Steve Midgley
O que fazer quando nosso aconselhamento parece estar estagnado? Quando nossos planos, por mais excelentes que fossem, alcançaram quase nenhum resultado? Quando as semanas passam e os problemas permanecem os mesmos: a depressão não passa, a ansiedade continua intensa, o relacionamento com Deus não cresce. Nosso conselho parece ineficaz.
Esse lugar não é desconhecido para nós conselheiros. O que podemos fazer quando você e eu nos encontramos lá? Aqui estão cinco sugestões de como proceder quando o aconselhamento parece não fluir como gostaríamos.
1- Admita
Com muita frequência, evitamos reconhecer o óbvio. Sugerimos novas estratégias de ação ou reforçamos as antigas. Encorajamos novas atividades de leitura da Bíblia, oração e prestação de contas. Com esses esforços alimentamos a ilusão de que algo pode acontecer e haverá progresso na vida do aconselhado. Mas não é assim, e é muito importante reconhecer esse fato.
2- Ore
Um grande benefício dessa admissão é que a oração costuma ser o passo que vem logo a seguir. Enquanto continuamos a fingir que nossas estratégias excelentes estão alcançando algum resultado, somos tentados a nos esforçar para fazer ainda mais. Com muita facilidade, começamos a crer que a solução depende de nós e de nossos esforços intensos, o que significa que nos esquecemos de orar. Uma vez que admitimos que o aconselhamento não está progredindo, nós nos damos conta daquilo que sempre foi a verdade: o progresso e a mudança em vidas que realmente importam vem do Senhor. Vamos, então, orar.
Os salmistas podem ser nossos mestres nisso, pois eles sabiam como falar sobre a experiência de se sentir de alguma forma estagnado: “A minha alma está profundamente perturbada; mas tu, SENHOR, até quando? Volta-te, SENHOR, e socorre-me; salva-me por tua graça.” (Sl 6)
3- Faça da “estagnação” parte da conversa com o aconselhado
Se você está percebendo que o aconselhamento está estagnado, é provável, mas não certo, que seu aconselhado também esteja se dando conta disso. Falar sobre essa experiência pode ser tranquilizador, pois nos ajuda a saber que a outra pessoa entende nossa frustração e preocupação. Também pode ser revelador, pois nos leva a descobrir o que essa experiência significa para ele e particularmente o que isso significa para seu relacionamento com o Senhor. Também pode revelar novos aspectos importantes sobre as lutas que o aconselhado está enfrentando. Talvez ficar estar estagnado não o incomode tanto quanto você esperaria. Talvez o problema tenha um papel funcional em sua vida, o que significa que se livrar dele é menos atraente do que você esperaria. Talvez ver-se estagnado confirme seus piores medos sobre si mesmo e signifique para ele que Deus desistiu dele. Esses são assuntos para uma conversa.
4- Volte ao início
Ao encontrar-se aparentemente em um beco sem saída, a pessoa sábia refaz seus passos para garantir que não tenha andado pelo caminho errado. No aconselhamento, é sábio fazer algo parecido. Devemos voltar ao início e verificar se não deixamos de lado algo importante. Em geral, sou totalmente aberto a esse respeito com o aconselhado. “Vamos voltar ao início”, costumo dizer. “Vamos voltar ao início e ver se deixamos de lado algo importante.” Em seguida, temos uma conversa em que faço o mesmo tipo de perguntas que posso usar para conhecer uma pessoa pela primeira vez. Faço uma revisão de sua experiência presente e história passada. Invisto tempo para ouvir sobre o aconselhado e suas circunstâncias. Visto que isso acontece depois de eu já ter acumulado previamente um conhecimento significativo a respeito dele, essas perguntas são mais produtivas do que da primeira vez. Isso geralmente significa que identificamos com maior facilidade alguns aspectos relevantes que ignoramos anteriormente.
5- Envolva outras pessoas
É um princípio testado e comprovado que você deve ampliar o círculo de pessoas envolvidas no aconselhamento quando ele estiver travado. Isso pode significar trazer alguém da rede de relacionamento do próprio aconselhado. Observar como o seu aconselhado se comporta na presença de outra pessoa durante o encontro pode revelar uma dinâmica relacional que você desconhecia e mostrar novos problemas do coração a serem explorados. Uma conversa na presença do cônjuge, do pai ou de um amigo pode esclarecer melhor o que está acontecendo ou o que pode ajudar.
A “outra pessoa” que envolveremos pode também ser outro conselheiro. Talvez não sejamos a melhor pessoa para ajudar aquele aconselhado. Talvez outra pessoa tenha mais experiência ou uma abordagem diferente, o que ajudará o aconselhado de uma maneira que nós não conseguimos. Seria uma clara expressão de orgulho imaginar que somos sempre a melhor pessoa para ajudar. Como diz Provérbios: “O caminho do insensato parece reto aos seus olhos, mas o sábio ouve os conselhos” (Pv 12.15).
Às vezes, outros conselheiros podem servir simplesmente de “caixa de ressonância” para nós, levando-nos a identificar o que está acontecendo. Se não tivermos o costume de conversar sobre nossos aconselhamentos com outras conselheiros, sempre resguardando a identidade do aconselhado para manter a devida confidencialidade, é hora de começar a fazê-lo.
Uma oportunidade, não uma ameaça
Com muita facilidade, encaramos a “estagnação” no aconselhamento como uma ameaça. Mas isso ocorre porque apostamos demais em nosso próprio sucesso, o que pode nos levar à única coisa que precisamos evitar nesse momento: culpar o aconselhado. Seja de forma explícita, seja de forma implícita – o que é mais frequente –, podemos ficar irritados com aqueles que não respondem ao que consideramos ser nosso excelente aconselhamento!
Estar no “beco sem saída’ é um momento para renovar nossa dependência de Deus em oração e nos lembrar de quem é Aquele que produz a mudança e cuja glória estamos buscando. Na verdade, quando estamos mais preocupados com a glória de Deus, a estagnação pode ser vista como uma oportunidade e não como uma ameaça, pois ela nos permite reconhecer nossa necessidade e depender de Deus. Ela aumenta a probabilidade de reconhecermos nossa completa dependência do Senhor, tanto para nós quanto para aqueles que estamos procurando ajudar. Não despreze os humildes recomeços!
Perguntas para reflexão
1. Como você costuma responder à experiência de estar estagnado em “um beco sem saída” no aconselhamento?
2. O que você considera como “sucesso” no aconselhamento?
3. Entre as pessoas que você está aconselhando atualmente, alguém parece estar estagnado? O que você pode fazer para lidar com essa situação?
Steve Midgley é diretor executivo da Biblical Counseling UK, um ministério comprometido com a mudança centrada em Cristo, capacitada pelo Espírito, por meio do ministério da Palavra na igreja local. Steve Midgley atua na Christ Church em Cambridge, e completou sua formação como médico psiquiatra antes de se dedicar ao ministério. A Biblical Counseling UK mantém um programa de conferência anual, um curso de certificação com duração de três anos e um programa de estágio baseado na igreja local. É membro do conselho da CCEF e do conselho da Biblical Counseling Coalition. Também é coautor de The Heart of Anger com Christopher Ash.
Original: When Counseling Gets Stuck
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico