Greg Wetterlin
É sempre bom relembrar os seis elementos-chave do aconselhamento, independentemente do seu tempo de experiência no aconselhamento. Parte do meu ministério inclui a supervisão de um centro de recuperação para adictos e, frequentemente, ajudo pessoas a desenvolverem suas habilidades de aconselhamento e treino novos conselheiros. É muito importante que se tenha em mente estes seis elementos-chave e, se você é um conselheiro veterano, é bem provável que você os saiba de cor:
• Construir envolvimento amoroso
• Compartilhar esperança bíblica
• Reunir dados relevantes
• Avaliar o problema/dados biblicamente
• Dar instrução bíblica
• Atribuir tarefas práticas para fazer entre os encontros
Todos os seis elementos são extremamente importantes no processo de aconselhamento. Quero me concentrar no último da lista: atribuir tarefas práticas para fazer entre os encontros. Talvez você seja realmente habilidoso nos cinco primeiros elementos e não muito no último, ou pode ser até mesmo que você ignorar completamente as atividades práticas e, com isso, prejudique completamente o processo de aconselhamento.
As tarefas práticas são essenciais para o crescimento do aconselhado
A menos que você fosse um daqueles alunos muito estranhos, que adoram fazer as tarefas dadas pelo professor, presumo que você tenha ficado aliviado ao terminar seus estudos, chegar ao final da faculdade ou da pós-graduação, pois não teria mais tarefas acadêmicas e passaria a ser pago para executar seu trabalho! Embora pudesse ser empolgante pensar em ficar livre das tarefas acadêmicas, não há dúvida de que o seu processo de aprendizado teria sido prejudicado sem as tarefas de aplicação. Sem as tarefas e o esforço necessário para aprender individualmente, aplicando fora da sala de aula aquilo que era exposto pelo professor durante a aula, não teríamos nos beneficiado tanto dos anos de estudo. A aula é importante, mas a tarefa de aplicação também é. Isso vale igualmente para o aconselhamento. O encontro com o conselheiro é muito importante, mas a tarefa prática também é.
O que se deve ter em mente ao preparar as tarefas práticas para o aconselhado
1. A tarefa prática deve ser objetiva
Como tudo quanto fazemos, as tarefas práticas também devem ter um propósito (cf. Cl 3.17; 2Co 5.9). Todos os encontros de aconselhamento devem ter um objetivo claro em busca de ajudar o aconselhado a se tornar mais parecido com Cristo. As conversas não devem ser sem rumo, constituindo apenas um momento para o aconselhado desabafar ou para você falar sobre o que mais gosta de compartilhar. O objetivo do encontro deve ser focar no que é mais importante para o aconselhado processar em seu coração, reformular em sua maneira de pensar e mudar em seu comportamento para se tornar mais parecido com Cristo. É provável que sejam muitas as mudanças que precisam acontecer na vida do aconselhado, mas você deseja se concentrar inicialmente nas mais importantes.
A tarefa prática deve estar diretamente ligada a ajudar seu aconselhado a dar seu próximo passo no processo de crescimento. Tudo isso para dizer que a leitura da Bíblia, a memorização de versículos, as anotações diárias de seu aprendizado, a oração e a aplicação prática devem ter como foco favorecer as mudanças mais importantes naquele momento. Para cada atividade prática, você precisa ser capaz de responder de forma concisa e clara à seguinte pergunta: “O que espero que o aconselhado aprenda/mude com base nesta tarefa?” Se você não consegue responder de forma clara e concisa a essa pergunta, então é muito provável que aconselhado também fique perdido!
Um professor de matemática poderia dar exercícios de adição e subtração para sua classe, o que faria sentido para crianças do ensino fundamental. No entanto, se o professor der esse tipo de exercício para alunos de cálculo que estão na faculdade, seria apenas um passatempo! Não dê para os seus aconselhados tarefas práticas que não vão além de um passatempo!
2. A tarefa prática deve ser prática não apenas no nome
Muitos conselheiros têm dificuldade para dar tarefas que sejam práticas. Você pode ser habilidoso na atribuição da leitura bíblica, oração, memorização das escrituras e tudo aquilo que está diretamente ligado às disciplinas espirituais. No entanto, o que dizer dos passos práticos que ajudam as pessoas a unir a teologia à vida cotidiana? Minha experiência com muitos aconselhados é que eles têm certo conhecimento da Bíblia e de como parecer “religioso”. Portanto, atribuir somente leitura bíblica e oração, sem ajudar seu aconselhado a aplicar isso de modo prático na vida diária, pode reforçar uma ideia errada a respeito de Deus e de como o processo de mudança acontece.
Por exemplo, se você está trabalhando com um marido para ajudá-lo em seu casamento, memorizar 1Pedro 3.7 pode ser parte da tarefa: “Maridos, vocês, igualmente, vivam a vida comum do lar com discernimento, dando honra à esposa, por ser a parte mais frágil e por ser coerdeira da mesma graça da vida”. No entanto, junto com isso, deve ser dado algo mensurável e prático como:
Faça uma lista dos cinco principais desafios no relacionamento conjugal que você pensa que a sua esposa listaria. Em seguida, discuta essa lista com ela e pergunte se esses são os pontos que ela teria destacado. Com base na conversa com ela, atualize sua lista e escreva três maneiras pelas quais você pode agir para lidar com esses desafios.
Uma tarefa como essa, junto com a memorização de 1Pedro 3.7, inclui a parte de “aprendizado” do papel de um marido bem como a parte de “vida”, ou seja, agir realmente com base no que ele aprendeu. Portanto, se aquele marido voltar com o versículo memorizado, mas sem nenhum movimento em direção à aplicação de 1Pedro 3.7, você terá a oportunidade de ensinar/relembrar como o processo de mudança realmente funciona e por que é tão importante fazer a tarefa prática por inteiro (cf. Ef 4.22–24).
3. A tarefa prática deve ampliar a zona de conforto do aconselhado
A tarefa prática também deve ser elaborada para ampliar a zona de conforto do seu aconselhado e desafiá-los a dar um passo a mais. Alguns aconselhados acharão muito fácil memorizar e estudar as Escrituras ou acharão que fazer um diário dos acontecimentos da semana é algo muito simples. Outros acharão que orar é algo corriqueiro e fácil. Outros ainda podem ter a tendência de dar passos práticos, mas evitar a prática das disciplinas espirituais. Você precisa conhecer o seu aconselhado para que possa elaborar uma tarefa prática que o leve especificamente a ampliar a sua zona de conforto. Sem o aconselhado ser pressionado em direção ao que lhe é novo, não haverá crescimento em sua vida. Isso significa que você deve adaptar sua tarefa prática para cada aconselhado, o que exige esforço e trabalho adicionais de sua parte. Não adquira o hábito de usar apenas tarefas práticas “pré-fabricadas”, que você atribui a todos os seus aconselhados no mesmo formato e ritmo.[1]
4. A tarefa prática deve ser adequada à capacidade do aconselhado
Este ponto está ligado ao anterior. Embora a tarefa prática seja elaborada para pressionar propositalmente o aconselhado, às vezes você descobrirá que deu uma tarefa difícil demais. Para você, é certamente um desafio identificar e dar a quantidade certa de tarefas, mas é algo para o qual você deve pedir ajuda ao Senhor e que deve se esforçar para fazer. Se dermos tarefas demais e apenas afogarmos os nossos aconselhados, isso também pode atrapalhar o processo de crescimento.
Um exemplo simples seria ensinar alguém a nadar. Você pode jogar alguém na água sem qualquer treinamento. Algumas pessoas podem ser capazes de lutar e permanecer à tona. Para outros, isso pode levar ao afogamento em vez de aprender a nadar. Certifique-se de ajustar a quantidade de tarefa prática de acordo com a capacidade de cada aconselhado.
5. A tarefa prática deve ser verificada no encontro seguinte
Finalmente, quando você dá tarefas práticas, os aconselhados devem ser responsabilizados por executá-las. Se você tratar a tarefa prática como algo sem importância, não se surpreenda se o seu aconselhado também não a levar a sério. Percebo que muitas vezes os aconselhados podem chegar com problemas que desviam o encontro de aconselhamento do foco da semana anterior e da tarefas prática que deveriam ter completado. De vez em quando, pode acontecer. No entanto, se essa se tornar a realidade em todos os encontros, creio que você precisa avaliar se realmente está priorizando o que é mais importante e liderando os encontros de aconselhamento ou se o aconselhando está liderando o aconselhamento.
Conclusão
A tarefa prática é importante. Talvez você esteja lendo essas considerações e pensando consigo mesmo: “Uau, isso parece muito trabalhoso!” Posso lhe contar um segredo que não tão secreto? SIM, É MUITO TRABALHO! O Senhor não nos deu uma tarefa fácil na Grande Comissão quando nos chamou para ganhar pessoas para o evangelho e fazer discípulos fiéis de Cristo (Cf. Mt 28.19–20).
O aconselhamento é uma habilidade que precisa ser desenvolvida e constantemente trabalhada. Visto que Deus o comissionou para alcançar pessoas, ele também quer ajudá-lo a crescer para se tornar um conselheiro capaz para Sua glória.
“E tudo o que fizerem, seja em palavra, seja em ação [como dar tarefas práticas], façam em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” Cl 3.17
Pergunta para reflexão
Que recurso, hábito ou outro tipo de ajuda tem sido mais útil à medida que você procura crescer na habilidade de dar boas tarefas práticas?
[1] Isso não significa que você não possa reutilizar ou adaptar tarefas práticas de aconselhamentos anteriores, mas significa que você deve pensar cuidadosamente em cada tarefa com base na pessoa que está sentada à sua frente.
Greg Wetterlin é o pastor responsável pelo o ministério de homens na Faith Church em Lafayette, Indiana. os ministérios de aconselhamento bíblico na Faith Church, em Lafayette, IN. Ele também exerce um ministério de ensino em conferências de treinamento e no programa de mestrado MABC do Faith Bible Seminary.
Original: Growing Your Counseling Skills: Giving Good Homework
Publicado em Counseling with Confidence and Compassion – Faith Biblical Counseling
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico