Deepak Reju
Clara se contorcia no seu lugar enquanto ouvia. Seu pastor falou com firmeza: “Homens, eu os desafio a lutar contra sua lascívia, a se afastar da pornografia e a honrar a Deus com o próprio corpo”. Parece estar certo, não é? É um desafio válido. Os homens cristãos devem ficar longe de material pornográfico e ser mordomos cuidadosos do próprio corpo. Por que, então, Clara estava tão incomodada? Porque ela percebia que algo estava errado. “O pastor não disse nada sobre as mulheres como eu…” A verdade é que Clara é viciada em pornografia. Ela está profundamente envergonhada por causa de seu pecado. Entretanto, quando ela olha ao seu redor, ela vê a pornografia ser sempre rotulada como um problema masculino.
O ENGANO
Só os homens são viciados em pornografia. Esta não é uma luta das mulheres.
Sem saber, o pastor de Clara perpetuou essa mentira. Por muito tempo, o vício em pornografia foi comentado e tratado como um problema masculino. No entanto, quando alguém diz que só os homens são viciados em pornografia, está perpetuando uma mentira astronômica. As mulheres lutam contra a lascívia, podem ficar viciadas em pornografia e, infelizmente, isso está acontecendo em proporções cada vez maiores.
A REALIDADE
As mulheres, assim como os homens, têm lutas com a pornografia.
Em seu e-book Porn Statistics, a organização cristã Covenant Eyes destaca várias estatísticas que indicam que as mulheres representam cerca de 20 a 30% do total de usuários de pornografia.[1] Esses números não mentem e, devido ao fato de que a vergonha impede as mulheres de se abrir, os números reais devem ser provavelmente maiores. A dependência sexual entre as mulheres é um problema crescente e significativo. No entanto, algumas estatísticas não conseguem contar toda a história. Existe uma diferença entre as mulheres de gerações distintas. Jessica Harris, blogueira, autora e ex-viciada, afirma: “Na geração do milênio, as mais velhas usam a pornografia com menor frequência do que as mais jovens que, por sua vez, usam com menor frequência do que a geração Z”.[2] A internet tornou-se comum em meados da década de 1990, e o iPhone apareceu em 2007. Não nos surpreende que a geração Z, as mulheres nascida de 1997 em diante, seja a geração mais afetada.
Com a internet e a tecnologia tão facilmente disponíveis, os hábitos relativos à pornografia estão mudando entre as jovens. O uso de pornografia é prontamente aceito e predomina na cultura das jovens adolescentes e universitárias de hoje. Jéssica Harris afirma:
A atitude entre as jovens cristãs na geração Z […] é muito de “qual é o problema”? Todas as meninas assistem pornografia”. Ouvi isso de uma menina de 12 anos de idade em um igreja onde dei uma palestra. Alguns líderes de jovens entraram em contato comigo porque pesquisas anônimas em seus grupos de jovens mostraram que 100% das adolescentes/jovens lutavam contra a pornografia. Eles não faziam ideia de que a situação real fosse essa.[3]
Há um maremoto de mulheres jovens que logo chegará às nossas praias e precisarão de nossa ajuda.
As mulheres viciadas em pornografia lutam com uma dose dupla de vergonha.
A vergonha é um grande problema. Homens e mulheres viciados em pornografia lutam contra a vergonha, mas a vergonha de uma mulher é duas vezes maior que a de um homem. A pergunta é: Por quê? Por que as jovens como Clara sentem tanta vergonha?
Clara foi entregue a si mesma na descoberta de sua sexualidade.
Em sua infância e adolescência, os pais de Clara não conversaram com ela sobre a sexualidade, e ela se viu confusa e curiosa, mas sobrecarregada pela cultura supersexualizada que a cercava. Ela aprendeu mais sobre sexo com suas amigas e na internet do que em qualquer outro lugar. Infelizmente, sua igreja só piorou as coisas. Tudo o que ela ouviu de seu pastor foram advertências aos homens sobre lascívia e exortações às mulheres para se vestirem modestamente e não atraírem os homens. Os homens cobiçavam. Os homens eram visuais. Os homens tinham problemas de dependência sexual. E as mulheres? Pais e pastores agiam como se as mulheres fossem assexuadas.
Existe pouca franqueza e honestidade sobre a sexualidade e o pecado sexual.
Fora aquilo que é falado de púlpito, algumas igrejas mantém-se mais superficiais do que transparentes sobre o assunto, e estão mais prontas para impor regras do que para oferecer ajuda amorosa. Nesse tipo de cultura, a jovem que sente vergonha não se expõe nem é honesta. Clara se esconde e foge. Não há lugar seguro em sua igreja para falar sobre suas lutas com a pornografia.
Traçando um plano de resgate
O que podemos fazer para ajudar as mulheres viciadas em pornografia? Vou dar algumas sugestões.
Ajuda para as mulheres que estão vendo material pornográfico ou assistindo a vídeos que contém cenas pornográficas.
- Há muito que pode ser feito. Mas é preciso que você lide com sua vergonha. Não se esconda. Não deixe que a vergonha continue a definir o ritmo de sua vida. Cristo se dirige à nossa vergonha. Ele a convida a caminhar em direção à luz.
- Procure uma igreja na qual o evangelho seja pregado e Cristo seja exaltado. Busque a comunhão com outros crentes, seja consistente na frequência e no ouvir a pregação pública da Palavra de Deus.
- Aproxime-se igreja de uma mulher mais velha, fiel a Cristo, graciosa e amorosa, e peça-lhe para caminhar com você. Seja completamente honesta sobre o seu pecado e confie no Senhor para que Ele a ajude a mudar.
- Procure uma conselheira que ame a Jesus e a Palavra de Deus, e que seja competente no cuidar de outras mulheres. Confie no cuidado que ela lhe oferece, tanto nos aspectos práticos como cortar o acesso a material pornográfico, quanto na compreensão das questões mais profundas do coração, que motivam o vício em pornografia.
Ajuda para o pastor e os membros da igreja local.
- Estabeleçam uma cultura em que exista o compromisso de falar honestamente sobre sexo e pecado sexual. Se o amor, a graça, o perdão, a honestidade e a transparência forem valorizados, as pessoas que estão lutando com a vergonha ficarão mais inclinadas a sair do esconderijo e procurar ajuda. Por quê? Porque aqueles que oferecerão ajuda serão mais parecidos com Cristo, e transmitirão esperança em vez de ser duros e condenatórios.
- Os pastores devem pensar no vício em pornografia como um problema geral. Quando um pastor fala sobre pecado sexual, ele não deve se dirigir somente aos homens. Ele deve se comunicar com homens e mulheres. Em vez de dizer “Os homens querem satisfazer seus desejos sexuais”, procure dizer: “Tanto os homens quanto as mulheres têm desejos sexuais”.[4] Não diga: “As mulheres têm necessidades emocionais e os homens têm necessidades sexuais”. Em vez disso, procure dizer: “Ambos têm necessidades sexuais e emocionais, mesmo que as sintam em graus maiores ou menores”.
- As estatísticas mostram que muitos homens e mulheres lutam contra o vício em pornografia. Pela graça de Deus, muitos receberão ajuda e vencerão o vício. No entanto, em meio à confusão atual, pode-se perder uma noção clara do belo plano de Deus para o sexo no casamento. O vício em pornografia distorce a visão de sexo na mente do jovem e da jovem. Os pastores podem entrar nessa brecha. Eles não devem se esquivar do assunto sexo, mas pregar em textos como o livro de Cântico dos Cânticos e mostrar o plano de Deus. Eles devem pregar todo o conselho de Deus, incluindo ensinar a beleza do maravilhoso plano de Deus para a intimidade e o sexo no casamento.
- As mulheres com mais idade – das Baby Boomers às mais velhas na geração do milênio – devem se aproximar das mais jovens. As gerações anteriores são menos inclinadas a lutar contra a pornografia em comparação com as gerações mais recentes como as gerações Z e Alpha, que nasceram com a tecnologia ao seu alcance. A lacuna entre as gerações não deve impedir as mulheres mais velhas de se aproximar das mais jovens. Em vez disso, elas devem se preparar para lidar com essas questões e atuar no discipulado. O silêncio e a falta de ação não são opções se quisermos resgatar a geração mais jovem da situação difícil em que se encontra na luta contra a pornografia.
- O inverso também é verdadeiro: as mais jovens devem procurar as mulheres mais velhas e pedir ajuda. A tentação é passar seu tempo apenas com amigas da mesma idade e não se aproximar das irmãs mais maduras na fé. A Bíblia nos diz que as mulheres de mais idade devem orientar as mulheres mais jovens (Tito 2). Portanto, não tenha medo de se aproximar e pedir ajuda.
Uma ressalva importante precisa ser feita: homens e mulheres têm lutas parecidas com culpa e vergonha, mas existem distinções notáveis. Um exemplo: os homens, geralmente, veem material pornográfico e, como seu corpo fica excitado, eles terminam se masturbando. Para muitas mulheres, existe uma luta com a masturbação, mas não está ligada ao uso de pornografia. A luta dos homens e a das mulheres contra a masturbação pode ser muito diferente.
Devemos dar lugar às diferenças e não fazer suposições. Quando ouvimos com atenção, podemos cuidar de uma pessoa específica com problemas específicos no coração em uma situação de vida específica. Podemos amar e ajudar devidamente somente quando nos esforçamos pacientemente para conhecer o pecador e sofredor que está diante de nós.
O evangelho é a boa notícia de que Jesus morreu pelos perdidos e envergonhados, como você e eu. O amor de Cristo transforma nosso coração rebelde, dando-nos força sobrenatural para lutar contra a nossa natureza pecaminosa e nos ajuda a não viver mais para nós mesmos (2Co 5.14, 15; Ef 3.16, 17).
No Reino de Deus, o vício em pornografia não tem a palavra final. A palavra final pertence a Cristo. Glória a Deus.
Perguntas para reflexão
- Para as mulheres mais velhas: Se uma jovem lhe pedisse ajuda, você saberia o que fazer? Se você não está preparada para ajudar, o que você pode fazer para se equipar melhor?[5]
- Para os pastores: Volte ao último sermão no qual você falou sobre sexo ou pecado sexual. Verifique as palavras que você escolheu usar. Você se dirigiu apenas aos homens? Você se dirigiu aos homens e às mulheres? Como você pode ajustar sua linguagem para levar em consideração os diferentes tipos de lutas que ocorrem em sua igreja?
- Para todos: Como você lida com a vergonha em sua própria vida? Você compreende como Cristo pode ajudá-lo em sua vergonha? Se você aprender a receber a graça e o perdão de Cristo para lidar com a sua vergonha, estará mais bem preparado para ministrar às pessoas viciadas em pornografia.
[1] O e-book de Covenant Eyes Porn Statistics: 250+ facts: quotes and statistics about pornography use, em sua edição de 2018, está disponível em https://www.covenanteyes.com/pornstats/.
[2] HARRIS, Jessica. Christian women and pornography: what statistics might not tell you. Beggars Daughter. Disponível em: https://beggarsdaughter.com/christian-women-and-pornography-what-the-statistics-might-nottell-you/. Acesso em: 22 abr. 2021.
[3] HARRIS, Jessica. Correspondência pessoal.
[4] Sou grato ao pastor Mark Redfern por este exemplo e o exemplo seguinte de como falar do púlpito sobre sexo e pecado sexual.
[5] Jonathan Holmes e eu somos coautores de um conjunto de dois livros sobre a luta contra a pornografia: Rescue Plan e Rescue Skills (P&R, 2021). O alvo destes dois livros é equipar os homens cristãos mais maduros para ajudar jovens cristãos e as mulheres cristãs mais maduras para ajudar jovens a lidar com a ponografia e encontrar liberdade em Cristo.
Deepak Reju é pastor de Aconselhamento Bíblico e Famílias na Capitol Hill Baptist Church em Washington, DC, onde aconselha, lidera grupos, desenvolve a visão para o ministério de aconselhamento e supervisiona a equipe de aconselhamento. Seu preparo foi no The Southern Baptist Theological Seminary. Ele é autor de vários livros, dos quais estão em português O pastor e o aconselhamento: um guia básico para o pastoreio de membros em necessidade e Ministério infantil: fundamento e prática.
Original do artigo: Women Struggle with Porn Too
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico
RECURSOS EM PORTUGUÊS
Para recursos em português, consulte a lista temática em Conexão Conselho Bíblico: Vícios sexuais.
Embora não sejam escritos diretamente para mulheres, estes dois livros podem ajudar mulheres na luta contra a pornografia:
![Com toda pureza: livres da pornografia e da masturbação por [Tim Chester, Vinicius Musselman Pimentel, João Paulo Aragão da Guia Oliveira]](https://m.media-amazon.com/images/I/51PfPaWvKVL.jpg)
CHESTER, Tim. Com toda pureza: livres da pornografia e da masturbação. São José dos Campos, SP: Fiel, 2020. 180 p.
Links: Livro impresso – E-book
Neste livro, Tim Chester nos mostra de forma prática as estratégias enganosas do pecado e nos ensina que mais do que só dizermos não ao pecado, precisamos dizer sim para a glória de Deus, cativando os olhos dos nossos corações com a beleza de Cristo; e mais do que tentarmos outra vez lutar com nossas próprias forças, precisamos encontrar o perdão e o poder que a graça de Deus nos traz. Há esperança de sermos libertos da pornografia e masturbação pela beleza e graça de Deus, para a glória de Deus.

LAMBERT, Heath. Finalmente, livre: a luta pela pureza com o auxílio do poder da graça. Eusébio, CE: Peregrino, 2017. 160 p.
Links para o livro: Livro impresso
Pornografia está em volta de todos nós. Ela destrói casamentos e leva os envolvidos a uma visão deturpada da sexualidade. Infelizmente, muitos cristãos não apenas lutam para resistir à sedução da pornografia; eles já estão viciados, presos por seu poder. Romper com a teia enganosa da pornografia na web – como sabem muito bem – não acontece simplesmente por se esforçar ou seguir algum método ou programa específico