Robert Jones
Por que devemos procurar erradicar nossa ira pecaminosa e substituí-la por expressões que agradam a Deus? Em certo sentido, devemos lidar com isso simplesmente porque Deus o ordena (Mt 5.21, 22; Ef 4.22-24, 26-32; Cl 3.8). Além disso, ao estudarmos as Escrituras, encontramos três razões convincentes.
Razão nº 1: A ira pecaminosa arruína nosso corpo[1]
Devemos lidar biblicamente com nossa ira por causa da nossa própria saúde. Muito antes do advento da medicina moderna, a Bíblia descreveu a conexão psicossomática — ou “coração-somática” — entre pecado e doença, e entre retidão e saúde.
Provérbios 14.29, 30 diz: “O homem paciente dá prova de grande entendimento, mas o precipitado revela insensatez. O coração em paz dá vida ao corpo, mas a inveja apodrece os ossos” (veja também os Salmos 32 e 38, e Provérbios 3). A estrutura hebraica sugere que a antítese “paciente/precipitado” é paralela à antítese “dá vida ao corpo/apodrece os ossos”. A ira danifica o corpo; a paciência e a paz promovem a saúde.
Séculos atrás, o pastor e teólogo puritano Richard Baxter escreveu sobre a conexão entre a ira e os problemas de saúde: “Observe também o quanto a ira é inimiga do próprio corpo. Ela favorece inflamações, desperta doenças e ativa a força da natureza, provocando em muitos doenças agudas e crônicas, e levando à morte”.
Em nossos dias, médicos e pesquisadores no campo da psicologia observaram a mesma correlação entre ira e doenças físicas, incluindo hipertensão e derrame, doenças cardíacas, úlceras gástricas e doenças intestinais. Certo homem me confessou, em meio à sua ira contra a esposa: “Estou desanimado. Não estou dormindo, estou perdendo peso e estou muito cansado física e emocionalmente. Meu trabalho está sofrendo… quero que minha caminhada com o Senhor seja restaurada e que essas dores de estômago desapareçam”.
Ele era um testemunho vivo (ou meio vivo!) de Provérbios 14. Perda de sono, perda de peso, cansaço e dores de estômago acompanhavam sua ira.
Razão nº 2: A ira pecaminosa destrói os relacionamentos interpessoais
Uma segunda razão por que lidar biblicamente com nossa ira é que ela fere e distancia os outros de nós. Ela atrapalha os nossos relacionamentos e nos impede de amar nosso próximo.
Em Efésios 4.26–32, Paulo nos chama para abandonarmos a ira. O que esses mandamentos têm a ver com os relacionamentos interpessoais? Eles surgem nos contextos dos relacionamento “uns com os outros” (Ef 4.1-6; 4.25-5.2. Veja também Cl 3.5-17; Tg 3.13-4.12). O fracasso em desfazer-se da ira impede a unidade, o funcionamento e o crescimento adequados do corpo de Cristo. Ela divide e fere a igreja do Senhor. Talvez nenhuma frase da Bíblia ilustre esse ponto com mais força do que Lucas 15.28: “O filho mais velho encheu-se de ira, e não quis entrar”. Em sua ira, ele se distanciou de seus amigos e familiares.
A ira nos relacionamentos é uma realidade diária para aqueles de nós que aconselham colegas, amigos, cônjuges, pais e filhos. Os filhos respiram a fumaça carregada de ira do relacionamento de seus pais. Lamentamos tantos relacionamentos rompidos.
Razão nº 3: A ira pecaminosa entristece e ofende nosso Deus
As duas razões acima – saúde e paz nos relacionamentos – devem nos motivar a lidar biblicamente com a nossa ira. No entanto, elas não são suficientes. Existe uma terceira razão, e ela é a mais importante: devemos abandonar a nossa ira para não entristecer a Deus e para honrar e agradar a Deus.
Em Efésios 4.31, o apóstolo Paulo nos diz: “Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade”. Por quê? No contexto, no versículo 30, Paulo escreve uma ordem que precede a ordem sobre a ira: “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção”. Em outras palavras, conectando os versículos 30 e 31 vemos que a pior consequência da ira não é uma colite nem um divórcio, mas entristecer o próprio Deus!
A passagem paralela em Colossenses 3.5-11 transmite as mesmas verdades. Paulo ordena que os crentes abandonem todas as formas de ira (v. 8) porque elas convidam a ira de Deus contra os que vivem na desobediência (v. 6) e porque são incompatíveis com a nova vida que Deus nos deu (vv. 7, 10, 11).
Talvez a passagem que mostra mais claramente esta terceira razão seja Tiago 1.19, 20. O apóstolo nos chama a ser “prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se”. Por quê? Não porque causa infartos e divórcios, embora possa causar ambos, mas porque desonra, desagrada e ofende a Deus. Conforme Tiago escreveu, “pois [uma preposição explicativa no grego] a ira do homem não produz a justiça de Deus” (v. 20).
Para o cristão, o pior resultado da ira é que ela desonra, desagrada e ofende o nosso Deus. A razão principal para uma mudança em obediência à Bíblia, substituindo a ira por expressões que mostram nosso amor a Deus, diz respeito ao nosso relacionamento com Deus.
Deixe a Palavra de Deus controlar suas motivações
Quando pesquisei sobre a ira para fazer minha tese de doutorado que, mais adiante, resultou no livro Ira: arrancando o mal pela raiz, li vários livros sobre ira escritos por terapeutas e psicólogos seculares e cristãos. Embora já fosse esperado que os escritores seculares omitissem Deus, fiquei triste com o número de escritores cristãos que basicamente fizeram o mesmo. De acordo com esses conselheiros, a ira é algo ruim por aquilo que ela causa em minha saúde e meus relacionamentos, mas não no meu relacionamento com Deus. O motivo para mudar, por sua vez, torna-se facilmente egocêntrico: agradar a mim mesmo ou aos outros, e não ao meu Criador e Redentor. Esses livros cristãos sobre a ira dão pouco ou nenhum conselho sobre a necessidade de se arrepender por estar entristecendo o Senhor. A presença de Deus está visivelmente ausente nessa literatura.
Que Deus nos ajude a lidar com a nossa ira não apenas para nosso benefício ou em benefício dos nossos relacionamentos, mas por causa de quem Ele é e porque devemos adorar, honrar e agradar em primeiro lugar a Ele. Não existe razão maior.
Perguntas para reflexão
1- Por que você acha que os cristãos devem se esforçar para abandonar sua ira pecaminosa?
2- Teste na prática o assunto deste artigo perguntando a alguns de seus amigos cristãos: “Qual é a maior razão pela qual as pessoas precisam lidar com seu problema de ira?” Veja como suas respostas se alinham às três razões que foram dadas aqui. Converse com eles sobre não negligenciarmos o foco central que a Bíblia coloca em Deus.
[1] As três razões foram adaptadas do capítulo 10 do livro Ira: arrancando o mal pela raiz (São Paulo: Nutra Publicações).
Robert Jones é professor de aconselhamento bíblico no The Southern Baptist Theological Seminary em Louisville, KY. Ele também atua como professor visitante em vários seminários nos Estados Unidos e no Brasil. É formado pela Trinity Evangelical Divinity School (M.Div.), pelo Westminster Theological Seminary (D.Min.) e University of South Africa (D.Theol.). É membro da Association of Certified Biblical Counselors (ACBC), conselheiro certificado pelo Peacemaker Ministries e autor de vários livros já traduzidos para o português.
Original do artigo: 3 Compelling Reasons Why We Must Deal with Our Sinful Anger
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico
Para aprender mais com Robert Jones e descobrir a raiz da nossa ira