1.12). Entretanto, é preciso ajudá-los também a implementar essas verdades. Nosso papel é oferecer prestação de contas ao aconselhado que precisa de ajuda para estabelecer novos hábitos.
Também podemos atuar como um parceiro de prestação de contas que recebe relatórios de sucesso ou fracasso. O simples fato de saber que um conselheiro fará perguntas específicas sobre padrões pecaminosos pode ser suficiente para ajudar um aconselhado a seguir nos caminhos do Senhor. O temor de dar más notícias ao conselheiro é um incentivo poderoso. Positivamente, um conselheiro que ama de verdade encorajará seu aconselhado “ao amor e às boas obras”.
Ao nos envolvermos na vida de outras pessoas, o resultado são frutos de boas obras, e isso pode incluir até os aspectos mais específicos da vida daqueles a quem ajudamos.
Perguntas para reflexão
1- Que mudanças você pode fazer nas atividades práticas que costuma atribuir para promover uma prestação de contas mais efetiva?
2- O conselheiro bíblico não é capaz de se tornar um parceiro de prestação de contas para muitos aconselhados de uma só vez. Como você poderia incentivar seu aconselhado a prestar contas a um membro da família, a um amigo ou líder espiritual da igreja?
3- Você reconhece em sua própria vida a necessidade de prestar contas? Com quem você pode desenvolver esse relacionamento, seja para encorajar o crescimento espiritual, seja para evitar hábitos pecaminosos?
Caroline Newheiser é conselheira certificada pela Association of Certified Biblical Counselors (ACBC) e possui mestrado em aconselhamento pelo Reformed Theological Seminary, em Charlotte. Seu marido, Jim Newheiser, é diretor do programa de aconselhamento e professor adjunto de aconselhamento e teologia prática. Caroline tem muitos anos de experiência aconselhando mulheres na igreja local e sua paixão está em ajudar mulheres a viver de maneira bíblica.
Original: Is Accountability Too Intrusive?
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition