Aconselhamento expositivo

Joshua Hayward

No mundo do aconselhamento bíblico, a maioria de nós está familiarizada com a pregação expositiva e, provavelmente, seja certo dizer que acreditamos que esse é o melhor método de pregação como dieta contínua para a igreja. Por quê? Porque a convicção básica daqueles que estão comprometidos com a pregação expositiva é que a Palavra de Deus está investida de autoridade e é suficiente para salvar e santificar o povo de Deus.

No entanto, para alguns conselheiros bíblicos, e eu me incluo nisso algumas vezes, parece haver uma desconexão com essa convicção quando se trata de nosso método de aconselhamento. Os pastores comprometidos com a pregação bíblica e os membros da igreja que esperam que seu pastor “maneje bem palavra da verdade” (2Tm 2.15) deixam, muitas vezes, de fazer o mesmo no contexto do aconselhamento.

Eis onde quero chegar: como conselheiros bíblicos, devemos ministrar a Palavra de Deus ao aconselhado com o mesmo cuidado que esperamos de nosso pastor em sua pregação.  À luz dessa correlação, vamos considerar algumas maneiras pelas quais podemos praticar melhor o aconselhamento expositivo.

1- Aconselhe versículos inseridos em seu contexto.
Em primeiro lugar, devemos ter cuidado para não extrair o significado e a aplicação dos versículos tirando-os de seu contexto. Quantas vezes os conselheiros bíblicos usaram Filipenses 4.13 – “Posso todas as coisas por meio de Cristo, que me dá forças(NVT)para encorajar um aconselhado a confiar no fortalecimento de Cristo para uma tarefa difícil ou uma luta? Fora de seu contexto, esse versículo parece ótimo para encorajar o aconselhado a apegar-se à força que Cristo provê para que ele possa FAZER o que Deus o está chamando a FAZER. No entanto, o contexto mostra-nos que Paulo está falando do que ele deveria SER – isto é, alguém contente.

Se eu fosse fazer uma suposição, eu diria, no entanto, que a maioria dos conselheiros bíblicos são menos culpados de tirar os versículos inteiramente do próprio contexto do que o são de privar os versículos da força total conferida pelo contexto. Expressando-me de forma mais otimista, os versículos que ministramos aos nossos aconselhados penetram com maior peso em seu coração quando ajudamos nossos aconselhados a ver o contexto. Por exemplo, muitos de nós conduziríamos corretamente nossos aconselhados a Romanos 8.28 quando eles estivessem sofrendo de alguma forma. Claro que nós faríamos isso depois de nos condoer com eles e ter certeza de que eles sabem que não estamos minimizando o seu sofrimento assim como Deus também não está. No entanto, se formos diretamente ao versículo 28 quando uma pessoa está experimentando um sofrimento intenso, o poder dessa verdade será diminuído se utilizarmos o versículo fora de seu contexto. Se começarmos no verso 18, porém, descobriremos que toda essa passagem trata do sofrimento que experimentamos nesse mundo caído! O poder do versículo 28 será, então, sentido com mais força por nosso aconselhado.

2- Aconselhe a partir de passagens, não apenas versículos.
Esse ponto está implícito no ponto acima, mas penso que precise ser declarado de maneira explicita. A maioria dos pregadores expositivos prega, corretamente, a partir de passagens, não de versos individuais. Mesmo aqueles que pregam um versículo por sermão ainda situam esse versículo em seu contexto se estiverem sendo fieis a exposição. Mais uma vez, quero argumentar que os conselheiros bíblicos devem lutar pela mesma prática.

Provavelmente, muitos conselheiros bíblicos utilizam uma abordagem de aconselhamento que poderíamos chamar de “abordagem dos disparos de Bíblia”. Lembro-me de observar um encontro de aconselhamento em que o conselheiro citou um versículo para quase tudo que o aconselhamento disse. Se aconselharmos assim, a Bíblia pode ser tratada como se fosse uma enciclopédia dos problemas da vida.

Um dos princípios centrais em que fui ensinado no meu treinamento de aconselhamento foi a importância de trabalhar longas porções das Escrituras com os aconselhados. Assim como os membros da igreja recebem a Palavra de Deus por meio da pregação de passagens, os aconselhados se beneficiam em receber a Palavra de Deus à medida que você os aconselha por meio de passagens das Escrituras. Você pode até utilizar uma grande porção das Escrituras e trabalhá-la com o seu aconselhado durante vários encontros.

É importante lembrar, porém, que o aconselhamento não é um monólogo como é a pregação. Ele é um diálogo. Envolva o aconselhado com a passagem que você está trabalhando, servindo-se de perguntas sobre a passagem, que possam conduzir à aplicação no coração e vida do aconselhado.

3- Procure captar o tom do texto.
Consideremos mais um exemplo de como podemos aconselhar expositivamente. É importante que procuremos aconselhar no tom do texto. O tom da passagem é encorajador? É convincente? Alegre? Reflexivo? Inspira urgência? O texto quer dar conforto, repreensão, advertência ou instrução? Nosso conselho terá mais peso quando levarmos nossos aconselhados a textos que tenham o tom que eles precisam ouvir.

Por exemplo, 1Coríntios 13.4-7 é conhecido como a passagem do “amor”. O texto é inteiramente sobre o amor! Em muitos cenários, porém, e especialmente em casamentos, o tom dessa passagem é totalmente esquecido. Seu tom não é encorajador ou reconfortante; não foi escrito para proporcionar sentimentos calorosos no coração de seus ouvintes. O tom dessa passagem é de forte exortação. Como nós sabemos? Você adivinhou! O contexto nos diz. Os membros da igreja de Corinto falharam em amar uns aos outros. Eles estavam divididos sobre quem seguir (3.4), negligenciavam o pecado sexual na igreja (5.1-13), estavam levando uns aos outros ao tribunal (6.1-8), faziam com que os membros mais fracos tropeçassem (8.1-13), maltratavam uns aos outros na mesa do Senhor (11.17-22), e estavam divididos acerca dos dons espirituais (12.1-31). Em resumo, eles estavam bagunçando tudo!

Em 1Coríntios 12.31, então, Paulo diz: “Agora, porém, vou lhes mostrar um estilo de vida que supera os demais” (NVT), e a partir de então ele se move em uma seção que mostra com que o amor realmente se parece. Em outras palavras, ele está dizendo a eles tudo aquilo que eles não são! “O amor é paciente…, mas vocês não são pacientes, Coríntios. O amor é bondoso…, mas vocês são maldosos. O amor não inveja nem se vangloria…, mas isso é exatamente o que vocês fazem! O amor não insiste em seu próprio caminho…, mas vocês estão comprometidos com seu próprio caminho”. Você entendeu. Esse é o tom do texto. Imagine o tipo de impacto que ele teria em um marido ou esposa ou adolescente consumido pela própria agenda de vida.

Conclusão
Quando digo que o nosso aconselhamento deve ser expositivo, entenda que não quero dizer que você deve usar todo o encontro – nem mesmo a maior parte de cada encontro –para trabalhar ao longo de uma passagem das Escrituras, discutindo o ponto principal, o contexto, a estrutura gramatical e assim por diante. Certamente não quero dizer que o encontro deva ser um monólogo. O que quero dizer é que devemos usar o mesmo método central de estudo e interpretação bíblica que esperamos que nossos pastores usem em seus sermões. Devemos tomar cuidado para não tirar versículos fora do contexto nem minimizar a força dos versículos, negligenciando inteiramente o contexto. Devemos investir tempo significativo em grandes porções das Escrituras, e não devemos deixar escapar o tom do texto.

Como conselheiros bíblicos, queremos continuar a nos esforçar para ser tão bíblicos quanto pudermos! Queremos lidar e ministrar a Palavra de Deus com o mesmo cuidado que esperamos ver em todo pregador que está atrás de um púlpito. Portanto, vamos aconselhar expositivamente e ver a Palavra de Deus fazer a obra!

Perguntas para reflexão
O que significa para você praticar o aconselhamento expositivo, e como isso pode ser diferente da abordagem que você costuma praticar? Quais são alguns dos versículos-chaves que você usar quando aconselha, e como eles podem ser reconsiderados se você for aconselhar expositivamente? Como você pode encorajar um conselheiro bíblico a ser mais “expositivo” em seu método de aconselhamento?



Original: Expository Counseling
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition
Tradução: Pedro Vercelino
Revisão: Conexão Conselho Bíblico