Rob Green
Chegamos ao quarto artigo de nossa série “Comida, corpo e idolatria”. Um dos destaques que procurei dar ao longo desta série é que existe uma variedade de motivações do coração para as práticas idólatras em relação à comida e ao corpo. Alguns buscam alegria e satisfação no ato de comer, outros buscam satisfação na própria imagem corporal resultante de seus hábitos de alimentação e exercício físico, outros ainda valorizam ouvir elogios. Em outras palavras, os comportamentos ligados à comida e ao corpo são fruto de motivações do coração. O diagrama a seguir mostra o que quero dizer.

O coração desejoso de satisfação pode resultar em gula com a mesma facilidade com que pode resultar em excesso de exercício ou mesmo anorexia. Nosso aconselhamento, então, não pode ser voltado simplesmente para o comportamento; o aconselhamento precisa ser voltado para a motivação do coração. O aconselhado precisa ver como o evangelho de Jesus e a obra contínua do Espírito são suficientes para satisfazê-lo. O aconselhado precisa acreditar que não precisa de algo mais.
Nesta última parte, falaremos sobre o tema do controle. Às vezes, o aconselhado passa por situações muito difíceis e fora do seu controle em tantas áreas da vida, que e a comida e seu corpo se tornam o única área sobre a qual ele pode exercer algum controle. Ele passa, então, a cultuar esse controle. Às vezes, uma pessoa começa a lutar na área alimentar devido a razões não ligadas diretamente à comida, das quais já falamos: a autoimagem ou os elogios dos outros. No entanto, ela acaba mergulhando cada vez mais fundo no controle por meio da restrição da comida.
Entenda o coração do controle
Todos nós lutamos com maior ou menor intensidade contra o ídolo do controle. No entanto, para alguns aconselhados, o desejo de controlar domina sua vida. Nada parece importar além de exercer controle. Antes de começar a atirar pedras, pense cuidadosamente em como seu aconselhado chegou a esse ponto. Vamos imaginar que talvez ele tenha sofrido muito e esteja buscando alívio onde quer que o possa encontrar e, neste caso, o único lugar que ele consegue identificar como fonte de alívio é o controle da comida. O Salmo 115 nos lembra que a idolatria não é apenas uma afronta a Deus, mas ela faz com que nos tornemos como nossos ídolos, ou seja, surdos e cegos à verdade.
Entenda o sofrimento e mostre a verdade
Este passo vai exigir de você sensibilidade, compaixão, amor genuíno e disposição para reconhecer toda a dor que ele está vivendo. No entanto, todos nós sabemos que a compaixão, embora necessária, não é tudo o que seu aconselhado precisa. Ele precisa da verdade do evangelho, pois é a verdade que pode realmente libertá-lo. Você pode começar por lhe mostrar três verdades básicas.
1. O controle faz de você um escravo, mas Jesus faz de você um herdeiro.
Seu aconselhado pensa que ele está no controle. Ele pode controlar sua fome, ele pode controlar o quanto come, ele pode controlar se ele come, mas esta é uma mentira descarada. Esta é a realidade: Romanos 6.12-19 diz que você se torna escravo daquilo que adora. Em outras palavras, seu aconselhado está numa prisão. Ele é um escravo do próprio controle que ele pensa que possui.
Jesus, por outro lado, morreu para que não fôssemos mais escravos do pecado. Ele nos libertou do poder e da penalidade do pecado e nos fez filhos de Deus, herdeiros juntamente com Ele. Se o seu aconselhado já confiou em Cristo como seu Salvador e Senhor, ele é um filho de Deus e tem uma herança prometida no céu. Quanto mais o seu aconselhado compreender o significado da obra de Cristo, menos ele verá no controle o lugar onde buscar alegria e satisfação.
2. O controle procura tirar sua vida, mas Jesus lhe dá vida abundante.
A anorexia e a bulimia são capatazes cruéis. Eles são implacáveis. Dê-lhes tempo e eles colocarão uma mulher em risco de nunca ter filhos, em sérios riscos de graves problemas de saúde e potencialmente a morte. Aqui está o engano: seu aconselhado pensa que o controle lhe dará alegria e satisfação na vida. Na realidade, o controle sobre a comida e seu corpo lhe tirará a vida.
Jesus disse que veio para nos dar vida e para nos dar vida em abundância. Quando seu aconselhado entender realmente o evangelho, ele perceberá que a verdadeira alegria e a verdadeira satisfação vêm daquele que promete vida abundante. Mesmo quando um aconselhado enfrenta sofrimentos profundos, pode haver alegria e satisfação no relacionamento com Jesus, Aquele que veio para lhe dar vida.
3. O controle faz promessas que não cumpre, mas Jesus promete e cumpre exatamente o prometido.
A terceira verdade que vale a pena mencionar é que o controle parece oferecer alegria. Na realidade, porém, o controle exige cada vez mais para lhe dar a mesma quantidade de alegria. Podemos fazer uma analogia entre o que o controle promete e o que as drogas prometem. Ambos exigem cada vez mais e retornam cada vez menos. Por que seus aconselhados não enxergam isso? O Salmo 115 diz que aqueles que confiam em um ídolo tornam-se como o ídolo, ou seja, surdo e cego. Seu aconselhado precisa da verdade, ele precisa que Jesus abra seus olhos e o ajude a ver as coisas como elas realmente são.
Jesus, por outro lado, cumpre Suas promessas. As Suas promessas nunca falham. Elas se cumprem no momento certo. O Novo Testamento está cheio de promessas feitas por Jesus relacionadas à Sua morte, sepultamento, ressurreição e ascensão. Elas se cumpriram e, um dia, Sua promessa de retornar e restabelecer todas as coisas se cumprirá. Seu aconselhado pode encontrar alegria e satisfação em Jesus, que sempre cumpre o prometido.
Conclusão
O que vimos nestes artigos não é certamente tudo o que poderia ser dito sobre “Comida, corpo e idolatria”, mas espero que sirva como ponto de partida. Trabalhar com aconselhados que lutam nessas áreas pode ser um verdadeiro desafio. Para muitos deles, a idolatria está profundamente enraizada. Como conselheiros, ao lidar com cada aconselhado, é maravilhoso lembrar que a salvação e a santificação naquela vida não dependem apenas de nós. Somos instrumentos nas mãos do Redentor. São as mãos do Redentor que operam a mudança.
Rob Green supervisiona os ministérios de aconselhamento bíblico na Faith Church, em Lafayette, IN. Ele também exerce um ministério de ensino em conferências de treinamento e no programa de mestrado MABC do Faith Bible Seminary.
Original: Withholding Food – Finding joy and satisfaction in exercising control
Publicado em Counseling with Confidence and Compassion – Faith Biblical Counseling
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico