Gula: encontrando alegria e satisfação na comida

Rob Green

As estatísticas são conhecidas de todos nós. O sobrepeso e a obesidade são um dos maiores problemas de saúde pública do mundo ocidental. Assim como é possível ter uma excelente condição financeira e ser uma pessoa piedosa, também é possível ter sobrepeso e ser uma pessoa piedosa. É verdade que nem todos nós fomos abençoados com um metabolismo acelerado. No entanto, de nada serviria desculpar todo e qualquer sobrepeso atribuindo a responsabilidade a um metabolismo lento.

O fato é que muitas pessoas adoram a comida mais do que adoram a Deus. Muitas pessoas amam a comida e a alegria que ela traz mais do que amam a Cristo e a alegria que Ele traz. Para onde isso nos leva? Consideraremos inicialmente o que a Bíblia diz sobre a questão da gula.

Os textos-chave na Bíblia
A gula não é um assunto que costumamos estudar na Bíblia. No Novo Testamento, ela está sempre ligada à questão de beber em excesso (Mt 11.19; Lc 7.34). O substantivo grego está semanticamente relacionado ao verbo “comer”. Sua ligação com a embriaguez sugere um uso descontrolado dos alimentos. Em ambas as passagens, Jesus está repreendendo os fariseus, e aquela geração em geral, por rejeitá-lo chamando-o de bêbado e glutão – o que não era verdade, é obvio. O fato de a gula e a embriaguez estarem tão intimamente ligadas não deve surpreender se estudarmos o conceito de gula no Antigo Testamento.

O termo hebraico usado para gula, traduzido algumas vezes como “comilão” (cf. Dt 20.21 – NAA), vem da raiz que, entre outros significados, tem o de “desperdiçador”. O termo traz a ideia de “gula” em quatro versículos (Dt 21.20; Pv 23.20, 21; Pv 28.7). Todas essas passagens, com exceção de Provérbios 28.7, ligam a embriaguez à gula.

Em resumo, olhando para as passagens bíblicas que usam a linguagem “glutão” ou “comilão”, chega-se à conclusão básica de que esses termos se referem à pessoa que tem um hábito alimentar descontrolado que, às vezes, mas não necessariamente, está ligado à embriaguez.

O conceito bíblico de gula
A conclusão básica a que acabamos de chegar também pode ser confirmada por passagens que expressam a ideia de gula sem usar propriamente o termo “gula”. É claro que precisamos ter algum cuidado para não fazer os textos simplesmente dizerem o que nós queremos. Na minha opinião, porém, Esaú parece ser um exemplo clássico (veja Hb 12.16, 17 cf. Gn 25.30-34), embora alguns também apontem para a experiência no deserto como outro exemplo de gula (Sl 78.18 cf. Nm 11.4). Outros ainda destacam os pecados dos filhos de Eli em 2Samuel 2.12-17 e, nas epístolas do Novo Testamento, também podemos apontar para Filipenses 3.19 e Romanos 13.13, 14.

Em outras palavras, olhar para exemplos bíblicos e encontrar o conceito de gula confirma nossa premissa básica de que a gula é um hábito de descontrole, o indulgência, com relação à comida, que faz com que o que vai para o estômago tenha mais valor do que Deus ou Sua Palavra.

A identificação de um comilão
A definição de gula que acabamos de dar é algo extremamente importante, pois demonstra que a gula é uma questão do coração. Como a gula e a embriaguez estão tão intimamente ligadas, a tendência é pensar que a gula é o “alimento sólido” companheiro de como o beberrão trata o álcool. A forma com que lidaríamos com alguém que passou a abusar da bebida alcoólica parece razoável para lidar com alguém dado à gula.

Perguntas como estas parecem ser importantes:

  1. Quando a vida é difícil, onde você procura alegria e satisfação?
  2. Quando você está sofrendo, onde você busca conforto?
  3. Quando você pensa em um “momento de descontração”, quais elementos estão incluídos?
  4. Você faz com que algo bom (o alimento) passe a ser algo ruim (entregar-se ao excesso)?

Para o comilão, as respostas às três primeiras perguntas acabam voltando-se para a comida. A comida é o recurso usado para ter alegria e satisfação, além de energia para o seu dia. Com a quarta pergunta, ele vai reconhecer que se entrega à comida e exagera em vez de comer uma porção razoável.

Deve ficar claro que esta é uma maneira radical de olhar para a gula, pois ela implica o seguinte:

  • Alguém magro pode, na verdade, ser um comilão porque é na comida que ele encontra conforto, alegria e satisfação, mesmo que seu corpo seja capaz de metabolizar de forma eficiente a comida ingerida.
  • Alguém com excesso de peso pode não ser um comilão porque seu corpo está mais inclinado a ganhar peso mesmo comendo porções razoáveis.
  • A balança, embora seja um possível indicador, não conta toda a história porque a balança não consegue ver o coração.

Definimos a gula, identificamos o comilão, agora é hora de ajudar.

Conselhos para dar a um comilão
Estas são três verdades para ajudar os comilões ao seu redor:

  1. Os comilões devem perceber que a gula é um pecado. É uma ofensa a Deus encontrar alegria, satisfação e conforto na comida e não em quem providencia alimento para nós, ou seja, em Deus.
  2. Os comilões devem aprender a adorar o Criador em lugar da criação. Os comilões devem aprender a adorar a Deus em lugar de adorar as alegrias da comida.
  3. Os comilões devem ver Deus como aquele que os resgata (veja Salmo 40, especialmente vv. 1-4) de suas dores, lutas e dificuldades, em vez de acreditar que a comida pode resgatá-los.

A cruz do Senhor Jesus e sua graça sustentadora podem libertar o comilão de seu vício em comida. O Senhor Jesus pode proporcionar a alegria, o conforto e a satisfação que ele procura. O Senhor Jesus é aquele que deve ser adorado. Ao mesmo tempo, o comilão precisa aprender a desfrutar de todo o alimento que Deus disponibilizou, mas sem adorar a criação.


Rob Green supervisiona os ministérios de aconselhamento bíblico na Faith Church, em Lafayette, IN. Ele também exerce um ministério de ensino em conferências de treinamento e no programa de mestrado MABC do Faith Bible Seminary.


Original: Gluttony: Finding joy and satisfaction in food.
Publicado em Counseling with Confidence and Compassion – Faith Biblical Counseling
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico