Com uma série de três artigos publicados pela Association of Biblical Counselors, Twelve Stones Ministries dirige-se aos pais para ajudá-los a lidar com seus filhos em diferentes aspectos. Na parte 1, Scott O’Malley tem por propósito equipar os pais para que instruam seus filhos a andarem na luz, evitando uma vida de pecado secreto que conduz à perdição — Preventing Your Child’s Sin from Going Underground. A parte 2 tem por propósito equipar os pais para que respondam biblicamente ao descobrirem que seu filho se envolveu secretamente em uma vida de pecado sexual — When Your Child’s Secret Sin Comes to Light. A parte 3, que você pode ler a seguir, tem por propósito equipar os pais para que saibam lidar com seus filhos caso estes tenham sofrido um abuso sexual.
Ajudando seu filho na cura de um abuso sexual
O inimaginável aconteceu…. Vocês foram muito cuidadosos em tomar conta de seus filhos; vocês sabem que há muitos perigos que eles enfrentam. Vocês foram muito cuidadosos na escolha de babás, vocês não permitiram que suas crianças brincassem sem que vocês as observassem, e assim por diante. Ainda assim aconteceu. Sua filha foi abusada sexualmente.
Vocês são seus protetores. Isso aconteceu ainda que vocês estivessem cuidando dela e tenham feito de tudo para protegê-la. A pessoa que cometeu o abuso é alguém conhecido, um membro da família. Como isso pôde acontecer? Por que alguém faria isso com uma criança? Será que ela ficará arruinada para o resto da vida? Como poderemos ser uma família perfeita novamente? Como iremos protegê-la de agora em diante? O que faremos com o criminoso? Devemos receber aconselhamento? Devemos acionar a polícia? Como isto pode se harmonizar com os planos de Deus, de verdade? O quanto somos incapazes como pai e mãe? Devemos buscar um curso que nos ensine a atuar como pai e mãe?
Estas são somente algumas das inúmeras perguntas que abarrotam a mente dos pais depois que descobrem o abuso sexual.
Por que alguém faria isto?
Os pais costumam ser muito vigilantes ao supervisionarem e protegerem seus filhos. Normalmente, a pessoa que comete o abuso é alguém muito familiar e de confiança no círculo familiar. Depois que os pais descobrem o ocorrido, o mais comum é que digam: “Como Fulano pôde fazer isto?”, “Nós confiávamos nele!”, “Como pudemos ser tão tolos?”.
Muitos, erradamente, pensam que têm que ser capazes de identificar um predador sexual ao olhá-lo. Isto simplesmente não acontece. As Escrituras nos relembram de que o ser humano é capaz de ter um ânimo dobre dando a impressão de ser uma pessoa bondosa, mas que não aplica a Palavra de Deus à sua vida (Tiago 1.22-25; Judas 4; 2Timóteo 3.1-5). Vivemos num mundo caído (Genesis 3; Efésios 2.1-3). Com este entendimento, somos relembrados de que o pecado se alastra desenfreadamente, abundante e incontrolável, e nós todos precisamos desesperadamente de um Salvador e Amigo. Tendo por contexto essa lembrança, é essencial que entendamos que esse é um problema que aponta para vidas necessitadas da cruz de Cristo.
Ela está arruinada para o resto da vida?
Esta é uma questão com a qual muitos pais lutam. Será que ela ficará marcada para sempre? Será que ela sempre sentirá medo? Será que ela ficará mentalmente afetada — em longo prazo, em curto prazo? Como isto afetará seus estudos, o trabalho e as amizade? Isto afetará a sua sexualidade? Como isto afetará o seu casamento?
Claro que há uma diversidade de respostas para essas perguntas, dependendo da experiência de cada criança, da idade e do temperamento. A jornada que se segue pode tomar, muitas vezes, direções inesperadas e dificultar para os pais um entendimento de como lidar com as situações. Por isso é essencial ter um conselheiro/amigo que possa acompanhar. O objetivo é trabalhar juntos para cuidar de cada membro da família na medida em que a cura acontece.
Em Twelve Stones[1], quando aconselho uma pessoa que foi abusada sexualmente, conto minha história de ter sido abusado quando criança e isto ajuda de inúmeras maneiras. Ajuda muito falar com alguém que tenha passado por experiências parecidas e que, para a glória de Deus, tenha sido refinado por meio das provações (Tiago 1.2-4). Também é de ajuda para quem sofreu o abuso entender que os sentimentos confusos e de vergonha que está experimentando após o abuso são normais e podem ser trabalhados mediante uma restauração em Cristo. Quando os membros da família compreendem aquilo pelo que a criança abusada passa, eles ganham maior habilidade para se colocar ao seu lado e encorajar.
Deus se deleita em transformar as cinzas em glória (Isaías 61.3). Ao longo do livro de Isaías, Deus julga as nações, uma após a outra, baseado no tratamento que elas dispensaram aos oprimidos e humilhados. Isto fornece um retrato evidente do coração de Deus em relação aos oprimidos. Nunca duvide de que Deus tem um coração terno e compassivo para com quem sofreu abusos sexuais.
Perguntas, perguntas e mais perguntas
Devemos falar sobre o assunto? Devemos falar do assunto agora ou esperamos até ela ficar mais velha? Devemos apresentar queixa na delegacia? Se o fizermos, o caso se tornará público e muito humilhante? Devemos buscar conselho? A quem podemos procurar para aconselhamento? A quem devemos e a quem não devemos ouvir? A quais membros da família devemos contar?
Muitos pais sentem um senso de urgência de “consertar” seu filho. Mas por onde começar? Já que a transformação e a cura acontecerão no contexto de uma comunidade, é importante envolver a liderança da igreja local e os amigos de confiança enquanto vocês procuram desvendar os vários aspectos da situação.
Estabelecer um canal aberto de comunicação com a criança é uma preocupação primordial. As crianças se sentem culpadas pelo abuso e têm muitos outros sentimentos confusos. Os pais exercem um papel-chave no ajudar seus filhos a processar os sentimentos. O primeiro foco deve ser sempre o coração, não somente o comportamento. Os pais precisam saber que os filhos os estão observando e estão ouvindo como eles reagem às circunstâncias para, então, formular suas próprias respostas.
Muitos pais querem lidar primeiro com as questões legais. Recomendo aos pais que comecem a receber aconselhamento antes de tomar qualquer medida legal cabível. É necessária grande sabedoria ao decidir o que e como fazer. Os processos legais não são agradáveis para uma criança e podem ser muito traumáticos. Esse é um assunto importante para se discutir com um conselheiro.
Falando como alguém que passou pela experiência de ver essas questões serem decididas com relação ao meu caso, posso dizer que os pais cometerão erros no caminho, mas Deus tem um plano. Tenho grande consideração por meus pais quando olhos para trás graciosamente e me lembro de todas as decisões que enfrentaram sem saber bem o que fazer. A despeito de todas as lembranças e avaliações daquilo que se passou, estou absolutamente certo de que Deus usou cada etapa da experiência para o meu bem e para a Sua glória.
Será que eu fiquei arruinado para o resto da vida? De jeito nenhum! Não consigo imaginar minha vida de outra maneira. Deus tem sido especialmente gracioso e terno comigo. Nessa jornada, Ele me deu tudo aquilo de que eu precisava. Ele tem sido surpreendentemente fiel.
Original: Counseling the Shattered Lives of Sexual Sin – Part 3, publicado em Association of Biblical Counselours.
[1] Twelve Stones é um ministério de aconselhamento que tem sua sede em Helmsburg, Indiana (EEUU), e cuja missão é ajudar os feridos por meio de um aconselhamento centrado no evangelho enquanto convida e equipa sua comunidade para se engajar com graça e verdade.