Quatro perguntas para examinar seus pensamentos indesejados

Esther Smith

Você costuma ser surpreendido por pensamentos indesejados? Você alimenta ideias sobre si mesmo, o mundo ou Deus que parecem verdadeiras, mas que no fundo você sabe que não são? Você se sente atormentado por pensamentos desagradáveis e estressantes, ou pensamentos intrusivos? Você não tem certeza sobre o que fazer com alguns dos pensamentos que entram em sua mente?

Os pensamentos indesejados vêm em muitas formas. Talvez você esteja frequentemente preocupado ou ansioso. Talvez passem pela sua cabeça, com certa frequência, pensamentos de desânimo ou mesmo de que não há mais esperança nenhuma para você. Você pode lutar com pensamentos irracionais, pecaminosos, de autodepreciação. Não importa o tipo de pensamentos indesejados que você experimenta, talvez você se sinta preso ao tentar mudá-los.

Não existe uma única solução mágica para mudar nossos pensamentos. Quando os pensamentos indesejados persistem, precisamos dar alguns passos que se baseiem em estratégias biblicamente garantidas. Um dessas estratégias é descrita nas Escrituras como o processo de examinar a nós mesmos: “Examinemos bem os nossos caminhos e voltemos para o SENHOR”  (Lm 3.40; veja também 2Co 13.5). Esse exame é uma maneira de manter uma vigilância atenta, cuidando de nós mesmos e da doutrina (1Tm 4.16). É por meio dele que discernimos o quanto os pensamentos que cruzam nossa mente são precisos e úteis.

Muitas vezes pensamos nesse exame como um processo de sondar se existe pecado em nosso coração. No entanto, o objetivo de discernir nossos pensamentos “não é simplesmente evitar o mal nesta vida; é aprender e abraçar o que é bom para que possamos encontrar prazer naquilo que é bom”.[1] Sim, um de nossos objetivos é levar cativos os pensamentos pecaminosos (cf. 2Co 10.5), mas o objetivo maior do exame de nossos pensamentos é cultivar uma mente quieta e cheia de pensamentos ​​que agradam a Deus.

Você pode colocar em prática o exame de seus pensamentos, e identificar um pensamento indesejado com o qual luta, fazendo a si mesmo as seguintes perguntas com um olhar investigativo.

Pergunta nº 1: Este pensamento é verdadeiro?
Deus nos orienta a ter pensamentos verdadeiros: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o pensamento de vocês” (Fp 4.8). Podemos avaliar se um pensamento é verdadeiro verificando se ele se alinha com as Escrituras (cf. João 17.17) e perguntando às pessoas em quem confiamos se estamos com uma percepção clara dos fatos (cf. Pv 12.15). Essa pergunta é importante porque estamos sujeitos a muitos problemas e encrencas quando nos apegamos a pensamentos que não são precisos.

Os pensamentos falsos sobre nossa identidade podem nos levar ao desespero: Eu sou inútil. As previsões falsas sobre o futuro e suposições imprecisas sobre outras pessoas podem nos tornar escravos da ansiedade: Eu não vou passar no exame, ou Ela deve me odiar. Crenças erradas sobre Deus e nossa posição no mundo deixam-nos presos à falta de esperança: Deus deve pouco se importar que eu esteja sofrendo, ou As pessoas estariam melhor sem mim. O primeiro passo para examinar um pensamento é determinar se ele é preciso.

Pergunta nº 2: Este pensamento é útil?
Não é suficiente que os pensamento sejam verdadeiros. Para que sejam úteis, temos que aplicar sabedoria e sensibilidade aos nossos pensamentos verdadeiros para que eles aconteçam no momento adequado, no contexto adequado e com o motivo adequado.

Talvez seja verdade que você tem uma reunião amanhã, mas durante a noite, provavelmente, não é o momento adequado para refletir sobre o que você falará. É verdade que você luta contra o pecado, mas não será útil focar somente em sua natureza pecaminosa quando estiver se sentindo abatido. Talvez seja verdade que seu vizinho tem uma bela casa, exatamente como você gostaria de ter, mas fixar a atenção nessa verdade, a ponto de invejar seu vizinho, não ajudará em sua santificação pessoal. Depois de determinar se um pensamento é preciso, o passo seguinte, então, é perguntar a si mesmo: “É útil alimentar esse pensamento? Ele é útil para meu crescimento em santidade?”

Pergunta nº 3: Este pensamento é apropriado para minha situação?
Quando surge um pensamento desagradável, devemos também lembrar que nosso objetivo não é necessariamente tornar nossos pensamentos mais positivos e agradáveis. Pode ser apropriado e bíblico ter pensamentos tristes, desagradáveis, ou mesmo pensamentos que envolvem ira ou medo.

Se um urso o está perseguindo na floresta, o esperado e apropriado é que você tenha pensamentos que envolvem o medo. Esses pensamentos podem mantê-lo vivo. Se você testemunhar um abuso, é apropriado ter pensamentos de ira, que podem levá-lo a buscar segurança e justiça para a vítima. Se você estiver enfrentando provações extremas na vida, muitas vezes será mais apropriado deixar seus pensamentos irem em direção a Deus com lamentos do que forçar sua mente a negar a dor. Nossos pensamentos devem refletir adequadamente nossas circunstâncias. Pensamentos biblicamente fiéis são, às vezes, pensamentos difíceis e desagradáveis.

Pergunta nº 4: Este pensamento está completo?
Às vezes, avaliamos um pensamento e descobrimos que ele preenche todos os itens até aqui. O pensamento é, de fato, verdadeiro, útil e apropriado. Nosso exame, porém, ainda não terminou. Precisamos considerar se o pensamento está completo.

Uma razão pela qual precisamos dessa pergunta é porque, às vezes, começamos a pensar que metade da verdade representa toda a verdade. Na realidade, “uma meia verdade mascarada como toda a verdade torna-se uma completa inverdade”.[2] Em sua luta com os pensamentos indesejados, em quais meias verdades você começou a acreditar?

— Sim, é verdade que você é um pecador, mas que verdade do evangelho você precisa manter em conjunto com essa realidade?
— Sim, é verdade que você está sofrendo, mas que verdade sobre Deus deve se unir à sua dor?
— Sim, seus problemas podem lhe parecer grandes demais para que você lide com eles, mas que palavras encorajadoras também são verdadeiras sobre esta situação?

Perguntar a nós mesmos “Este pensamento está completo?” leva-nos muitas vezes a nos lembrar de pensamentos que esquecemos ou minimizamos, mas que são importantes para a situação. “Isso é triste” pode ser verdadeiro, útil e apropriado. No entanto, “Isso é triste e Deus é fiel” é verdadeiro, útil e apropriado, e nos oferece uma perspectiva completa.

Você pode querer fazer essa pergunta também de outra maneira. Ao examinar um pensamento, pergunte a si mesmo: “E o que mais?” Aprendi essa pergunta com uma conselheira sábia, minha amiga Eliza Huie.[3] Perguntar “E o que mais?” leva-nos a considerar outras questões: Que outros pensamentos são verdadeiros? Que outros pensamentos são úteis e apropriados à minha situação? Que pensamentos corretos, puros, amáveis, admiráveis, excelentes, louváveis ​​estou deixando de lado (cf. Fp 4.8)?

Interrompa seus pensamentos em tempo real
Quanto mais você praticar essas perguntas, mais você aumentará sua capacidade de interromper seus pensamentos no momento certo. Ainda hoje, você pode ser pego em um ciclo de pensamentos ansiosos, ambientados no pior cenário: Tudo sempre dá errado para mim. Se você dedicou algum tempo à leitura das perguntas acima, você pode parar espontaneamente para perguntar: Isso é verdade? Na próxima semana, um pensamento indesejado pode lhe vir à mente: Eu falhei completamente. Se você dedicou tempo para praticar as perguntas, talvez desta vez você pare e se pergunte: Este pensamento está completo? Você acabou de criar uma base para mudar os pensamentos indesejados que cruzam sua mente.

Perguntas para reflexão
1. Com quais tipos de pensamentos indesejados você mais luta?
2. Como você pode se lembrar de desacelerar e fazer essas perguntas a si mesmo quando surgirem os pensamentos intrusivos indesejados?


[1] Esther Smith, A Still and Quiet Mind, (Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2022).
[2] Ibid.
[3] Eliza Huie, “Changing Negative Thinking,” ElizaHuie.com, accessed July 11, 2022, https://elizahuie.com/2021/04/09/1066/.


Esther Smith tem um mestrado na área de aconselhamento e completou o treinamento em aconselhamento bíblico na Christian Counseling & Educational Foundation (CCEF).


Original: Four Questions to Help You Examine Unwanted Thoughts
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico