Lee Lewis
O orgulho no coração humano anseia por controle, e são muitas as expressões desse controle. Em sua essência, o coração controlador diz: “Eu sei melhor do que Deus”. Os cristãos passam muito tempo procurando maneiras novas e engenhosas de lidar com esse problema enquanto o evangelho lida perfeitamente com o assunto. Vamos examinar brevemente algumas manifestações de um coração controlador e ver como submeter às verdades do evangelho o desejo tolo de exercer controle.
Na carta aos Gálatas, Paulo fala sobre um tipo de controle frequentemente descrito como justiça própria ou legalismo. Paulo diz em Gálatas 3.2, 3: “Quero apenas saber isto: vocês receberam o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado no Espírito, agora querem se aperfeiçoar na carne?”. Esses tipo de controle é típico do coração que quer adicionar algo ao evangelho para ser justo diante de Deus.
Os gálatas haviam adotado a crença de que a justificação não vinha apenas por meio de Cristo, mas requeria também “obras da lei”. Eles tinham sido tão atraídos por essa perspectiva que Paulo os descreveu como “enfeitiçados”. Em seu coração, o desejo de controle fazia com que eles vissem o evangelho como uma solução parcial para a justificação de seus pecados. Suas obras de justiça deveriam completar a obra de Cristo.
Ao ler esse texto, eu me pergunto como eles podiam ser tão tolos. No entanto, aquele coração propenso ao controle, que se expressou na busca de obras para a autojustificação, não tão era diferente do nosso coração. Parece haver uma tentação sutil entre os cristãos de acreditar na mentira de que a maturidade espiritual requer algo além do evangelho.
A natureza da carne é controladora e desejosa de se autogovernar. Procurar controlar nossa justificação ou santificação com a lei não nos faz de forma nenhuma ganhar mais favor da parte do Senhor. Não existe uma versão atual ou futura de nós que agrade a Deus a não ser pelo evangelho. A advertência de Paulo é clara: somente a fé em Cristo nos justifica diante do Deus santo (Gl 3.3-5).
Como você pode saber o quanto seu coração é controlador? Comece por responder a estas perguntas.
1- Com que frequência você lida com os erros percebidos dando-se a uma busca implacável por justiça?
Vá devagar ao responder a esta pergunta. Buscar justiça não é necessariamente errado. A Bíblia fala sobre a justiça perfeita de Deus. Isaías 61 fala sobre o amor de Deus pela justiça. Nessas situações, o controle em seu coração pode se revelar quando você não quer esperar pela justiça perfeita de Deus ou deseja levar a justiça de Deus vários passos adiante. Ambos são evidência de um coração controlador.
O evangelho o liberta da busca pessoal de justiça. Como um ser finito e caído, você não tem a capacidade de satisfazer a justiça de Deus. Gálatas 3.13 diz: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar — porque está escrito: ‘Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro”. Cristo carregou sobre si o julgamento de Deus para nos dar verdadeira liberdade.
2- Com que frequência ou com que rapidez você apresenta seu currículo de boas obras a outras pessoas?
Talvez você precise parar e pensar um pouco sobre isso. Se o evangelho é visto apenas como a porta de entrada ou um nível elementar da vida cristã, a busca pela maturidade espiritual se dará por um meio diferente do evangelho. Um coração controlador não confia no evangelho para a santificação. Para ele, o processo de crescimento espiritual ocorre por meio de boas obras autocentradas, razão pela qual ele faz comparações constantes com outras pessoas.
Em Gálatas 3.1-3, Paulo diz: “Ó gálatas insensatos! Quem foi que os enfeitiçou? Não foi diante dos olhos de vocês que Jesus Cristo foi exposto como crucificado? Quero apenas saber isto: vocês receberam o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado no Espírito, agora querem se aperfeiçoar na carne?”. O mesmo evangelho que salva também santifica.
3- Você tem dificuldade para confiar nos outros, e especialmente no Senhor?
As pessoas costumam oscilar entre a desconfiança e o excesso de confiança nos outros. A confiança em si mesma não é algo ruim. No entanto, ela pode ser mal interpretada e colocada no lugar errado (cf. Jr 17.5-8).
Alguém que não confia controla os outros mantendo-os à distância. Manter distância cria uma sensação de que você está ditando as regras e parece ser algo seguro. A Bíblia tem muito a dizer sobre confiar em Deus, e o evangelho enfatiza firmemente isso. Se a nossa esperança e a nossa confiança estão em Cristo, estamos construindo nossa vida sobre a rocha. Com esse fundamento, a busca por controle é eliminada e entregue a Jesus.
4- Com que frequência você se fecha emocionalmente ou se levanta agressivamente diante de ameaças percebidas?
Ambas as reações nascem de um coração controlador. Diante de uma ameaça percebida, o controle entra em ação rapidamente na forma que lhe parece familiar e confiável. Quando as pessoas se fecham, elas afastam a ameaça voltando-se para dentro. A agressividade também é uma forma de controle. No entanto, em vez de se voltar para dentro, a reação é de explosão para ganhar o controle.
Isaías 30 descreve o controle como fazer uma aliança com algo ou alguém que não seja o Senhor. Em resposta à ameaça dos assírios, os israelitas tramaram rapidamente um plano. Eles avaliaram a ameaça que pesava sobre eles e procuraram controlar o resultado. Deus os chamou para o descanso e arrependimento, ou seja, Ele os chamou a renunciar ao controle.
Como aplicar à sua vida? Você pode dar alguns passos para renunciar ao controle no seu coração.
1- Admita que seu coração é controlador.
Reconheça que o controle é uma manifestação de orgulho e de deixar de acreditar no evangelho em alguma área específica de sua vida.
2- Confesse a área em que seu coração controlador pensa que você é suficiente e não precisa de Cristo.
Admitir isso diante do Senhor e confessar a outros irmãos em Cristo são passos de arrependimento. Essas etapas alinham seu coração com o Grande Mandamento (Mt 22.27-34-40).
3- Substitua o controle pela submissão de todas as áreas da vida às verdades do evangelho, especialmente aquelas áreas em que seu coração é mais vulnerável.
Jesus é suficiente! Sua obra na cruz satisfaz perfeitamente nossa necessidade de justificação e sustenta perfeitamente a obra que Deus está fazendo em sua vida por meio da santificação. Renuncie ao controle em seu coração e olhe repetidamente para as verdades maravilhosas do evangelho.
As quatro perguntas iniciais são apenas exemplos que vêm da minha vida e da vida de pessoas que aconselhei. Em espírito de oração, devemos colocar nosso coração e nossa vida diante do Senhor para que Ele revele as áreas que estamos querendo manter sob nosso controle, ou seja, as áreas em que estamos deixamos de confiar no evangelho.
Nossos esforços de controle levam-nos apenas ao desapontamento, ao desespero e a mais orgulho. Abandonar um coração controlador é admitir a futilidade da busca egocêntrica de redenção à parte de Cristo.
Lee Lewis mora em Austin, Texas, onde é o pastor responsável pelo ministério de aconselhamento na Radiant Church. Ele também atua como consultor em Soul Care Consulting Soul. Anteriormente, serviu como pastor na The Village Church durante quase dez anos e esteve no Canadá por três anos, quando foi responsável pelo ministério de aconselhamento na Harvest Bible Chapel in Muskoka. Durante aquele tempo, também atuou como diretor/consultor de uma rede de plantações de igrejas em Ontário. Lee Lewis é membro da Association of Biblical Counselors.
Original: Laying the Gospel over a Controlling Heart
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico
Usado com permissão.
Conexão Conselho Biblico 