David Willy
Hoje em dia, há diferentes tipos de moda para os homens. Uns querem o estilo “lenhador”, com uma barba grande e desenhada. Outros optam por deixar seus cabelos grandes, com looks modernos e arrojados. Podemos ser estilosos ou podemos mostrar que “somos tão másculos” que andamos de qualquer jeito, mas em ambas as experiências temos deixado de olhar para o que é realmente importante. Temos deixado de lado os atributos que deveriam compor um homem de verdade. Nas famílias, igrejas e escolas, ou nos empregos, temos visto meninos ocupando funções de homens. Digo meninos por terem uma atitude de menino e não de homem. É a atitude de pouco se importar e estar sensível às necessidades à sua volta, e isso por ser preguiçoso e acomodado. Por isso, convido você a olharmos para a vida de Jesus Cristo, o Deus-homem, que nos deixou um exemplo de masculinidade que deve ser seguido por nós (1Jo 2.5,6)!
Irei expor quatro qualidades que Cristo mostrou e que, a meu ver, são virtudes que devem compor o caráter de um homem cristão. Leia e seja desafiado!
Amoroso
Cristo foi alguém plenamente amoroso. João 3.16 deixa claro que Deus amou o mundo, e Cristo faz parte desse amor, pois Ele veio para demonstrar o maior ato de amor na cruz. O que podemos ver também é que Cristo não demonstrou esse amor só na cruz, mas Ele se relacionou com pessoas de um modo amoroso. Talvez a mulher samaritana seja a que melhor represente isso (Jo 4.19-30). Ele não levou em conta sua cidadania nem sua vida pecaminosa ou o olhar que a sociedade tinha sobre ela. Ele se assentou ali, no poço, e simplesmente demonstrou amor pela forma com que se interessou pelos problemas que ela tinha, oferecendo a cura para eles. Cristo se mostrou atencioso e cuidadoso para com aquela mulher, algo que tem se tornado cada vez mais raro entre nós.
Normalmente, queremos ser amados, mas Cristo nos convida a amar os outros. Esse amor fica mais claro ainda em Mateus 22, quando Ele colocou como primeiro mandamento o amor para com Deus (Mt 22.37, 38) e, logo em seguida, atentou para o segundo: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mt 22.39). A partir disso, Cristo mandou que tenhamos como medida do nosso amor aos outros aquilo que queremos para nós mesmos. No entanto, pela sequência do texto, fica claro que nós só amaremos as outras pessoas e nos importaremos com elas se, em primeiro lugar, procurarmos amar a Deus “de todo nosso coração, de toda a nossa alma e de todo o nosso entendimento”.
Servo
Vivemos em um século no qual só nos dispomos a realizar tarefas se recebermos algo em troca. Precisamos entender que servir a Deus é uma resposta de gratidão diante da maior recompensa que jamais teríamos podido receber, a vida eterna. Em João 13, vemos Jesus dando um grande exemplo de serviço. Enquanto os discípulos discutiam sobre quem seria o “maior” no reino dos céus (Lc 22.24-30), Jesus pegou uma bacia, envolveu-se com uma toalha e se dispôs a fazer uma função que na época era realizada pelos servos. No final, para quebrar o orgulho dos discípulos e conduzi-los a um serviço abnegado, ele disse: “Digo-lhes verdadeiramente que nenhum escravo é maior do que o seu senhor, como também nenhum mensageiro é maior do que aquele que o enviou. Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem” (Jo 13.16, 17). Ele colocou o servir como condição de felicidade. Talvez isso pareça estranho, mas essa felicidade corresponde a uma evidência do nosso amor pelo Pai, pois a alegria sempre resulta da nossa obediência a Ele.
Como homens, temos prazer em ser servidos, mas Cristo pede que deixemos isso de lado e sirvamos aos outros. Que saiamos da nossa comodidade e façamos a diferença na vida das pessoas, surpreendendo-as com um ato inesperado! E aqui eu me recordo de uma frase do Sr. Davi Cox, fundador do Seminário Bíblico Palavra da Vida no Brasil, que diz assim: “Quem não serve, não serve!”.
Líder
Cristo foi o maior líder que o mundo poderia ter conhecido. Sua liderança fica clara por meio das pessoas que foram alcançadas, do número de seguidores que ainda hoje o acompanham, e da maneira profunda com que os seus “ensinos” permearam e, ainda hoje, permeiam a vida de milhares de pessoas. É interessante que o homem, assim como a mulher, foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27), mas Deus definiu Adão como “líder” ao mandá-lo cuidar do jardim, dirigindo-se diretamente a ele (Gn 2.15-17). Podemos ver isso mais claramente em Romanos, quando Paulo apresenta Adão como representante da humanidade (Rm 5.17-19). Assim como Adão, após a Queda todos os homens se tornaram corrompidos. Dentre várias coisas que se perderam, a disposição para liderar foi uma delas.
Há vários textos na Bíblia que evidenciam a liderança masculina (1Pe 5.1-4; Tt 1.6-9; 1Tm 3.2-7; 1Tm 5.17). Por culpa da falta de amor por Deus, e da preguiça de amar e servir aos outros, estamos deixando de lado a liderança. Há muitos filhos crescendo sem um referencial de pai, e jovens caminhando sem um referencial de homens/líderes. A igreja tem perdido o seu referencial masculino e, ao invés de homens, formamos meninos – pessoas, grande parte delas na idade adulta, mas que seguem uma ideologia frágil como a de uma criança. São guiadas por desejos pessoais, e não por um direcionamento bíblico. Para que sejamos líderes conforme a Bíblia pede, devemos olhar para como Cristo conduziu, investiu e motivou pessoas. Saíamos da nossa zona de conforto e entremos na zona de mudança para que sejamos líderes que caminham com o foco na cruz, humilhando-nos e inspirando pessoas a fazerem o mesmo.
Íntegro
A integridade é algo que Cristo prezou durante toda a sua vida aqui na terra. Ele se manteve puro e santo. Talvez pensemos nisso como algo muito distante de nós, mas Paulo, em 1Timóteo 3.1-13 e em Tito 1.6, usou um termo que como homens e, portanto, líderes devemos buscar. Ele nos convidou a sermos irrepreensíveis. Muitos acham que Paulo estava se referindo a pessoas que não pecam, mas como David Merkh bem coloca em seu livro Homem Nota 10, vemos que “‘irrepreensível’ não significa perfeito. O foco está no tipo de caráter de um homem íntegro que, se erra, admite o erro; se peca, confessa o pecado; se deve algo, acerta as contas; e, se ofende, restaura relacionamento (cf Pv 28.13)”.[1]
Como homens, outra característica nossa é ser orgulhosos e teimosos. Queremos tudo do nosso jeito e segundo as nossas vontades. Entretanto, Cristo nos convida a deixarmos o velho homem, ou seja, nossas vontades e prazeres próprios, e a nos revestirmos do novo homem que representa aquele que busca a vontade de Deus (Ef 4.22-24). Para que esse processo fique cada vez mais evidente, Paulo disse que precisamos renovar o espírito do nosso entendimento, ou seja, precisamos buscar a Deus por meio de sua Palavra, tendo uma vida de oração que nos deixe cada vez mais sensíveis à vontade de Deus. Isso nos tornará irrepreensíveis, pois nos fará cada vez mais sensíveis ao toque de Deus e abertos à transformação progressiva da santidade. Precisamos entender que o viver é Cristo (Fp 1.21), porque se assim for, renunciaremos ao nosso “eu” pecador e buscaremos ser cada vez mais parecidos com o exemplo de Cristo.
Conclusão
Temos que pensar se estamos dispostos a seguir as tendências do mundo ou os propósitos eternos de Deus. Davi, que é lembrado como o homem segundo o coração de Deus (At 13.22), não foi um homem perfeito. Ele cometeu grandes pecados. No entanto, o que lhe deu a honra de ser reconhecido de tal forma foi sua busca pela vontade de Deus. Após pecar com Bate-Seba, ele reconheceu seu pecado diante de Deus e se arrependeu (Sl 51). Precisamos reconhecer que temos pecado, que não temos sido homens de verdade.
Cristo nos mostra que é pelo amor que estaremos cada vez mais atentos às necessidades das pessoas ao nosso redor, dispondo-nos a servi-las e deixando claro, por meio de nossas ações, que é Deus quem está nos guiando. Um pecador que caminha em santidade é ensinado a cada dia (Tt 2.11,12) a ser um homem segundo o exemplo de Cristo. Ser homem não é impor medo para que as pessoas nos respeitem, mas é amar tanto a Deus que as pessoas nos seguirão, pois sabem que temos capacidade para guiá-las na mesma direção para onde estamos caminhando!
Que sejamos homens bíblicos, comprometidos com o Evangelho, com o serviço e com a liderança, e não meninos guiados por sentimentos vazios que não apontam para Cristo, mas para nós mesmos!
[1] MERKH, Davi. Homem nota 10. São Paulo: Hagnos, 2015, p. 25.
David Willy é formado no Cursos de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida e no curso Teológico Ministerial (TM) do Seminário Bíblico Palavra da Vida.
Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.