Ser um bom ouvinte faz de você um ótimo pacificador

Greg Gifford

As pessoas orgulhas são péssimos ouvintes, não é mesmo? Elas não se interessam por você, não o escutam, não o entendem, e armam suas palavras contra você. Por outro lado, quando falamos com alguém verdadeiramente humilde, acontece algo que C.S. Lewis descreve desta forma: “Provavelmente, tudo o que você irá pensar sobre ele [a pessoa humilde] é que ele parece ser um indivíduo animado, inteligente e que se interessou de verdade pelo que você lhe disse”.[1] As pessoas humildes se interessam por você; elas o escutam, investem tempo para entendê-lo e protegem as suas palavras. Uma lição que podemos tirar do que vemos acontecer na atualidade ao nosso redor é a importância de ser uma pessoa que promove a paz ao invés de incitar conflitos. Neste curto artigo, espero mostrar que os humildes são os melhores pacificadores, em parte porque eles são ótimos ouvintes.

As pessoas humildes e a paz
As pessoas humildes são descritas nas Escrituras como aquelas que consideram os outros superiores a elas mesmas (Fp 2.3), têm em vista os interesses dos outros (Fp 2.4), são submissas à Deus (Tg  4.10) e dóceis (Ef 4.2). É uma verdadeira alegria interagir com as pessoas humildes, não por elas serem pessoas desmotivadas que nos fazem sentir superiores quando falamos com elas, mas por estarem muito empenhadas no relacionamento conosco. Elas nos tratam com honra e nos servem, ouvem e conversam conosco. As pessoas humildes estão verdadeiramente interessadas em nós.

Não deve nos surpreender que onde uma antítese da humildade – uma ambição egoísta – está presente, tenhamos “confusão e toda espécie de coisas ruins” (Tg 3.16). A ambição egoísta é dinamite para acabar com a paz: ela destrói a paz e deixa estilhaços de discórdia por toda parte, ela traz conflito e anarquia. A ambição egoísta deixa o seu rastro de conflito; a humildade deixa o seu rastro a paz: “Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz” (Tg 3.18).

Os pacificadores
Em Mateus 5.9, Jesus descreve um pacificador como “aquele que promove a paz” ou “a pessoa que restaura a paz entre outras pessoas”.[2] Os pacificadores ajudam a promover a paz de Deus nos relacionamento ao redor deles. Onde existem caos e brigas, os pacificadores levam calma e clareza. Para ser um pacificador, conforme já foi sido ensinado por muitos,[3]  o indivíduo deve estar disposto a “tirar a trave do seu olho”. Essas são palavras de Jesus em Mateus 7.5, que indicam uma forma de avaliar e assumir pessoalmente quaisquer erros que possam ter contribuído para o conflito. Dito de outra forma, é parar para ouvir e avaliar o que pode ter originado o conflito, e assumir a responsabilidade que lhe cabe pelas suas ações que podem ter causado tal conflito.

Um provérbio antigo já dizia: “Não há surdo pior do que aquele que não quer ouvir”. As pessoas orgulhosas não querem ouvir. Elas não querem saber os pontos em que podem melhorar; elas não querem avaliar como poderiam melhorar. Usando as palavras de Jesus, eles não querem “tirar a trave”. Por outro lado, as pessoas humildes promoverão a paz porque estão dispostas a considerar se existe uma trave e a remover uma possível trave.

As pessoas humildes são os melhores pacificadores
Isto é o que faz as pessoas humildes serem os melhores pacificadores: elas estão dispostas a ouvir e entender. Elas percebem nuances. Eles pedem para ouvir novamente e entender. As pessoas orgulhosas não fazem isso porque, em essência, elas não se importam com os outros. Elas não estão interessadas, pois têm a própria agenda. As pessoas humildes, porém, conforme C. S. Lewis escreveu, interessam-se de verdade por aquilo que você diz. Estou convencido de que nós podemos discordar um do outro  e ainda assim  entender completamente um ao outro e manter a paz um com o outro em questões de preferência. Isso é ser um pacificador.

Talvez essa seja a mensagem que precisamos levar avante para promover a paz: ser humilde e trabalhar nas habilidades de ouvir. Quando você acaba com aquilo que a outra pessoa tem a dizer antes mesmo de ela se expressas, isso não é humildade. Quando você rotula uma pessoa sem ouvi-la, isso não é humildade. Ou quando você formula uma resposta antes de realmente ouvir, isso também não é humildade. A humildade, ao contrário da ambição egoísta, move-nos a ouvir os outros, e quando ouvimos os outros com compreensão, temos menos conflitos e mais paz.

Ouvir ou não ouvir
Recentemente, recebi um e-mail de um indivíduo que criticou a nossa igreja por ter praticado o canto congregacional aos domingos durante algumas semanas nas quais o canto deveria estar temporariamente suspenso devido à pandemia do Covid 19. Aquela pessoa não queria uma resposta. Ela escreveu que nós éramos péssimas testemunhas para a comunidade de Santa Clarita e que não precisávamos colocar Colossenses 3.16 em prática literalmente. Para ser honesto, aquele e-mail machucou-me um pouco. Eu queria digitar rapidamente uma resposta forte e enviá-la. Ahhh!  Naquele momento, porém, fui confrontado com o fato de que as pessoas humildes são os melhores pacificadores, em boa parte porque são bons ouvintes, conforme vimos acima. No momento, eu tinha uma opção de “revidar o fogo” ou procurar entender a perspectiva daquela pessoa.

Não, eu não rascunhei uma carta de ódio e cliquei em “enviar”. Em vez disso, eu procurei entender a perspectiva daquela pessoa e criar um ambiente no qual eu pudesse fazer e responder perguntas. Eu também me dispus a compartilhar o entendimento da igreja a respeito da questão caso houvesse interesse em conhecê-lo. Precisei começar por ouvir e procurar entender a perspectiva do outro – até mesmo se nós discordamos um do outro. É difícil discordar e promover a paz. É difícil, mas ainda assim possível. Entretanto, quando Paulo apela para que a igreja de Filipos mantenha a unidade e a paz, ele o faz com base na humildade – a humildade de Cristo, mais exatamente (Fp 2.5). Cristo não se apegou aos Seus próprios direitos, mas os perdeu. Ele se tornou obediente até a morte. Se Cristo colocou os interesses dos outros antes dos dEle, o que nos impede de fazer o mesmo?

Daqui em diante, sejamos ouvintes humildes que deixam pegadas de paz, e não conflito.

Perguntas para refletir
1- Especificamente, como você precisa crescer enquanto ouvinte?
2- Como você pode priorizar os outro no seu dia a dia?
3- Existe alguma questão que você precisa reconsiderar porque ela o tem levado a provocar divisões?


[1] LEWIS, C. S. The complete C.S. Lewis signature classics. New York, NY: Harper One, 2002, p. 108. Tradução livre.
[2] ROGERS, Cleon Jr; ROGERS, Cleon III.  The new linguistic and exegetical key to the Greek New Testament. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1998, p. 9.
LOUW, Johannes P.; NIDA, Eugene Albert. Greek-English lexicon of the New Testament: based on semantic domains. New York: United Bible Societies, 1996, p. 502.
Um esclarecimento: é inevitável que aconteçam conflitos quando o evangelho for proclamado (Mt 10.34), mas deve existir paz nos relacionamentos dentro do corpo de Cristo (Ef 4.1-3).
[3] SANDE, Ken. O pacificador: como solucionar conflitos. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 81.


Greg E. Gifford é professor assistente de aconselhamento bíblico em The Master’s University. Ele completou o mestrado em aconselhamento bíblico The Master’s University e o doutorado no  Southwestern Baptist Theological Seminary. Atuou como conselheiro bíblico e pastor auxiliar antes de ingressar no corpo docente de The Master’s University, e é um conselheiro certificado pela Association of Certified Biblical Counselors (ACBC). Seu livro Helping Your Family through PTSD foi lançado em agosto de 2017.



Original: Good Listening Makes a Great Peacemaker
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition
Tradução: Rebeca Ferreira
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico
Usado com permissão.