O mal não pode ficar impune − o mundo exige justiça. Não só o mundo exige justiça, mas Deus é plenamente santo e justo − Ele exige justiça para o pecado. Sim, quando a dura realidade do pecado nos atinge, a justiça de Deus requer um castigo, mesmo porque o pecado cometido contra nós constitui uma ofensa primeiramente contra Ele. Este é apenas o começo.
Para os cristãos que compreendem e aceitam o ponto central do Evangelho, a boa nova é que Cristo pagou pelos nossos pecados. Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, e todo aquele que crê no Filho não receberá o castigo justamente merecido pelo pecado (cf. Jo 3.16). O perdão não elimina a possibilidade de uma disciplina amorosa de Deus na vida do crente que comete pecado.
E Deus pode ocasionalmente nos usar como agentes dessa disciplina, que é aplicada em amor e tem por propósito restauração. No entanto, a penalidade do pecado, que exige justiça, está completamente paga em Cristo.
Como aplicar esta verdade quando o pecado se manifesta no relacionamento conjugal? Rick Thomas escreve sobre este assunto em Who pays for your spouse’s sin? Your spouse or Christ?.
Suponhamos que minha esposa, Lúcia, peque e eu fique irado com ela em resposta ao seu pecado. Nesse caso, que infelizmente acontece em nossa casa de vez em quando, eu assumo a responsabilidade de puni-la pelo seu pecado e passo a atuar como “Deus”, exigindo iradamente a justiça e perdendo de vista completamente o Evangelho. Cristo tomou sobre si a ira do Pai, morreu e ressuscitou para oferecer completa salvação a todos aqueles que crêem sinceramente nisso. Lúcia foi regenerada pela graça de Deus, já há muitos anos. Seu pecado passado, presente e futuro foi pago por causa do Evangelho. Quando eu respondo com ira ao seu pecado, eu faço aquilo que Cristo nunca faria a ela: eu a castigo.
Sacrifício ou castigo?
“Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra” (Ef 5.25-26).
Cristo não me faz pagar pelos meus pecados. Ele deu a Sua vida por mim em sacrifício pelos meus pecados. Se eu realmente compreendo o Evangelho, no momento em que a minha esposa pecar, a minha resposta deve ser um sacrifício motivado pelo Evangelho em vez de uma punição egoísta. Ou seja, quando ela pecar contra mim, ao invés de escolher a ira (castigo) como uma resposta ao seu pecado, devo escolher uma atitude de perdão (sacrifício).
Muitas vezes, porém, eu escolho a ira e, quando o faço, minha escolha desvirtua o nosso relacionamento. Em vez de eu servir a minha esposa a exemplo de Cristo, e ajudá-la a se aproximar de Cristo, eu complico a situação por pecar em resposta ao pecado dela. Eu assumo o lugar de juiz e, desta forma, sinto-me no direito de fazê-la pagar por seu pecado. Esta é uma deturpação do Evangelho, que zomba da morte de Cristo. Em essência, eu digo a Cristo:
…………Não me importo que o Senhor morreu pelos pecados da minha esposa. Ela pecou contra mim e eu vou passar por cima daquilo que o Senhor fez na cruz, e fazê-la pagar agora. O pecado exige um castigo e eu sinto que seria melhor se ela recebesse minha punição ao invés de deixá-la experimentar o poder purificador do Evangelho. Sim, o Senhor foi ferido pelas iniquidades dela, mas agora sinto a necessidade de feri-la pessoalmente por essas iniquidades (cf. Is 53.6).
No entanto, quando eu aplico de modo prático o Evangelho por ocasião de um pecado da minha esposa, eu vivo de acordo com o ensino de Paulo em Efésios 5.25-26. Nosso relacionamento não é desvirtuado pelo meu pecado, e minha esposa é santificada, purificada e lavada pela Palavra de Deus. Ao invés de ser forçada por mim à santificação, por meio do medo e da intimidação, ela experimenta em sua vida a liberdade, o favor e o poder da Cruz, onde a purificação verdadeira acontece.
Meu alvo é que a minha esposa caminhe em santidade. No entanto, quando eu a puno em lugar de perdoar o seu pecado, eu dificulto o caminho para que ela alcance justamente aquilo que eu mais desejo para ela
Você pune o seu cônjuge?
É hora de testar o seu cristianismo. Quando o seu cônjuge peca contra você, a sua reação é de castigo ou de sacrifício? Suponhamos que você, esposa, descubra que seu marido está viciado em pornografia. O Evangelho é real nesse momento? O que rege o seu coração quando ele peca: o desejo de puni-lo ou o desejo de ajudá-lo para que ele vá a Cristo e encontre perdão e mudança?
Quando seu cônjuge desaponta pela enésima vez, qual é a motivação principal do seu coração? Você pode descansar em Deus, o Juiz, ou você se sente na obrigação de ser juiz na vida do seu cônjuge?
Quando você mesmo peca… mais uma vez… você se sente tentado a punir a si mesmo por meio de um moralismo rigoroso, ou você se apropria do perdão concedido pela obra de Cristo na cruz?
Querida Igreja, se o nosso Evangelho faz sentido, então ele deve ser real no momento do nosso pecado, seja o meu ou o seu pecado. Caso contrário, anula-se o propósito redentor do sacrifício de Cristo.