Keith Palmer
Como conselheiros bíblicos, precisamos ter o cuidado de ouvir com atenção e reunir todas as informações relevantes antes de começarmos a aconselhar uma pessoa.
O aconselhamento bíblico envolve basicamente a utilização de alguns elementos-chave: coleta de dados, envolvimento para a construção de um relacionamento, determinação das necessidades às quais ministrar, ministração da Palavra, comunicação de esperança e implementação de atividades práticas para o aconselhado fazer. Neste artigo, veremos a habilidade de coletar dados.
Segure a língua
Provérbios 18.13 adverte todos os possíveis conselheiros: “Responder antes de ouvir é tolice e vergonha”. Esse versículo ensina que é tolo e vergonhoso dar conselhos até que tenhamos realmente entendido a situação corretamente. É provável que todos nós já tenhamos experimentado o embaraço de ter respondido a alguém prematuramente, para logo descobrir que estávamos fazendo suposições ou deixando de ouvir com cuidado.
No Antigo Testamento, uma mulher chamada Ana foi ao templo orar para que Deus lhe desse um filho. No processo, o sacerdote Eli observou seus lábios se movendo, mas não ouviu sua voz porque ela orando silenciosamente ao Senhor. Sem fazer perguntas, ele a repreendeu tolamente: “Até quando você vai ficar embriagada? Trate de ficar longe do vinho!” (1Sm 1.12-14). Ana respondeu: “Não, meu senhor! Eu sou uma mulher angustiada de espírito. Não bebi vinho nem bebida forte. Apenas estava derramando a minha alma diante do SENHOR” (v. 15). Pense numa situação constrangedora. Eli presumiu que ela estivesse bêbada e a repreendeu quando, na verdade, ela estava angustiada e precisava de cuidados e encorajamento.
Precisamos ter o cuidado de ouvir com atenção e reunir todas as informações relevantes antes de prosseguir num aconselhamento. Se não coletarmos completamente os dados, corremos o risco não apenas de ficar constrangidos momentaneamente, mas de também prejudicar potencialmente outras pessoas com conselhos inadequados ou repreendendo-as quando aquilo de que necessitam é conforto.
Pise no freio
Se queremos reunir dados de maneira adequada no aconselhamento, devemos desenvolver domínio próprio em várias áreas. Em primeiro lugar, devemos desenvolver ter o domínio próprio de “pisar no freio” ao iniciar um aconselhamento. Isso significa que devemos resistir ao impulso de tirar conclusões precipitadas e dar conselhos antecipados. Percebi que os conselheiros iniciantes costumam estar tão ansiosos para dar respostas bíblicas aos aconselhados que não praticam a disciplina de primeiro colher um quadro completo da situação. Embora possa parecer que essa prática retarda muito o aconselhamento, ela é na verdade uma parte importante do ministério de aconselhamento eficaz.
Em segundo lugar, devemos desenvolver domínio próprio para estruturar o aconselhamento de forma a dar tempo suficiente para a coleta de dados. Por exemplo, os conselheiros sábios costumam dedicar a maior parte do tempo do primeiro encontro à coleta de dados. Também pode ser útil prever um primeiro encontro mais longo que os demais, para que se possa alcançar um entendimento mais completo da situação.
Em terceiro lugar, devemos demonstrar domínio próprio para não confiar em nossa intuição ou experiência em lugar da coletar os dados de forma completa. Ao iniciar um novo aconselhamento, pode ser tentador acreditar que “já ouvimos um caso como este antes” ou achar que temos uma “noção” do que está acontecendo. Mas, a experiência e os “palpites” nunca devem substituir a prática cuidadosa e sábia de coletar informações e conhecer essa situação única de aconselhamento.
Estratégias para a coleta de dados
Os conselheiros bíblicos usam um conjunto de abordagens para coletar informações no ministério de aconselhamento. Aqui estão cinco estratégias para coletar dados de maneira eficaz no aconselhamento.
Formulário de dados pessoais. É possível pedir que o aconselhado preencha um formulário com dados pessoais e de sua situação. Muitos conselheiros bíblicos usam alguma ferramenta do gênero que, quando preenchida pelo aconselhado antes do primeiro encontro, ajuda o conselheiro por já dar as informações básicas sobre o aconselhado e sua situação. Isso economiza tempo no aconselhamento e permite que o conselheiro se prepare de forma mais adequada para o encontro.
Perguntas. Aprenda a fazer perguntas. Grande parte da coleta de dados está baseada na habilidade de fazer as perguntas certas. Os conselheiros bíblicos alternam entre perguntas extensivas – perguntas para colher informações básicas sobre várias áreas da vida do aconselhado como família, finanças, saúde, condição espiritual, emoções etc. – e perguntas intensivas – perguntas para colher informações mais detalhadas sobre determinada áreas da vida. Além disso, os conselheiros sábios sabem como fazer perguntas que revelam o coração: “Os propósitos do coração humano são como águas profundas, mas quem é inteligente sabe como trazê-los à tona” (Pv 20.5). Uma pergunta que revela o coração é uma pergunta elaborada para revelar as motivações, as crenças, os pensamentos e os desejos de uma pessoa. Visto que o comportamento flui do coração (Pv 4.23), os conselheiros devem obter informações no nível do coração se quiserem realmente ajudar as pessoas.
Atividades práticas. Crie atividades práticas para serem feitas pelo aconselhado entre um encontro e outro para coletar os dados necessários. Elas consistem em atividade a serem concluídas antes do encontro seguinte, que facilitam o processo bíblico de mudança na vida do aconselhado e reforçam o que ele aprendeu durante o aconselhamento. As atividades práticas também podem ser uma ferramenta útil para coletar informações. Por exemplo, podemos pedir a uma pessoa ansiosa que registre os episódios de ansiedade durante a semana, respondendo a perguntas básicas: O que provocou a ansiedade? O que você estava pensando? O que você estava temendo? Como você lidou com isto? Em um caso particularmente complexos, podemos pedir ao aconselhado como atividade prática que trace uma linha do tempo básica com os eventos ou sua “história de vida”. Atividades práticas como essas fornecem informações cruciais e não exigem que o conselheiro colete todas as informações durante o encontro, economizando um tempo valioso.
Informações não-verbais. Observe os dados que provêm de informações não verbais, observadas durante os encontros de aconselhamento. Exemplos disso são o semblante, a postura, o humor, a aparência, o tom de voz, as expressões faciais, os suspiros ou as lágrimas de uma pessoa. Em suma, precisamos prestar atenção às informações não-verbais, pois elas podem confirmar as informações verbais ou contrastar com elas. No exemplo bíblico citado anteriormente, envolvendo Ana e Eli, o sacerdote observou informações não-verbais, mas tirou erroneamente uma conclusão prematura, sem verificar aquilo que estava observando. As informações não-verbais não são conclusivas, mas devem ser usadas para fazer mais perguntas esclarecedoras e para lidar com quaisquer possibilidades de inconsistência entre as palavras de uma pessoa e uma informação não verbal observada.
Outras fontes. Recorra a outras fontes. Provérbios aconselha: “O primeiro que pleiteia a sua causa parece justo, até que vem o outro e o examina” (Pv 18.17). As informações que vêm apenas de uma pessoa não são tão confiáveis quanto as que são confirmadas por outras pessoas. Quando apropriado, e com o consentimento do aconselhado, converse com parentes, pastores e amigos próximos sobre a situação do seu aconselhado. Frequentemente, somos cegos às nossas fraquezas mais óbvias, que ficam facilmente evidentes para os outros (Mt 7.3-5).
Múltiplas fontes de informação resultam geralmente em clareza no aconselhamento.
Três maneiras para melhorar a coleta de dados
Como você pode melhorar suas habilidades na coleta de dados? Aqui estão três sugestões.
1- Observe um conselheiro experiente. Em sua igreja ou região, você pode observar o ministério de um pastor ou líder espiritual preparado para aconselhar, pode se aproximar de um conselheiro bíblico ligado à Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos (ABCB) ou mesmo conseguir gravações de encontros de aconselhamento para assistir. Observe, aprenda, faça anotações. Pratique!.
2- Leia o capítulo “Perguntas do Raio X” no livro de David Powlison “Uma nova visão” (capítulo 7).
3- Pratique fazendo perguntas e ouvindo com atenção para conhecer as pessoas. Você pode fazer isso com pessoas em sua igreja, em sua vizinhança ou em sua família. Se você não souber o que perguntar, pode ser útil preparar perguntas sobre diferentes áreas da vida de uma pessoa: família, saúde, trabalho/estudo, hobbies/interesses e fé/igreja. Como qualquer outra habilidade, só melhoramos quando praticamos.
Keith Palmer atua como membro do conselho da Association of Certified Biblical Counselors (ACBC) e é um dos pastores da Grace Bible Church em Granbury, TX.
Original: Back to Basics: Data Gathering
Artigo publicado pela Association of Certified Biblical Counselors. Traduzido com autorização.
Tradução de Carla Silva
Revisão e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico