Eu e a faculdade

David Willy

A faculdade é um sonho para muitos. Estudar aquilo que queremos praticar na vida profissional e chegar à conclusão do curso é a busca da grande maioria. Em meio a tudo isso, porém, os jovens são muitas vezes questionados quanto à sua fé. A minha pergunta é: você está pronto para defender a sua fé na faculdade?

Inicialmente, temos a ideia de que o ambiente acadêmico é tranquilo e que ele só nos formará profissionalmente. Essa ideia, porém, está completamente errada. Com o decorrer do tempo, damo-nos conta de que esse ambiente é autoritários e formador de opinião. O que quero dizer com isso? O ambiente acadêmico conta com professores que têm uma filosofia de vida. Normalmente, essa filosofia permeia todo o seu viver, inclusive os seus ensinos. Como são pessoas com experiência acadêmica, na maior parte das vezes, elas expõem sua cosmovisão – a forma como enxergam o mundo – de maneira muito convincente.  Alguns têm um ponto de vista não cristão que atrai a muitos, principalmente aqueles que não sabem muito bem no que acreditam.

Em uma pesquisa feita por um instituto norte americano de pesquisa e estatística cristã, o Barna Group, resultou que somente 30% dos jovens continuam cristãos firmes durante os estudos na universidade, 10% tornam-se completamente ateus e 40% se afastam da igreja local. Talvez você se pergunte o porquê de tais números. Por que tantos jovens criados na igreja acabam deixando sua fé de lado ao chegarem na faculdade?

Procurarei pontuar duas dentre as causas principais que tenho identificado como responsáveis por isso.

-1-  Questionamentos sobre a vida e Deus
Muito jovens chegam na universidade após terem vivido em círculos protegidos como o seu próprio lar e a igreja, mas sem ter firmado as bases de sua fé. É possível que não tenham trabalhado suas dúvidas antes de chegar à universidade. Consequentemente, não estão preparados para enfrentar as argumentações que lhe são feitas acerca de algumas questões:

• • a religião em geral – uma construção humana para responder aos anseios e temores humanos;
  • Deus – não existe ou então existe, mas é impessoal e não se relaciona com o mundo
  • a Bíblia – um livro meramente humano, repleto de mitos e contradições;
  • Jesus Cristo – nunca existiu ou foi apenas um líder carismático;
  • a criação– é impossível, visto que a evolução explica tudo o que existe;
    •   os milagres – invenções supersticiosas, uma vez que conflitam com os postulados da ciência.

Alguns pedem ajuda nesse momento, mas recebem respostas como “Você deve orar mais”, “Você está questionando Deus?”, “Você não tem fé!”. Quero que você tenha isso em mente: o cristão, ao entrar em um ambiente acadêmico, poderá ter questionamentos e isso não é necessariamente ruim.

As dúvidas devidamente sanadas produzem convicções, pois fazem com que lidemos com aquilo que realmente cremos, se de fato nós cremos! Portanto, você preciso ter claro em sua mente aquilo que acredita e a razão por que acredita. Encontramos na Bíblia várias pessoas que questionaram a Deus, mas elas estavam de fato fazendo perguntas e procurando honestamente uma resposta, dispostos a mergulhar na Palavra de Deus em busca da respostas e a confiar e esperar em Deus. O nosso questionamento não pode ser apenas uma válvula de escape para enfim dizermos que não é possível acreditar na fé cristã, e continuarmos a crer que Deus que não dá respostas, quando na verdade não estamos dispostos a buscar e esperar.

Pedro deixa claro que devemos estar “sempre preparados para responder a qualquer pessoa que nos pedir a razão da esperança que há em nós” (1 Pe 3.15). Primeiramente, isso parte de uma vida devocional, assim como Pedro falou nos capítulos anteriores antes de entrar nesse versículo. Um dia a dia que procura conhecer mais a Deus e manter comunhão com Ele enquanto busca as respostas para as questões da vida.

Além disso, é útil conhecer o pensamento de outros cristão e como solidificaram a sua fé ao interagir com incrédulos. Os cristãos hoje têm sido considerados “burros” no meio acadêmico, mas temos vários homens que defenderam a fé cristã e podem nos ajudar como, por exemplo, Cornelius van Til, C. S. Lewis, Francis Schaeffer, R. C. Sproul, John Stott, Alister McGrath, Marcos Eberlin e outros, que têm utilizado não somente a Bíblia, mas a teologia, a filosofia e a própria ciência para debater as falsas acusações contra o evangelho.

Não compre o discurso pronto e falido do NÃO!
— Por que você não faz isso? E por que você não vai ali?
— Porque alguém disse que não!
Não responda sem nem parar para questionar e fundamentar a razão por que você faz o que faz, pensa como pensa! Creio que muitos dos jovens que dizem perder a sua fé na faculdade, na verdade nunca tiveram uma fé cristã de verdade.

-2-  Uma sensação de falsa liberdade
Outra coisa que faz com que muitos desistam da “fé” é uma sensação de falsa liberdade. Como maiores de idade, vemos os universitários tendo um acesso muito fácil a tudo o que pode se imaginar: sexo, drogas, balada, mulheres e homens, e muitas outras coisas. Será que essa liberdade é real e compensadora? Vemos jovens viciados, infiéis a qualquer parceiro, afundados no pecado e cegos a tudo que está à sua volta.

Se você se importa mais em formar-se como universitário do que em conformar-se à imagem de Cristo, talvez você nunca tenha sido de fato um cristão. A faculdade só proporciona a “liberdade” de que você necessita para descobrir que, na verdade, você nunca creu em nada do que dizia. Na maioria das vezes, a faculdade não muda um jovem; ela só traz à tona o que já estava no seu coração.

Por isso, quando você pensar em liberdade, lembre-se de que Deus lhe dá liberdade de escolha, mas sua escolha terá reflexos eternos. Será que os prazeres temporais são tão compensadores assim para eu trocar os prazeres eternos por eles? Será que é tão bom assim ter essa “liberdade” que tem matado tantos e viciado outros mais? Seu comportamento nos anos de faculdade terá consequências no futuro. Deus lhe dá a liberdade de escolher, mas a questão é que diante da escolha de pecar ou não, a faculdade ensina um único caminho: o mais óbvio de todos – PEQUE!

Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem a si mesmos (2 Co 13.5).

Conclusão
Procure na Bíblia as respostas para os seus questionamentos, e caminhe junto com pessoas firme na fé cristã, pois é muito difícil passar por esse processo sozinho. Busque uma fé genuína em Cristo, que lhe dê forças para continuar firme, e peça ajuda a Deus e busque saber como você pode ser usado por Ele na universidade que frequenta.

Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhe faltar coisa alguma (Tg 1.2-4)

David Willy é formado no Cursos de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida e no curso Teológico Ministerial (TM) do Seminário Bíblico Palavra da Vida.

Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.

SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
— CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.
— JOHNSON, Phillip. As perguntas certas. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
— KELLER, Timothy. Fé na era do ceticismo: como a razão explica Deus. São Paulo: Vida Nova, 2015.
— LOPES, Augustus Nicodemus. Cristianismo na universidade. São Paulo: Vida Nova, 2019.
— MacARTHUR, JR., John. Criação ou evolução: a luta pela verdade sobre o princípio do universo. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
— SCHAEFFER, Francis. A morte da razão: a desintegração da vida e da cultura moderna. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
— SCHAEFFER, Francis. O Deus que intervém: o abandono da verdade e as trágicas consequências para a nossa cultura – a única esperança na verdade histórica do cristianismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
— SIRE, James W. Dando nome ao elefante. Brasília: Monergismo, 2015.
— SIRE, James W. O universo ao lado. Brasília: Monergismo, 2017.
— STOTT, John. Por que sou cristão. Viçosa, MG: Editora Ultimato.
— STROBEL, Lee. Em defesa da fé. São Paulo: Vida, 2002.