Jared Baergen
Se você já assistiu a algum evento esportivo, sabe que os jogadores precisam ter certas características para praticar bem o esporte em questão. Todo atletas é obrigado a:
-1- ter boa condição física para praticar o esporte,
-2- compreender as regras do esporte,
-3- ser capaz de praticar o esporte com habilidade.
Características semelhantes são necessárias para todo conselheiro bíblico. Os conselheiros bíblicos precisam estar possuídos de bondade espiritual, estar cheios de conhecimento das Escrituras e ser capazes de aconselhar outros habilmente com as Escrituras. É isso que o apóstolo Paulo destacou em Romanos 15.14, quando escreveu:
“E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros”.
Paulo expressou o quanto estava satisfeito com a firmeza espiritual dos crentes em Roma e apontou para as três características que a expressavam. Essas três características são essenciais para todo conselheiro bíblico e não podem ser separadas uma da outra.
Possuído de bondade
A primeira característica essencial de todo conselheiro bíblico é que ele deve estar possuído de bondade. A palavra “bondade” pode ser vista aqui no sentido moral. O tempo verbal no texto original reforça uma ação contínua. A ideia aqui é que todo conselheiro bíblico precisa viver em um estado moral de bondade. Essa frase aponta para a maturidade espiritual essencial e a santidade que se requer de todo aquele que está cheio de conhecimento e apto para admoestar, ou seja, aconselhar outros.
Um conselheiro bíblico que não está possuído de bondade talvez precise ele mesmo de ajuda para voltar à boa forma e poder praticar o aconselhamento. Assim como um atleta não competiria em nenhum esporte sem estar em boa forma física, um conselheiro bíblico não deveria aconselhar sem estar em boa forma espiritual. Os conselheiros bíblicos precisam andar em santidade assim como esperam que seus aconselhados andem em santidade. Paulo não estava certamente exigindo perfeição moral daqueles que estava chamando a instruir uns aos outros, mas ele estava dizendo que aqueles que ensinam outras pessoas a serem cheias de bondade também devem ser cheios de bondade (veja Romanos 2.21-23).
Antes de passar para a segunda característica de todo conselheiro bíblico, é importante considerar o lado negativo desse ponto e identificar algo do que caracteriza um conselheiro bíblico que não está possuído de bondade. Aqui estão alguns sintomas:
- Acreditar que você é sábio aos seus próprios olhos (Rm 12.16).
- Falar a verdade sem uma atitude de amor (Ef 4.15).
- Presumir que o seu conhecimento é mais importante do que o amor (1Co 13.2).
- Ter certeza absoluta de que seu conhecimento é completo (1Co 8.2).
- Pensar que você é especial em relação a outros (Gl 6.3).
- Elevar seu sistema de aconselhamento ou suas opiniões ao grau de verdade bíblica (Mc 7.5-13; Hb 4.12).
- Afirmar que você conhece com exatidão as motivações do coração de outra pessoa, o que somente Jesus pode fazer (1Co 4.3-8; Mc 2.8; Jo 2.24, 25).
- Ter uma atitude orgulhosa, dura, impaciente e sem amor, que não promove a unidade ou a paz (Ef 4.1-3; 1Ts 5.14)
Esses são apenas alguns sintomas de um conselheiro bíblico que não está possuído de bondade. O conselheiro bíblico pode cair em todos eles, especialmente quando seu grau de conhecimento, seu treinamento, diploma ou posição ministerial torna-se um motivo de orgulho. Devemos cuidar de nosso próprio coração, lidar com nosso próprio orgulho e buscar uma vida piedosa em Cristo, manifestando bondade moral e espiritual em tudo o que dizemos e fazemos.
Cheio de todo o conhecimento
Esta é a segunda característica essencial de todos os conselheiros bíblicos. Se quisermos ser conselheiros bíblicos adequados, devemos estar cheios de conhecimento das Escrituras. No texto original, o tempo verbal da palavra “cheio” é melhor entendido no sentido de uma ação passada com resultado que continua no presente. Christopher Ash afirma: “O tempo perfeito pode sugerir que essa é uma igreja com fome de continuar a crescer em conhecimento, ao invés de apontar para as conquistas já alcançadas pela igreja em questão de conhecimento. Eles não saibam tudo – senão, por que lhes escrever? –, mas o que sabiam aumentava seu apetite para continuar a saber cada vez mais”.[1] A ideia em Romanos 15.14 não é estar completamente cheio de conhecimento, mas continuar a se encher de conhecimento após já estar cheio. Colocando de outra forma, a frase “cheio de todo o conhecimento” inclui tanto uma ação passada (“ter se enchido”) quanto resultados contínuos presentes (“estar se enchendo no presente”).
Esse ponto destaca a segunda característica essencial. Todo conselheiro bíblico é alguém que estudou a Palavra de Deus, aprendeu a Palavra de Deus e continua a crescer no conhecimento da Palavra de Deus. Isso certamente inclui estudo bíblico contínuo, memorização das Escrituras e treinamento em aconselhamento bíblico. Cada conselheiro bíblico deve ter seu próprio tempo diário na Bíblia para crescimento espiritual pessoal, mas deve também buscar treinamento contínuo na compreensão e aplicação da Palavra de Deus.
Devemos conhecer as verdades fundamentais da fé cristã, bem como as doutrinas práticas relacionadas à vida cristã. Se desejamos instruir os outros para que saibam como viver a vida cristã, nós devemos saber como vivê-la. No entanto, nenhum de nós pode entender totalmente a Palavra de Deus. Os seres humanos finitos são incapazes de compreender perfeitamente um Deus infinito e, consequentemente, incapazes por si só de compreender perfeitamente a inerrante Palavra de Deus. Portanto, devemos continuar a estudar a Palavra de Deus para que Ele continue a nos encher de todo o conhecimento.
Apto para admoestar[2]
Finalmente, Paulo nos dá a terceira característica essencial de todos os conselheiros bíblicos: devemos ser capazes de admoestar uns aos outros. Este terceiro elemento não pode ser separado da bondade e do conhecimento. A capacidade de admoestar está fundamentada na noção de que estamos caminhando em santidade e temos conhecimento da Palavra. A maturidade espiritual e o conhecimento das Escrituras devem inevitavelmente levar ao aconselhamento bíblico na igreja. Paulo disse aos Romanos que eles estavam aptos para instruir uns aos outros porque queria encorajá-los a fazê-lo. Uma igreja de crentes piedosos, maduros e cheios do conhecimento das Escrituras deve praticar naturalmente o aconselhamento bíblico. O aconselhamento bíblico não deve ser visto como um novo movimento ou um ministério adicional na igreja. Pelo contrário, o aconselhamento bíblico é parte da própria função e força vital da igreja local. O aconselhamento bíblico deve ser um ministério de uns aos outros dentro da igreja local, e é uma responsabilidade de cada membro da igreja. Aqueles que andam no Espírito e estão aptos para ajudar os outros devem fazê-lo (Gl 6.1, 2). Instruir uns aos outros é uma responsabilidade de cada membro da igreja local em diferentes graus (Ef 4.11, 12).
Esse é ensino central de Paulo em Romanos 15.14. Todo conselheiro bíblico deve estar continuamente possuído de bondade, cheio de conhecimento e apto para admoestar, ou seja, instruir e aconselhar, outros crentes na igreja local. Assim como existem características essenciais de todo bom atleta, existem características essenciais de todo conselheiro bíblico.
[1] ASH, Christopher. Teaching Romans. Scotland, UK: Christian Focus, 2015, p. 241.
[2] NdT. O termo original grego é noutheteō, e outras versões em português usam os verbos “instruir” (Sec 21), “aconselhar” (NVI), “ensinar” (NVT)
Jared Baergen é um conselheiro bíblico certificado pela Association of Certified Biblical Counselors (ACBC), professor de Bíblia na Racine Bible Church e autor de Walking in Christ: the key to the Christian life. .
Original: Three Essential Characteristics of Every Biblical Counselor
Artigo publicado pela Association of Certified Biblical Counselors. Traduzido com autorização.
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