Pecados habituais. Há esperança e ajuda em Cristo? – Parte 2

Kevin Carson

O pecado é uma batalha real que todo seguidor de Cristo enfrenta. Na Parte 1, descobrimos por que a batalha contra o pecado é tão difícil e que a esperança vem de Cristo. Na Parte 2, iremos nos aprofundar e descobrir uma batalha que é travada no coração de cada pessoa.

A batalha dos desejos é travada no coração
Depois de identificar os pensamentos, atitudes e comportamentos que precisam mudar, conforme vimos na parte 1, há uma etapa adicional em direção à mudança efetiva. A verdadeira batalha acontece no coração, onde o processo do pecado começa. Tiago escreveu: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado […]” (Tg 1.14, 15). Observe como ele descreveu o processo. O que você quer, anseia ou deseja cria uma armadilha que leva ao pecado. Tiago usa uma metáfora de sedução para descrever como seu próprio desejo o captura. Ele então faz a transição para uma metáfora da gravidez, na qual o desejo concebido leva inevitavelmente ao nascimento do pecado.

O princípio bíblico está claro: o que quer que você viva – seu desejo momentâneo – influenciará a totalidade da sua vida. Jesus usou o exemplo das árvores frutíferas para explicar esse processo (Lc 6.43-45). Ninguém jamais esperaria obter maçãs de um pessegueiro ou pêssegos de uma macieira. A fruta sempre combina com a raiz. Portanto, seja o que for que você deseja em seu coração – aquilo que exerce controle funcional sobre seu coração – determina o que você faz. Seu desejo é a raiz; sua resposta é o fruto. Torna-se imperativo, então, identificar qual o desejo que o governa, uma vez que é ele que determina se você honra a Deus em seus pensamentos, atitudes, palavras e ações. Como Jesus disse: “porque a sua boca fala do que está cheio o coração.” (Lc 6.45).

Para entender melhor esse princípio, pense em sua vida como um reino e em seu coração como a sala do trono. O que quer que você deseje mais do que tudo em sua vida está essencialmente no trono do seu coração. Para o cristão, esse desejo deve ser amar e honrar ao Senhor em tudo. Entretanto, em diversos momentos e situações, em vez de desejar glorificar a Deus, algo ou outra pessoa ocupa o trono. A vida passa a não ser vivida em amor e adoração a Deus; antes, ela é vivida em adoração e serviço a um substituto de Deus, um ídolo, um impostor no trono do coração.

A mudança acontece à medida que o crente reconhece para que está vivendo, qual o desejo que governa seu coração. Uma vez identificado, a confissão é feita a Deus, junto com compromisso de mudança prática. Entretanto, simplesmente se comprometer com uma mudança não é suficiente. Conforme mencionado na Parte 1, é essencial o trabalho árduo de determinar como se “revestir” especificamente de um comportamento agradável a Deus.

Qual é o processo da tentação?
Tiago conecta as tentações com o desejo. Sempre que houver uma circunstância específica de forte pressão em minha vida, meu desejo naquele momento determinará se vou pecar ou não. É assim que funciona o processo:
 ….   Você está em determinada circunstância
….    Você deseja fortemente algo
….    Você responde a essa circunstância a partir do seu desejo.

Sua circunstância nunca o faz pecar
É importante aqui compreender que a sua circunstância ou situação, a que nos referimos acima como pressão, nunca o faz pecar. A pressão é apenas a ocasião a partir da qual seu desejo opera. No entanto, muitas vezes, culpamos a pressão que sofremos em vez de identificar corretamente nosso desejo como o verdadeiro culpado.

Algumas perguntas esclarecedoras
….   Você já culpou as emoções pelas suas ações?
 ….   Você já culpou o cansaço?
….    Você já pensou: “Se você não tivesse dito isso, eu não teria …”?
….    Você já culpou o comportamento de outra pessoa pela sua explosão de ira?
….  Você já culpou o chefe, colega de trabalho, cônjuge, filho, pai, vizinho, amigo ou inimigo?
As perguntas poderiam continuar, e continuar.

Suas emoções, a falta de sono, as palavras e o modo de agir de outra pessoa, um chefe, colega de trabalho, cônjuge, filho, pai, vizinho, amigo ou inimigo, ou qualquer outra situação ou pessoa, fez você pecar? De acordo com Tiago, não.

….    Algumas ou todas essas coisas o influenciaram? Sim.
….    Você estava em condição favorável para pecar? Sim.
….    Essas pessoas ou situações o fizeram pecar? Não.

Um exemplo
Se eu chegar no Starbucks com poucos minutos disponíveis para estar ali, mas a fila se estender pela porta, posso ficar mal-humorado, reclamar do serviço ou ser rude com alguém à minha frente na fila. No entanto, se eu estivesse a duas horas do meu próximo compromisso agendado e me deparasse com aquela mesma fila, eu poderia de fato ficar desapontado por ter que esperar na fila, mas não ficaria mal-humorado e irritado, nem seria rude no trato com outras pessoas.

Por quê? Porque com a pressão de dispor de apenas alguns minutos, o meu desejo de tomar um café pode direcionar minha atitude e comportamento mais do que meu desejo de honrar a Deus, ser gentil com o próximo ou viver de forma consistente com o evangelho. Quando tenho tempo suficiente para ficar na fila para pegar meu café, meu forte desejo de tomar o café não é ameaçado. Quando possivelmente não tenho tempo, meu forte desejo de tomar aquele café é ameaçado. Meu desejo governa em ambos os casos e apenas reage à circunstância imediata em questão. Então, quando o desejo é ameaçado, eu peco por causa do meu desejo. Quando não existe uma ameaça não peco externamente. No entanto, embora não haja pecado exterior, o desejo desmedido pelo café ainda me domina.

Se o desejo de amar a Cristo e servir o meu próximo me governasse, em ambos os casos, eu não pecaria. Haveria desapontamento? Sim. Haveria inconveniência? Sim. Eu pecaria contra as pessoas da fila, os funcionários e a empresa? Não. Por quê? Porque o desejo de honrar a Cristo dominaria meu coração e eu não viveria em função de um café.

Na Parte 3, você aprenderá que a ajuda vem da Palavra de Deus e que a vitória é possível.



Original: Sin: hope and help in Christ, part 2
Artigo publicado em Kevin Carson, traduzido e publicado com autorização.

Tradução: Carla Siva
Revisão e adaptação para o português: Conexão Conselho Bíblico