Joshua Greiner
Existem alguns ingredientes em um bolo de que você só precisa de uma pitada – por exemplo, o sal – e outros de que você precisa de uma quantidade bem maior – por exemplo, a farinha. Para alguns ingredientes, o pouco vale muito: você precisa adicionar apenas algumas gotas de baunilha para mudar o sabor de um inteiro bolo. É aqui que entra nas nossas amizades uma pitada indispensável de afeto genuíno.
Simplificando, sem afeto genuíno pela outra pessoa é impossível ter uma amizade. Você pode acabar tendo outras coisas, mas não terá uma amizade. Se o afeto genuíno é tão essencial para um relacionamento, o que de fato ele é e como pode crescer quando está faltando na amizade?
O que é afeto genuíno?
Nos dias de hoje, em nossa cultura, quando homens ou mulheres falam sobre amor uns para com os outros, não demora muito para que a conversa rapidamente seja contaminada por sussurros de romance e sexo. A Bíblia nos fala, porém, de homens e mulheres que tiveram amizades profundas e amorosas que nada tinham a ver com sexo.
Falar em afeição sexual para com o próprio cônjuge – o melhor amigo que se pode ter – é perfeitamente correto. Entretanto, falar sobre esse tipo de afeição para com outra pessoa torna-se enganoso e confuso.
Afeto genuíno não é igual a afeição sexual ou sexo
Afeto genuíno é a disposição de expressar sentimentos de estima e apreço a uma pessoa com quem você se preocupa profundamente. É cordialidade, dedicação e carinho para com uma pessoa com que você se importa. Ao longo de gerações, e em diferentes culturas, as pessoas tiveram amizades fortes que envolviam o cuidado profundo entre amigos sem a distorção ou perversão sexual. Veja o exemplo da vida de Davi e Jônatas em 1 Samuel: “Jônatas fez Davi reafirmar seu juramento, por causa de sua amizade por ele, pois ele havia se tornado seu amigo leal” (1Sm 20.17 – NVI).
Esse versículo não está apenas falando sobre a expressão de demonstrar amor um pelo outro, mas também mostra que Davi e Jônatas se importavam profundamente um com o outro e provavam um afeto genuíno. As dores de Davi foram as dores de Jônatas. As vitórias de Jônatas foram as vitórias de Davi – eles se importavam profundamente um com o outro.
Por que o afeto genuíno é necessário?
O afeto é um ingrediente essencial porque guia muito do que uma pessoa pensa e faz quando interage com a outra. Quando você ama alguém, você tem atitudes específicas motivadas pelo amor. Caso contrário, mor, você poderia facilmente se afastar da pessoa.
Você consegue saber o que as pessoas amam prestando atenção às suas ações e ouvindo o que elas pensam sobre determinadas coisas. Alguns adoram ter um jardim bem cuidado. Quando você olha para o tempo e o dinheiro que investem no paisagismo, quando conversa com eles sobre a manutenção do jardim ou quando compartilham com você suas ideias sobre como o jardim deve ser, fica evidente que eles amam ter seu jardim bem cuidado.
O mesmo acontece com nossas afeições relacionadas à amizade. Fica evidente a quem amamos quando consideramos nossas ações e nossos hábitos. Quando o desejo de ser um amigo amoroso está presente, quando o afeto genuíno está presente, isso motiva e informa como pensamos e agimos.
Como mudar seu desejo de ser um amigo amoroso
Como podemos mudar nosso desejo de ser um amigo amoroso quando nos damos conta de que ele está aquém do esperado? Todos os relacionamentos, incluindo o casamentos, podem ser prejudicados pela falta de afeto genuíno. Alguns casais querem sentir amor e expressar afeição um pelo outro – o fim do jogo –, mas não querem fazer o que vem antes para que isso aconteça. As afeições são um subproduto, algo que resulta de outro fator, e não algo que você pode alterar diretamente. Você não pode simplesmente sentar no sofá e procurar mudar seu desejo de ser um amigo amoroso. A expressão de afeto genuíno é evidência desse desejo, e seu desejo pode mudar a partir do conhecimento da verdade bíblica e das prioridades que você estabelece.
Mude suas ações
Se você perceber que seu desejo de ser um amigo amoroso precisa mudar, comece por mudar sua forma de agir. Você deve procurar praticar um amor que é abnegado a exemplo de Cristo que se sacrificou por nós (Fp 2.3-8). Lembra daquelas palavras que descreveram Jônatas e Davi? Eles se amavam mais do que amavam a si mesmos. Esse tipo de amor sempre coloca a outra pessoa em primeiro lugar, dando “sempre preferência aos outros” (Rm 12.10). Se você quer crescer nesse desejo porque reconhece que ele está em falta, comece por mudar suas ações.
Mude sua maneira de pensar
Você precisa também mudar sua forma de pensar sobre determinada pessoa. Você tem que preencher sua mente com a verdade da Palavra de Deus. Em vez de escolher acreditar no pior sobre a pessoa, você precisa escolher acreditar no melhor (1Co 13.4). Em vez de acreditar que você é a pessoa mais importante do mundo, você deve acreditar que só vale a pena viver a serviço dos outros (Fp 2.3, 4). Em vez de acreditar que você precisa se colocar em primeiro lugar, no centro do mundo, você precisa colocar os outros em primeiro lugar (Lc 9.23). Quando você começar a fazer isso, quando mudar sua forma de pensar, renovando sua mente (Ef 4.23), você verá que Deus mudará seu desejo de ser um amigo amoroso.
Aplicação
Há muitas maneiras de você desenvolver um afeto genuíno em suas amizades. Em primeiro lugar, considere passar algum tempo esta semana verificando como você se saiu em demonstrar afeto por aqueles que o cercam.
Em segundo lugar, pergunte a si mesmo se você se preocupa de verdade com essas pessoas ou simplesmente praticou atos de amor porque “isso é o que se deve fazer”. Lide com perguntas como: “Tenho medo de expressar afeto? Que pensamentos me levam a ter esses medos e temores?” Passe algum tempo considerando seus pensamentos e veja o que a Palavra de Deus tem a dizer sobre isso. Procure mudar sua maneira de pensar.
Em terceiro lugar, procure expressar afeto genuíno aos amigos e superar quaisquer medos que você possa ter de abrir seu coração. Passe algum tempo esta semana memorizando versículos que o levem a expressar e cultivar um afeto genuíno por outra pessoa.
Um lembrete
Preste atenção a estas palavras de C. S. Lewis sobre os perigos que corremos ao cultivar relacionamentos. Devemos ter cuidado com os perigos em nosso próprio coração e as tentações de fechar nosso coração aos outros:
Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração irá certamente ser espremido e possivelmente partido. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, não deve dá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em passatempos e pequenos confortos; evite todos os emaranhamentos, feche-o com segurança no esquife ou no caixão do seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro, sombrio, imóvel, sufocante – ele irá mudar. Não será quebrado, mas vai tornar-se inquebrável, impenetrável, irredimível.[1]
Amar é ser vulnerável.
[1] LEWIS, C. S. Os quatro amores: uma análise dos quatro tipos de amor humano e o amor divino. São Paulo: Mundo Cristão, 1983. p. 95.
Os posts da série
Série Amizade #1: Os ingredientes essenciais para a amizade
Série Amizade #2: A amizade requer comunhão frequente
Série Amizade #3: A amizade requer profundidade intencional
Série Amizade #4: A amizade requer afeto genuíno
Série Amizade #5: A amizade requer esforço mutuo
Série Amizade #6: A amizade requer cuidado espontâneo
Série Amizade #7: A amizade requer serviço sacrificial
Série Amizade #8: A amizade requer incentivo ao crescimento
Série Amizade #9: A amizade requer vulnerabilidade e transparência
Joshua M. Greiner faz parte da equipe de Faith desde 2010. Ele se formou na Purdue University, onde completou o curso de bacharel em Ciência Política. Em seguida, completou o mestrado em divindade no Faith Bible Seminary e o mestrado em teologia com ênfase em aconselhamento bíblico no The Southern Baptist Theological Seminary (SBTS). Atualmente cursa o doutorado em aconselhamento bíblico também no SBTS. Ele serve como pastor de ministérios em Faith West.
Original: Friendship Series #4: Friendship Requires Genuine Affection
Publicado em Counseling with Confidence and Compassion – Faith Biblical Counseling
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico